Em 2020, vivíamos a Pandemia de Covid-19. Uma das precauções necessárias para que o vírus dessa síndrome gripal não se multiplicasse era o isolamento social. O meu trabalho, que envolve aglomerações populares, que é o de eventos, foi o que mais sofreu, tendo as suas atividades obstadas. O que eu concordei. Principalmente porque sabia que era uma providência necessária para impedir que a doença prosperasse.
No Rio, o prefeito da época em que postei a frase acima era o Sr. Marcelo Crivella, do Republicanos. Pastor evangélico, alinhado com as ideias do então presidente, que prefiro chamar de Ignominioso Miliciano, que via no distanciamento social algo que prejudicaria a Economia, criou uma medida para que as pessoas poderiam frequentar a praia, mas quadrados demarcados. Obviamente, os efeitos econômicos ocorreriam, mas evitaria a morte que passou a acontecer em número absurdo proporcionalmente à população brasileira. Oficialmente, 700.000 pessoas perderam a vida.
Várias que eu conhecia — do setor de eventos — que continuaram a trabalhar quase que clandestinamente, sucumbiram à doença, não sem sofrerem muito antes do óbito. O Sr. Crivela não se reelegeu, assim como o seu mentor político, que, aliás, está sendo julgado por tentativa de Golpe de Estado. Mas o crime maior certamente está relacionado a esse período em que tentou obstar de todas as maneiras a vacinação da população. Quando percebeu que fosse inevitável o uso da vacina, tentou obter lucro com a desgraça através de compras sem nenhum tipo de garantia de qualidade e nem de entrega. Um golpe de bilhões de dólares que foi impedida pela vigilância dos setores responsáveis como a ANVISA.
Enfim, ainda chegará o momento, eu espero, em que o Ignominioso Miliciano pagará também por esse crime que ceifou a vida centenas de milhar de cidadãos, além de trazer o luto para a família dos sobreviventes.
foi quase… quase fomos… um lindo quase… e por isso pleno de possibilidades nesse lindo quase passaríamos por todas as idades ainda que distantes em diferentes cidades eu a alcançaria pelo desejo nós nos desconhecemos mesmo eu quase me desconheço ainda que saiba que tenta se alcançar ideal como há de ser somos dois desconhecidos de si e um do outro a minha curiosidade era nos (des)conhecermos lado a lado a enveredarmos por novos caminhos afinar os nossos tinos cercá-la de carinhos desatino a imaginar como seria beijá-la em meus braços aceitá-la pele com pele pelear em busca da quase vida da quase morte da quase sorte de sermos quase eternos num instante porém nada seria (como não seremos) como antes ao nos tornarmos quase amantes…
Nesta tarde, o meu irmão encontrou, na boca da Penélope, um pássaro… Morto… Talvez um canário. Talvez o mesmo que canta (ou cantava) toda manhã, aqui no quintal. A nossa bela e negra Penélope é uma caçadora. Nada escapa ao seu raio de ação quando se trata de gatos, ratos e seres alados… Ao retirar o bichinho da sua boca, o Humberto, conhecedor de pássaros pela passagem de parte de sua meninice no interior, decretou: “Vida de passarinho…”.
Então, vida de passarinho é assim — frágil, rápida e sonora. Alegre para quem ouve o seu cantar. Perigosa, para ele mesmo, pois o seu encanto atrai predadores, incluindo àqueles que se alegram com o seu canto.
A tarde fluía em seu primaveril caminhar, com o Sol a descer a linha do horizonte entre nuvens mais escuras da chuva intermitente… Diante desse espetáculo, tendemos a nos sentir como passarinhos na boca da negra e bela Eternidade. Um dia, ela nos abocanhará igualmente…
Texto de 2017*, incluído em meu primeiro livro — REALidade — de crônicas, lançado pela Scenarium Livros Artesanais.
O tempo urge. De tal maneira que ele nos atropela e 24 horas já não são suficientes para conseguir fazer tudo o que queremos, principalmente se somos pressionados por limitações temporais. É o caso deste “6 On 6“, em que acrescentei outro “On 6“, por estarmos no mês seis, o último do primeiro semestre de 2025. O tema remeteria aos textos e livros que eu tenho lido nesta estação do ano em que a temperatura começa a baixar, mas que os sinais de sua chegada haviam se antecipado, com a queda das folhas das árvores já em meados do último Verão. Esse atropelo temporal, também ocorre no Clima, cada vez mais instável e imprevisível. Mesmo a edição deste coletivo faço um dia depois, como se fosse parte do processo. Estava ocupado com o meu trabalho e não houve como publicá-lo na data correta, ontem. Para arrematar esta introdução, pensei em relatar as minhas leituras de livros, mas como tenho me dedicado a “pescar” os meus próprios textos em publicações no mar das redes sociais ao longo dos anos, decidi colocar parte delas, ainda que sejam pequenas notas, para ilustrar o projeto fotográfico. São pequenos capítulos de minha trajetória como escritor-repórter do meu tempo.
Bem me quer?
O medo de não ser querido impede que eu faça à margarida a pergunta decisiva: “bem me quer?… Ou mal me quer?”… Ainda que o amor me diga “sim!” ou “não!, jazerá, a branca flor, tristemente despetalada ao chão…
Há, dentro de mim, uma briga Momentos em que o meu coração grita Esperneia dentro do peito Com o pulmão se atrita Rebela-se contra os órgãos que abastece de sangue Veja se pode?
