BEDA | Amarelo Piscante

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Amarelos naturais e artificiais

Serei apenas eu que viajo em alguns conjuntos de palavras que são de uso comum, mas são ao mesmo tempo portadoras de estranha magia?

Outro dia, ouvia declarações dadas pelo diretor do Departamento de Trânsito sobre a paralisação de parte dos semáforos de São Paulo, após as chuvas intensas de final de Julho e início de Agosto. Expunham dados técnicos tanto para explicar os que paravam de funcionar totalmente como para os que entravam no modo “amarelo piscante”. Pronto! Bastou ouvir aquela locução para eu começar a variar.

A cor amarela a piscar sincopadamente, como se fosse o sol da aurora ou fim de tarde, a transformar o mundo todo em uma imensa boate. Aliás, que mágica a palavra: “boate”!… Gosto de proibido quando adolescente, tanto quanto as palavras “proibido” e “adolescente” são incríveis. Menino, ansiava por ser adolescente. Todos sabemos o quanto estar nessa fase é quase mortal para quase todos… e mortal para outros poucos. Sobrevivi, mas não sem traumas – que linda palavra: “trauma”.

No mesmo noticiário, as novas-antigas sobre o trânsito diziam respeito aos engarrafamentos do dia. Oh… Que feitiçaria transformou o ato de encher garrafas – palavra sensacional – em episódio de afunilamento (ah… funil!) de tráfego? E os temíveis engavetamentos? Acidentes em que imagino carros a serem dispostos em gavetas gigantes, guardados para sempre…

Da mesma maneira, locuções antigas como “bater um fio” ou o até hoje popular “cair a ficha”, remontam, os dois, aos antigos telefones fixos com fio privados e públicos. Apesar do desuso deste último recurso, “cair a ficha” comunica uma ideia óbvia para a maioria das pessoas. Quando no início indicava apenas que houvera contato com o outro lado da linha… Ah!… “Linha”!

E há a importante “ponta firme”, o estranho “zero bala” e o acintoso “viral”. Aliás, discorrerei especialmente sobre o derivativo “viral” na próxima crônica. Quando nos encantamos com as palavras, torna-se difícil não parar de viajar (ah, que lindo é “viajar”!) a cada vez que as utilizamos para a construção de um texto.

Aliás, “palavra”, “verbo” formam uma sinonímia perfeita para objetivar o surgimento da vida… Ah, “vida”…

 

Participam:  Claudia — Fernanda — Hanna Lunna — Mari

10 thoughts on “BEDA | Amarelo Piscante

  1. Eu tinha uma coisa com as palavras quando pequena pq eu não conseguia abstrair. Por exemplo, lembro de um outubro que minha mãe ia me levar pra votar com ela e daí ela disse pra termos cuidado com os “boca de urna”. Daí ela não disse mais nada. Eu, muito imaginativa, já pintei na mente uma urna antiga dessas de votos, enorme, com as bocas abrindo e fechando e dentes gigantescos….salivando…Eu ficava intrigada: mas pq deixariam um monstro desses ficar solto assim num dia tão importante? Eu nunca esqueci dessa história. É bom ter uma coisa com as palavras

    1. Exatamente, Moça! As palavras são mágicas e ter imaginação ajuda bastante a “variarmos”. Expressões estranhas me acompanham desde garoto. Certa vez, perguntei para uma professora (que não soube responder) o que eram frutas “cítricas”. Eu as confundia com “criticas” e assim por diante. Imagina o quanto era incrível viver…

  2. Em italiano temos algumas gírias deliciosas, dentre as minhas favoritas está a a ‘non si piove’, que em português seria algo como ‘não se fala mais nisso’ e ‘piove sul bagnato’, que seria algo como ‘chover no molhado. Sempre que ouvia a primeira, olhava para o céu e no segundo, imaginava poças no chão e a chuva caindo forte. Ainda hoje, acho que faço isso.
    No português, eu sempre me divirto com os legumes. Batata. Pepino e as frutas. Sempre que ouço Marco dizer ‘mas que abacaxi’ eu imagino um fatiado no prato. kkkkkkkkkk

    bacio

    1. Lunna, e “zero bala”? Que sensacional dito por uma italiana aquilo me pareceu! É comum falarmos sobre legumes, além do frutuoso “descascar um abaxi”, temos o”vá descascar batatas!” – o antigo mandar “às favas!” e dizer que tem “um pepino para resolver”, sobre algo difícil.

      1. Mas esse ‘zero bala’ não produz imagem alguma em minha mente. Marco diz e eu repito, sei em que momento usar, mas não sei o que significa. Não faz sentido algum. aff

        coisas da convivência!

      2. “Zero bala” significa “novo em folha”, Cristina. Por aqui, no Brasil, todos entendem dessa forma. Como surgiu? Não sabemos. Apenas usamos essa expressão, sem sabermos porquê.

  3. Meu pai fala zero bala…aliás ele tb fala um bucado de expressões nordestinas como se fosse um dicionário ambulante.

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