#TBT

Nesta quinta-feira, dia internacionalmente conhecido nas redes sociais para a postagem de #TBT, mostro aqui alguns registros esparsos no tempo. A expressão “TBT“, é a abreviação, em inglês, de “Throwback Thursday” ou, em tradução livre, “quinta-feira da nostalgia”. São, como serão estas aqui, imagens que nos remetem a comentários sobre a vida — que aprendemos a identificar como algo quase indecifrável enquanto a vivemos sem sabermos o fim em si. A não ser que tenhamos fé que assim não seja. Fé prova a existência da fé, mas não o que o objeto da fé trata. Criar algo que possivelmente não tenha alguma finalidade é de uma teimosia insanamente admirável…

BELO HORIZONTE EM SP (2015)

Peço que me desculpem o abuso, mas não posso deixar de partilhar com vocês a visão que tive do final da tarde de hoje, um sábado do início de inverno de 2015. Esta é uma São Paulo de belos horizontes, quando nos é dado presenciar. Boa noite!

COCÔ-ARTE (2012)

Quem vive com cachorros, sabe que nem tudo são flores no relacionamento com esses seres especiais. Como são artistas em vários aspectos malabaristas, atores, palhaços e produtores de arte muitas vezes eles têm rompantes criativos. Hoje, logo de manhã, contemplei essa arte das minhas cadelas em um lugar que deveria estar vedado ao acesso delas, já que colocamos um gradil que deveria impedi-las de acessar (esqueci de dizer que também eram acrobatas). Chamei essa criação de cocô-arte, mesmo porque, arte cocô está cheia por aí…

SANGUE NA TARDE (2016)

O inverno anuncia tardes
derramadas em delírios…
Mal podemos perceber
que o tempo seco nos arranca
a umidade da pele
que se arrepia ao toque do frio…
Os olhos desejam
que se torne espelho a beleza
que se apresenta,
enquanto vemos que a paixão
do Sol pela Terra termina
vertida em sangue…

O ESTIVADOR (2016)

Esta é uma homenagem aos trabalhadores do cais, que carregaram nas costas a riqueza do País. Esta estátua se encontra em um trecho do longo percurso junto aos cais do Porto de Santos. Normalmente relacionado ao trabalho em embarcações, “estiva” refere-se à primeira camada de carga que se mete em um navio, e que é geralmente a mais pesada. Em decorrência disso, o trabalho físico de transporte de toda a sorte de objetos — sacas, fardos, móveis, madeira, ferro, etc — acabou por designar a atividade-profissão de “estivador”.  Durante séculos, seres escravizados ou pagos à soldo, embarcaram a riqueza sempre mal distribuída por todas as nações do mundo. Eventualmente ainda realizada em lugares sem o maquinário adequado, a estiva me é bastante próxima, já que de forma semelhante, carregamos, eu, meu irmão e outros, equipamentos de sonorização e iluminação para a montagem de apresentações evanescentes, como se fossem eventos mágicos que só se confirmam se filmados e/ou fotografados. Provas totalmente refutáveis, ainda mais que a memória se dilui ao longo do tempo…

EM LUA, ARADO (2017)

Céu enluarado,
vasto campo arado
de estrelas enterradas nas nuvens…
Um dia, brotarão em luz
as sementes de um tempo
limpo,
sem dolo e má intenção…
Não, hoje…

DANÇANDO, SEMPRE (2014)

Voltando da academia, pensando sobre o atual momento político, as eleições de domingo e sobre o destino de nosso país, concluí que vamos dançar. Todos! Decidi que vou aprender balé clássico. Se for para dançar, que seja com estilo e arte, praticando um “arabesque par terre”.

Exercitando A Paciência*

Paciência

Como todos os dias da semana, coloquei o meu celular para despertar às 5h30 da manhã para ir à faculdade. Quando tocou o alarme, o desliguei e virei de lado na cama. Só despertei 42 minutos depois. Sentei na beira do colchão e, como me sentia de bom humor, exclamei baixinho: “Paciência!… Fazer o que?…”.

