BEDA / Brevidades*

Hoje, comi “Brevidade“… Tem gosto de infância, tão fugidia e eterna quanto ela… (2016)

Quantas vezes não olhamos para o céu em busca de respostas? Hoje, eu obtive uma… e o que me disse, então?… “Um risco quer dizer Francisco.”… Oh, charada! Rs… (2016)

Dia de mudança da filha do meio. Come-morando baianamente… — com Tânia Ortega e Ingrid Ortega em Sotero Cozinha Original (2016)

Foto por cottonbro studio em Pexels.com

SOBRE VAMPIROS (2018)

Uma das frases mais poderosas que uma mulher poderá dizer a um homem é: “Quero você dentro de mim…”. Creio que essa mulher não busque sexo, apenas. Quer ser preenchida de amor. É triste quando esse homem entra, faz a sua bagunça, insinua presença constante e a deixa no meio da noite, exangue, feito um vampiro…

Foto por Miguel u00c1. Padriu00f1u00e1n em Pexels.com

SIM E NÃO (2015)

“Sim” e “não” são chaves que abrem ou fecham portas. Estamos por um “sim” ou por um “não” de alcançarmos o que desejamos, se bem que nem sempre o “sim” que queremos ouvir será o melhor que poderá nos suceder, como, muitas vezes, uma benção virá disfarçada de um rotundo “não”! Assim, entre “nãos” e “sins”, nos encaminhamos para outros “sins” e “nãos”. E vivendo de “sins” ao “nãos”, de “nãos” ao “sins”, chegaremos ao fim, que não será um constante “não”, mas um permanente “SIM”!

Participação: Lunna Guedes Mariana Gouveia / Claudia Leonardi Roseli Pedroso / Bob F.

A Cama

A cabeceira (pequena demais para os meus sonhos);
o estrado (forte o suficiente para segurar o peso do colchão e de dois corpos);
o suporte lateral (firme e teso);
a base (onde os meus pés sequer conseguiam tocar) — uma cama…

Seria bege… amarela… madeira esmaecida…
Não me lembro da cor original…
Não importa…
Tudo foi feito no escuro…
Ele vinha silente, 
penetrante, 
o horror noturno…

Gostava tanto de ir para o sítio
e lá ficar com as minhas bonecas 
e os meus bichos…
O monstro adormecia distante,
em São Paulo,
com os seus negócios 
e a sua arma em riste…

Gostei tanto quando ele morreu!
Dizem que foi do coração…
Disso, duvido…
Mamãe também morreu…
Acredito que sufocada…
engasgada
com a palavra que nunca proferiu:
Não! 

#Blogvember / Sem Arrependimentos

Adriana Aneli, em O Sol Tarde, nos revela que “me despi de tudo / desisti do arrependimento / faria tudo de novo”. Arrepender-se de algo implica em não gostar do resultado de uma ação e imaginar que se fosse feito de outra forma, as consequências seriam outras. Como numa operação matemática em que fatores diversos resultassem em um produto diferente. Bem sabemos que a vida não é assim. Entram em jogo movimentos invisíveis aos nossos olhos. As pessoas creem que as suas ações resultem em determinados efeitos, mas é comum que aconteça diferentemente do que se espera. Isso porque, apesar de boas intenções, as consequências são basicamente incontroláveis. Às vezes, uma gota d’água aleatória faz transbordar o copo cheio, desencadeando uma série de acontecimentos inesperados por mais que busquemos domá-los.

O SIM e o NÃO balizam as diretrizes que utilizamos como parâmetro. As opções que estabelecemos estão centradas em padrões que são apenas aparentemente claros. Aliás, principalmente para nós, envolvidos ideológica, moral, social, intelectual, material e afetivamente numa escolha. Cometemos frequentemente autoenganos por não sabemos com que roupa vestimos um ato disfarçado em outro. Não importa o viés pelo qual nos balizamos, sempre haverá perdas. Essa luta entre duas posições antagônicas e extremas não é resolvida se nos abstivermos de qual lado estaremos. Ficar em cima do muro implicará em algum momento em queda. A Lei da Gravidade é quase um “milagre” ao qual não temos como renunciar. E ela estabelecerá a escolha entre o preto e o branco. Mesmo porque, convenhamos, o cinza é estéril. Ainda que seja a cor padrão de nossa vida.