Autoritário, tenta impor as suas certezas Rumar contra as correntezas Chega a sugerir que sonhe a mente Mente que aguentará outras aventuras Que não sofrerá com outra aversão Confia na sua característica demente A da mente que se engana facilmente
Porque sabe que ela não se exprime Para além dos sentidos Aprecia pela visão Enternece-se pelo som Subjuga-se pelo toque Submete-se pelo gosto É uma mente limitada Ao mundo que apreende pelas demandas do corpo
Onde está a minha alma, que não toma o controle? Por que não assume a posição de senhora? No conjunto, creio que saibamos a resposta Buscamos todos Ainda que pela experiência sensorial Pelas vidas afora Encontrar outra alma perdida De mim, para mim Amém!
LONGO MAL SÚBITO
Ronco de motores rodovia movimentada motoqueiro fantasma sem capacete deve ser parado pária da sociedade calção chinelos camiseta pobre desce do cavalo se posiciona com respeito aqui é autoridade autoritarismo práticas de tempos passados por chefes no poder incensados não reclama não fala se cala continua sem voz além das muitas na sua cabeça tomo remédio olha as cartelas não queremos saber você é fora da lei eu só quero respeito não cometi crime nenhum está sem capacete nós estamos protegidos com os nossos somos senhores da vida e da morte você deve aprender e quem nos observa também fica assolado no chão nossas botas na sua canga vamos aplicar a nossa sentença culpado por ser brasileiro sem rumo sem ganho sem profissão para ganhar o pão um verme como tantos outros porque essa tortura? queria voltar para a casa vai para a nossa casa ambulante receberá a lição estamos em guerra contra quem nos interpõe representamos o topo do poder nunca mais repetirá a ousadia de contestar mataram mais de vinte no Rio um a mais ou a menos não sou bandido sou trabalhador tenho família filhos pai mãe primos todos tem ratos que se multiplicam olha a nossa viatura a chamamos de carro de dedetização eliminamos pragas as degustamos com pimenta me tirem daqui me desamarrem abram a caçamba não sou lixo sequer indigente sou gente ah! meus filhos mulher não estou aguentando me perdoem não consigo respirar estou deixando a escuridão vou para um lugar sem Luz e sem resposta mesmo sendo de Santos Jesus até quando?
Umbaúba, Sergipe, em 26 de Maio de 2022 – dois anos depois da morte de George Floyd, em outro Hemisfério e outro “não consigo respirar”.
Imagem de 20 anos antes…
UM DIA DEPOIS (10 de Agosto de 2020)
Um dia depois do Dia dos Pais, o que mudou no País? Para tantos pais, filhos e famílias, o segundo domingo de agosto não foi comemorado. Pais não receberam seus filhos, filhos não abraçaram quem os gerou cuidou, trabalhou, viveu por… Muitos, estavam vivos, mas distantes e distanciados, por força do isolamento ou pela desavença e litígio. Eu, mesmo, passei os últimos anos de meu pai, alienado da sua presença. Outros, partiram pela doença do descaso. Cem mil vezes pranteados. Há ainda os que estão acamados, entubados, estratificados. Todos, marcados por estatísticas macabras. Eu pude estar com as minhas filhas. Percebi o quanto sou agraciado por ser beijado, abraçado, por me sentir amado, entrelaçado pelo enredo familiar. A minha alegria carregava um travo. Em domingos sequenciais, vivemos dentro de uma bolha boçalizada, em ilhas isoladas, de mar que se nega a aprofundar. É como se o oceano não fosse salgado, suas águas não quebrassem em ondas ao chegarem às praias, não se permitisse abrigar sereias, miríades de outros seres, tesouros naufragados e continentes perdidos — raso de vida, mistérios e poesia. Contudo, se aproveitam da crença no fantástico e renegam a profundidade da Ciência. Existimos em realidade paralela, afirmando nossa indecência. Negamos o conhecimento e festejamos a morte. Entre plantas — coqueiros e bambuzais — o supremo mandatário deglute a nossa humanidade. À caminho da segunda centena de milhar, o chefe do jogo do bicho medonho continua sem paradeiro. Quem o impedirá o testa de ferro insubordinado de continuar a jogar? Há remédio para evitar que muitos mais pais e filhos estejam separados no próximo Dia dos Pais, por arte e obra da desconsideração por brasileiros, por arte e obra da estultice de eleitores brasileiros?
Ao varrer esta plataforma, encontrei marcas que não havia percebido antes. Como faz alguns anos que foi feita, fiquei me perguntando quem teria deixado este registro para a posteridade. Lembrei das amigas que nos deixaram fisicamente. Não deve ter sido a Penélope, labradora que tinha o corpo e o coração grandes demais. Talvez fosse da Dorô, tão doce e amada por ter crescido junto com as crianças humanas. Ou da Frida, as de olhos de avelãs, quieta ilusionista, que surgia do nada em algum ponto da casa. Da Domitila, que ainda está conosco, também não, pelo tamanho maior do que está marcado. Enfim, o que sei é que daquele patamar as marcas poderão sumir um dia por alguma reforma no piso. Do meu coração, enquanto eu existir, jamais!
Natural (Outubro de 2021)
Nascido há 60 anos em terra, no centro de São Paulo, na maternidade de mesmo nome (hoje demolida), sob Libra, signo do Ar, é na Água que me sinto em meu elemento. Adorei saltar, flutuar em queda, atravessar o azul, mas ao mergulhar é que me percebo um com a Natureza…
Em 2019, escrevi: “Quem tem cachorros (na verdade, são eles que têm a nós), não deveria usar roupa preta. Ou não se importar com demonstrações de carinho. Pelo amor, nunca pelo contrário, só a favor…