Todos sabem que, por um desses fenômenos cotidianos ainda não comprovados cientificamente, o tempo corre mais rápido na parte da manhã. Segundo a minha avaliação pessoal, sentimos passar apenas um segundo a cada segundo e meio do relógio. Mesmo sabendo disso, no momento em que me levantei, decidi não acelerar os meus movimentos. Urinei, fiz a barba e tomei banho de maneira lenta e articulada. Ao vestir o uniforme da faculdade, não me importei com uma mancha na gola da camiseta branca. Desci para o café da manhã e liguei a televisão para ver o noticiário matutino. 6h50. Normalmente, a essa hora, eu já deveria estar seguindo para Santana.

Graças ao noticiário local, fui informado que capturaram o quarto assassino da dentista incinerada em São Bernardo do Campo, previsões sobre o tempo e o volume do trânsito confuso da capital. Soube que um simples carro parado na Marginal Pinheiros, junto à Ponte João Dias, tornara o tráfego costumeiramente lento ainda mais lento. Desejei muita paciência aos motoristas de todas as latitudes da cidade. Ainda antes de sair, tive conhecimento da morte do grande Paulo “Ronda” Vanzolini, biólogo, pesquisador e professor da USP, autor de uma frase que serve para qualquer ocasião – “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima!” – em uma de várias de suas canções famosas. 7h10.

Logo que cheguei ao ponto, encostou o meu ônibus e trinta e cinco minutos depois, subia as escadas para a plataforma do Metrô Santana. Pelos alto-falantes, ouviu-se: “Excepcionalmente, os trens estão circulando mais lentamente e com tempo maior de parada, devido à presença de usuário na via férrea da Estação Conceição!”… Paciência… Quando cheguei à plataforma de embarque, deparei-me com uma massa enorme de passageiros à espera do próximo trem. Percebi que não embarcaria tão cedo. Mais tarde, busquei me inteirar sobre o assunto e soube que o usuário mencionado caíra e fora resgatado, não havendo maiores detalhes sobre o seu estado de saúde. Desejei sorte ao companheiro de jornada.

Coloquei-me em direção à uma das baias de embarque, feito aquelas que direcionam o gado para o matadouro. Entre o numeroso grupo de pessoas, chamou-me a atenção um casal de idosos que externavam a sua preocupação em serem atropelados pelo povaréu. Antecipavam uma preocupação maior quando chegassem à Estação da Sé. Decidi intimamente protegê-los com o meu corpo. A mulher antecipou-se ao homem, atitude que gerou uma exclamação em tom de reprovação por parte dele: “Cuidado!”. Por sua experiência, ele já devia saber que as mulheres são tão mais destemidas e aquela senhora, que lembrava a minha mãe, além de audaciosa, em sua juventude devia ter sido uma mulher muito bonita. Ainda mantinha claros os belos olhos azuis. Como eu esperava, ela logo acabou puxando o seu companheiro para dentro do próximo trem. Como eu não esperava, não houve atropelamento. Senti que os demais passageiros estavam tão pacientes quanto eu. 8h10.

Embarquei na terceira composição e me senti apertado tanto quanto em outras oportunidades. Preso entre outros corpos, só restava me distrair com a TV Minuto, disponível nos vagões do metrô. Entre as manchetes, lembro-me de “Posse Manchada”, que relatava um tiroteio na posse do Primeiro Ministro italiano, com dois policiais feridos. Houve ainda e o relato da queda de uma casa em Reims (França), informação arrematada pela frase final – “duas pessoas estão mortas”. “Que grande notícia!” – pensei. “Finalmente chegaram a conclusão que a morte é apenas um estado, sendo, portanto, uma condição passageira”… Eu, como passageiro, me senti encantado.