Em conversa com o meu irmão, eu lhe disse que pagamos por nossos pecados no momento que o cometemos. Essa imagem religiosa é bastante ilustrativa porque as Sociedades sempre se utilizaram da Religião para controlar os excessos que seriam cometidos sem a sua atuação. De certo, inviabilizariam as suas existências. Com promessas de fogo eterno no Inferno, a danação se daria em um lugar específico, localizado nas profundezas da Terra, então centro do Universo. Partindo dessa premissa anticientífica, a não ser que se acredite em relatos de homens supostamente guiados por Deus, a base de sustentação da expiação da culpa já não existiria. Não contesto mandamentos, apenas não acredito que possam ter o condão de condenarem automaticamente quem os contrarie.

Crer em algo é o esteio sobre o qual assentamos os nossos procedimentos. Mesmo que seja em Nada. Ao mesmo tempo, crenças implicam em erros por antepor o condicionamento mental e psicológico à visão clara e refletida de qualquer ocorrência. Em resposta, nossas ações põem em movimento processos no mesmo instante em que ocorrem. Não sendo visíveis de antemão, atuam como um moto-contínuo agindo de forma autônoma. As consequências são verificáveis à posteriori. Ainda assim, não são poucas as vezes que vermos surgir profetas de fatos acabados.

Eu decidi pessoalmente, depois de anos de relutância, me arrepender apenas do que fiz e não do que não fiz. É quase a mesma coisa que me despir de tudo que me levasse ao arrependimento. Algo como me conformar com os meus erros. E sim, faria tudo de novo. Nem que seja para me arrepender, realmente, mais tarde. Acho digno quando o arrependimento é consciente. Não podemos renunciar ao que somos. O outro, aquele em que estava me tornando, não era nada bonito. E este, mesmo feio, tem um certo estilo. E estilo é quase tudo.

Participam: Lunna Guedes / Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Suzana Martins

O Instante Mágico*

Instante Mágico
Todos os dias, vivo um instante mágico, de grande calor humano…

“Todos os dias, Deus nos dá um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um ‘sim’ ou um ‘não’ pode mudar toda a nossa existência.” (Paulo Coelho)

Vez ou outra, vemos postadas frases de efeito como essas acima, normalmente acompanhadas de uma imagem bonita. Eventualmente, o nosso desejo é tão grande de recebermos notícias de esperança que as aceitamos de olhos fechados. De certa forma, podemos viver de recitar frases edificantes, o que não quer dizer vivamos de acordo com as receitas de vida que propõem. No caso deste coelho tirado da cartola pelo Mago, tenho algumas considerações a fazer, ousadamente.

Inicialmente, destaco que não sou leitor de Paulo Coelho. Lembro de que li um título seu, da qual não lembro o nome. Talvez, não seja mesmo essa a intenção do autor, já que ele conta sempre a mesma história, sob variados prismas. Alguém poderia chamar a isso de coerência, outros, de redundância. A frase acima, de certa forma, parece resumir boa parte do que ele quer “vender” para os seus leitores. Quem não gosta desse termo, visto que suas mensagens pretendem se mostrar superiores a este aspecto comercial, chamo a atenção para o fato de que o Mago reivindica o posto de maior escritor do Brasil justamente por sua vendagem exacerbada.

Por que “todos os dias Deus nos dá” – apenas – “um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes…”? Passado aquele momento, devemos esperar o dia seguinte para vermos surgir outro ponto crucial em que devemos decidir entre um “sim” ou um “não” para mudarmos “toda” a nossa existência”? Por que não temos todos os instantes, todos os dias, miríades de oportunidades para decidirmos a nossa história?

