… as palavras fogem sem prévio aviso (Nirlei Oliveira)

Lidamos com as palavras, nós, escritores, com um amor surgido desde cedo. No entanto, há momentos em que as palavras fogem sem prévio aviso. Como pássaros arredios, batem asas e fogem de nossas gaiolas em formato Times New Roman. Nossas mentes não conseguem as seduzir com comidinhas de letras apetitosas e água fresca de linhas retas. Desdenham de nosso apreço, tripudiam de nosso desejo em revelá-las belas e faceiras para serem lidas com prazer para o descobrimento de mundos e personagens.
Isso, quando não nos enviam a requisição de uma Carta de Aviso Prévio, se demitindo de nossa empresa de montagem de histórias, depois de greves em que fazem paralizações sem reivindicações precisas, apenas para nos atrapalhar, como se não gostassem de nossa gestão. Querem nos confundir. Dão sinais de acordo, mas desistem de diálogos cara a cara na mesa de negociações. São veículos de expressão tiranas. Sabem da importância que têm para quem precisa delas como um náufrago de numa ilha deserta precisa de um barco para voltar à civilização.
O que sei é que um dia elas também sentirão saudade de quem as ama. Voltarão sôfregas por serem utilizadas no afazer de romances, poemas, narrações, prosas, descrições, enfim serem escritas. Pousadas na tela ou no papel, baterão asas apenas na imaginação. Migrarão para livros e computadores, páginas. Gerarão emoções, inflaram sentimentos, provocarão efeitos desejados e insuspeitos em quem vier as ler. Palavras são difíceis de lhe dar, mas quem sofre por elas em bem dizê-las, as bendirão durante toda a sua existência…
Participam: Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Suzana Martins / Lunna Guedes