Uma outra pequena reportagem, a seguir, corroborava a nossa situação de seres que estão vivendo em um ambiente em eterno movimento. Versava, com imagens e legendas, sobre a Serra do Cipó, em Minas Gerais, que está situada em um dos sítios mais antigos do Brasil, com cerca de 1,7 bilhão de anos. Nos primórdios, aquele incrível conjunto de vales verdejantes, elevados montanhosos que chegavam a 1.700m de altitude e lindas quedas d’água esteve embaixo da linha do mar.

Ainda antes de sair do vagão, cheguei a ler no horóscopo midiático as dicas para Libra, o meu signo: “Você está vivendo sob intensa pressão quanto á manutenção de seus conceitos. Aprenda a ouvir a opinião dos outros!”… ????… Que “conceitos”? Que “outros” eu deveria ouvir? Em que ocasião?… Bem, paciência! Bem sei que não existe resposta pronta para nada. 8h35.

Cheguei ao Paraíso. Ao caminhar por mais cinco minutos até o prédio da faculdade, mesmo sabendo que aquela aula era preciosa porque seria a última que teríamos com os aparelhos de medição e avaliação física antes da prova prática, procurei não me afobar. Chegando ao andar do laboratório encontrei a turma reunida junto à porta, cercando um funcionário que, ajoelhado, mexia no trinco. Soube, então, que se perdera a chave da sala e a cópia estava com um segurança que chegaria apenas à tarde. Recebi aquela notícia com a mesma paciência que decidi exercitar durante aquela parte da manhã. Resolvido o problema, dez minutos depois, entramos para a aula.

Sabia que o dia poderia ainda trazer muitos outros acontecimentos, mas naquele momento percebi que a minha atitude inaudita desde que levantei da cama encontrara a oportunidade quase imediata de ser recompensada, além de deixar o meu humor bem mais leve. Talvez fosse o início da prática da ciência da paz que tanto buscava, mesmo que em meio à agitação que vivia. Quem sabe?…

*Texto produzido em abril de 2013, quando cursava o bacharelado da Faculdade de Educação Física da Universidade Paulista (UNIP).

BEDA | Princesas Dominicais

Princesas Dominicais
Princesas e súditos…

Era uma vez… fizemos o caminho inverso. Ao contrário de estarmos voltando de um evento, estávamos, logo cedo, nos dirigindo ao trabalho, após poucas horas de sono. Foi quando a vi, à luz do domingo a clarear.

Por ser um dia espiritualmente diferente, eu e o meu irmão, sócios em nossa pequena empresa de locação de equipamentos de luz e som, sabemos que quase sempre podemos nos deparar com alguma cena inusitada – bêbados urrando contra a lua tardia, acidentes automobilísticos que, mesmo sem vítimas, nos surpreendem pelas posições adotadas pelos carros que se desentenderam com os seus condutores – estes, por algum motivo, parecem querer redefinir as leis da física e os carros, que segundo Platão, são perfeitos na ideia, acabam por não concordar…

Ondas de corredores de rua e ciclistas assumem as avenidas que, em dias “úteis”, estão ocupadas por filas de carros sempre mais lentos, encalacrados que ficam nos permanentes congestionamentos. Seres notívagos se encaminham para os seus caixões, carregando seus restos mortais após os desvarios cometidos sob as luzes artificiais ou às escuridões providenciais. Juntam-se aos moradores de rua, que vêem os seus espaços ocupados por iguais dissonantes.

Ocasionalmente, princesas, que sobrevivem à meia-noite e não voltam a virar gatas borralheiras, surgem nas esquinas vendo o movimento crescer em intensidade. Vestidas ainda com os trajes reais, posam ao lado de príncipe e súditos. Do veículo que estou, a saudei silenciosamente o seu momento ínfimo de imperatriz sob o nosso olhar reverente de pobres mortais.