Mas ele cita o “instante mágico”! Para quem acredita que a vida inteira é mágica, todo o instante é mágico, não é mesmo? O recurso de determinar o momento da virada é muito usado como gancho por escritores de novelas e roteiristas de cinema. Pode aparecer em qualquer parte da trama, mas normalmente é reservada para o final, entre perseguições e tempos em contagem regressiva.

No entanto, sendo mais chato ainda, pergunto: depois do “instante mágico” e “o momento em que um ‘sim’ ou um ‘não’ pode mudar toda a nossa existência”, não haverá nenhuma chance de que o “sim” se transforme em “não” e vice-versa? Quando dizemos não ao fumo, ao “junk food” ou à bebida, nunca mais voltaremos a nos intoxicar? Quando dizemos “sim” ao amor ou à vida saudável, nunca mais voltaremos a odiar ou meter o pé na jaca? Neste caso, “toda a nossa existência” tem prazo de validade – talvez 10 minutos ou 10 anos – seja lá o que for.

Devemos estar constantemente atentos e fortes para que não durmamos sobre os louros do “instante mágico”. Magicamente, está em nossas mãos, a todo o momento, direcionarmos a nossa vida para o melhor caminho. A todo instante tomamos pequenas decisões que podem significar desvios, mesmo que sejam tomadas com a melhor das intenções. E, na maioria das vezes, apenas saberemos quando chegamos a bom termo quase no final da estrada, quando divisamos a totalidade da obra da qual participamos… Isto, se não acreditarmos que todos os instantes da nossa vida não sejam apenas os instantes de uma vida entre tantas outras da nossa existência…

*Texto de 2012

Ressurreição*

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Segunda-feira. Tempo marcado no relógio. Logo mais, terei que trabalhar. Estou a alimentar as calopsitas, Dulce e Horácio, as porquinhas da Índia – Baleia e Cotoco. Ouço palmas no portão.

Diviso um senhor – chapéu de aba larga, óculos de grossos aros sobre o nariz, bolsa com a alça cruzada no peito e guarda-chuva-sol na mão direita. Sem abrir o portão, pergunto: “Pois, não?”…

Começo a ouvir uma voz de criança, bem articulada e ritmada. Olho para baixo, mais à esquerda, e percebo um garoto de pele amorenada, rosto suave e um sorriso de dentes maiores que a boca. Não devia chegar aos dez anos de idade.

Ele fala sobre algum tema bíblico, que eu não sei identificar qual seja, apesar de suas palavras soarem claras. Eu fiquei mais atendo à cadência do que ao conteúdo do que dizia. Em certo momento, perguntou: “Sim? Não? Talvez?”…

Como que despertado de um sonho, respondi, sem saber ao que: “Sempre talvez!”…

Já disse para alguns, algumas vezes, que o “talvez” permeia a minha vida. Ao contrário do que possam pensar, esse “talvez” é um método especulativo-existencial muito pessoal. Tenho convicções bastante fortes sobre muitas coisas, mas o “talvez” me leva ver sempre o outro lado de uma situação.

Naquele caso, o mocinho respondeu de pronto que um “talvez” era melhor do que um “não”…

Nesse instante, olhei em direção ao senhor que o acompanhava e pude notar um leve sorriso de satisfação pela agilidade mental/verbal do seu pequeno acompanhante.

Logo, o garoto terminou o seu breve discurso e me passou rapidamente um papel pela fresta do portão. Nele, estava estampada a pergunta ao qual respondi sem pensar… Especulava sobre a vida após a vida, com respostas que a Bíblia carrega em suas páginas.

Fiquei a cismar que se a vida possa ser um jorro contínuo de “talvezes” ininterruptos, por que não talvez venha algo depois que ela cesse neste plano?… Sim! Sempre talvez… e o “talvez” será sempre melhor do que um “não” definitivo…

*Texto de 2015