
Não sou de manhãs. Talvez, de manhas… e manias. Gosto das auroras assim como dos crepúsculos. Porém, os últimos, os tenho mais presentes porque minha atividade me obriga. Finda por ser minhas manhãs estradeiras, madrugadoras – antes de aparecer a luz do sol – lunares… Cores difusas, mescladas com as luzes artificiais – sonhos de olhos cansados.

Por vezes, calha de eu acordar mais cedo. Quando isso acontece, geralmente não ponho a minha cara logo de cara para fora. Mas aconteceu algo diferente outro dia, em julho. Recém terminada a Copa, a Periferia amanhecia com a perda de mais uma ilusão. Tenho por mim que o povo já não se deixa levar mais pelo ufanismo provocado pelo futebol e outros acontecimentos. Mas, de vez em quando, se permitem brincar de realidade alternativa – alegria e despreocupação com o que há de vir. O porvir daquele dia amanheceu menos iludido, com enfeites dispersos aqui e ali, os mesmos que demoraram para serem colocados, por desconfiança. Quando começaram a acreditar, o sonho acabou, Manhã enfeitada de tristeza luminar…

O Sol nasceu para todos. Nossos companheiros de jornada apenas percebem que a luz os aquece. Para o Sol, não lhes dão nome. Apenas sentem que aquela energia os acaricia como se fosse uma mão amiga, na passagem da escuridão para a claridade. Os humanos da cidade mal têm tempo de absorver essa força matinal. Apenas a rechaçam com suas proteções, se fecham em seus transportes para irem ao trabalho, ávidos para respirarem ar condicionado.

Algumas vezes, ainda que não queiramos, as manhãs invadem nossas janelas, feito ladrões do sono. Ainda que não queiramos acordar, certas intromissões são bem-vindas. Como nesta cena, em que os raios solares se assemelham a dedos querendo nos tocar. Banham galhos e folhas de luz no percurso em que desbravam vales, montanhas… Mas certos relevos são quase intransponíveis, principalmente quando a nossa visão está encerrada entre quatro paredes.

Tem sido comum chegar em casa no começo da madrugada e partir poucas horas depois, para trabalhar. Surpresas acontecem e procuro estar atento, com os sentidos alertados. O jogo de espelhos da vida sempre se faz presente, principalmente em uma cidade como São Paulo. Metafórica ou concretamente. Já acompanhei o sol se repartir em prédios e carros. Certa vez, vi o Sol a ser carregado em um caminhão que levava vidros. Atualmente, um muro envidraçado acompanha e separa a reta do asfalto com a Raia Olímpica da USP. Ainda inconcluso, atacado por “vândalos ideológicos”, têm estampado em suas faces figuras de pássaros aprisionados eternamente em pleno voo. A intenção é impedir que pássaros reais colidam contra ele. Enquanto isso, o Sol nasce duas vezes por ali…

Mais do que me permitir, eu me esforço por nunca perder o olhar pessoal sobre as coisas ao meu redor. Sinto que nunca é menos do que de espanto a expressão de meu olhar. A aurora é o momento de renascimento das cores, depois da noite pincelar telas escuras. Matizes de luz transpõem para as minhas pupilas bicolores as manhãs que se fazem tempo de reviver. Viajo para o centro do sistema solar e sinto o mundo orbitar em torno de mim. A comunhão não pode demorar muito. O espanto não deve ser permanente. Preciso sobreviver.
Participam do BEDA: Claudia — Fernanda — Hanna — Lunna — Mari
Participam do 6 On 6: Claudia Leonardi | Fernanda Akemi | Maria Vitoria |MarianaGouveia | Mari de Castro | Lunna Guedes
Coisa mais linda seu projeto!
As fotos ficaram maravilhosas e as legendas também.
Amo as manhãs e adorei suas cores…
Acho o muro da USP lindo e muito fofo este ser solar.
Bjs
Parei no sol na janela e ali fiquei, depois de alguns dias sem poder lidar com a luz, observar um ponto brilhante e sentir paz, é uma delicia. Excelente participação, meu caro.
bacio
Grazie tanti, Lunna! Sabe que tenho uma excelente orientadora…