Participam do BEDA:  Claudia — Fernanda — Hanna — Lunna — Mari

BEDA|Projeto Fotográfico 6 On6 |As Cores da Manhã

1 - As Cres da Manhã
Manhãs escuras…

Não sou de manhãs. Talvez, de manhas… e manias. Gosto das auroras assim como dos crepúsculos. Porém, os últimos, os tenho mais presentes porque minha atividade me obriga. Finda por ser minhas manhãs estradeiras, madrugadoras – antes de aparecer a luz do sol – lunares… Cores difusas, mescladas com as luzes artificiais – sonhos de olhos cansados.

2 - As cores da manhã
Enfeites e buracos…

Por vezes, calha de eu acordar mais cedo. Quando isso acontece, geralmente não ponho a minha cara logo de cara para fora. Mas aconteceu algo diferente outro dia, em julho. Recém terminada a Copa, a Periferia amanhecia com a perda de mais uma ilusão. Tenho por mim que o povo já não se deixa levar mais pelo ufanismo provocado pelo futebol e outros acontecimentos. Mas, de vez em quando, se permitem brincar de realidade alternativa – alegria e despreocupação com o que há de vir. O porvir daquele dia amanheceu menos iludido, com enfeites dispersos aqui e ali, os mesmos que demoraram para serem colocados, por desconfiança. Quando começaram a acreditar, o sonho acabou, Manhã enfeitada de tristeza luminar…

3-as-cores-da-manhc3a3.jpg
Seres solares…

O Sol nasceu para todos. Nossos companheiros de jornada apenas percebem que a luz os aquece. Para o Sol, não lhes dão nome. Apenas sentem que aquela energia os acaricia como se fosse uma mão amiga, na passagem da escuridão para a claridade. Os humanos da cidade mal têm tempo de absorver essa força matinal. Apenas a rechaçam com suas proteções, se fecham em seus transportes para irem ao trabalho, ávidos para respirarem ar condicionado.

4 - As cores da manhã
Amarelo invasor…

Algumas vezes, ainda que não queiramos, as manhãs invadem nossas janelas, feito ladrões do sono. Ainda que não queiramos acordar, certas intromissões são bem-vindas. Como nesta cena, em que os raios solares se assemelham a dedos querendo nos tocar. Banham galhos e folhas de luz no percurso em que desbravam vales, montanhas… Mas certos relevos são quase intransponíveis, principalmente quando a nossa visão está encerrada entre quatro paredes.

5 - As Cores da Manhã
Cores refletidas…

Tem sido comum chegar em casa no começo da madrugada e partir poucas horas depois, para trabalhar. Surpresas acontecem e procuro estar atento, com os sentidos alertados. O jogo de espelhos da vida sempre se faz presente, principalmente em uma cidade como São Paulo. Metafórica ou concretamente. Já acompanhei o sol se repartir em prédios e carros. Certa vez, vi o Sol a ser carregado em um caminhão que levava vidros. Atualmente, um muro envidraçado acompanha e separa a reta do asfalto com a Raia Olímpica da USP. Ainda inconcluso, atacado por “vândalos ideológicos”, têm estampado em suas faces figuras de pássaros aprisionados eternamente em pleno voo. A intenção é impedir que pássaros reais colidam contra ele. Enquanto isso, o Sol nasce duas vezes por ali…

6 - As cores da manhã
Cores renascidas…

Mais do que me permitir, eu me esforço por nunca perder o olhar pessoal sobre as coisas ao meu redor. Sinto que nunca é menos do que de espanto a expressão de meu olhar. A aurora é o momento de renascimento das cores, depois da noite pincelar telas escuras. Matizes de luz transpõem para as minhas pupilas bicolores as manhãs que se fazem tempo de reviver. Viajo para o centro do sistema solar e sinto o mundo orbitar em torno de mim. A comunhão não pode demorar muito. O espanto não deve ser permanente. Preciso sobreviver.

Participam do  BEDA: Claudia — Fernanda — Hanna — Lunna — Mari

Participam do 6 On 6: Claudia Leonardi  | Fernanda Akemi Maria Vitoria |MarianaGouveia | Mari de Castro | Lunna Guedes