Um Pai*

Com a chegada de datas marcadas como importantes — aniversário, por exemplo — passamos por reflexões acerca da passagem do Tempo, lembranças fugidias ou outras, mais palpáveis, porém de certa maneira dolorosas. Em 2014*, escrevi:

“Por poucos anos, tive uma convivência normal com o meu pai. Ele era (é) um homem elegante, com tez amorenada e os olhos puxados, devido a sua ascendência indígena. Eu me pareço mais com o pai dele, o ‘Seu’ Eustáquio Humberto, mas não são poucas as vezes que o vejo em mim, no espelho ou fotografias, e o ouço reproduzido em minha voz. Quando houve a cisão definitiva entre ele e minha mãe, que fisicamente já passou, deixei igualmente de tê-lo mais assiduamente por perto. O Senhor Ortega ainda está presente em meu tempo e espaço e o homenageio, mesmo que de modo torto, mostrando que, um dia, formamos uma família como pai e filho”.

Post Scriptum: Não o imagino me segurando em seu colo muito tempo depois da foto. Ele não afeito a certas formalidades e certamente não se mostrava carinhoso. Na minha memória, no entanto, ele era o meu herói. Essas contradições se pacificaram na tremenda objeção ao seu comportamento que acabei por usá-lo como a um exemplo não ser seguido. O meu pai faleceu há alguns anos… cinco anos, talvez. Não foi marcante como deveria, a não ser pelo fato de que, prestes a entregar um projeto para a Scenarium Livros ArtesanaisRUA 2 — sequei. Posteriormente, consegui desenvolver o livro de contos curtos, mas o tema recorrente foi a morte.

O Novo Normal

De perto, ninguém é normal ˗˗
já disse Caetano ˗˗
não há engano.

Anunciam que normal, há um novo ˗˗
o mesmo novo de outras vezes ˗˗
em épocas de outros revezes.

Ciclos do mal ˗˗
de maus e bem maus ˗˗
ciclotimia macabra,
penúria que não se acaba.

Sina de brasileiro é esquecer ˗˗
revive a reviver ˗˗
elege e reelege malditos,
proclamados como benditos.

Da antiga norma, surgiu o anormal,
de mau passo ˗˗ o novo natural ˗˗
morram, saiam do claustro:
anunciação do falso astro.

“Salvem o PIB!
Reabram-se as empresas que me presam.
Labutem, carreguem os pesos.
Apesar dos pesares, suportem a lide.
O governo não é do povo, nem é altruísta ˗˗
proteger os desamparados ˗˗ coisa de “comunista”!

Danos colaterais em todas as guerras, há…
E daí?
Se perdermos pobres e velhos?
Seres inúteis, a viverem com dificuldades ˗˗
mulheres e homens marginalizados,
enfim igualizados ˗˗
pais, mães, filhos, avós, tios, tias, amigos…
Olha, que bom! ˗˗ genocídio legalizado ˗˗
sonho dos trinta mil mortos, realizado!”

Nos tornamos prisioneiros do negacionismo ˗˗
contra a ciência, vivemos de achismos,
malversação da ideologia
e horror à Democracia.
Fato tal e qual, eis o novo normal ˗˗
além do novo coronavírus ˗˗
nos infectou o adormecido mal…

A doença não se curará…
Poderemos controlá-la pelo discernimento,
se nos tratarmos pela cultura e pelo conhecimento.
Porém, mesmo depois de passarmos pela pandemia,
doentios políticos assintomáticos,
contaminados pela ignorância efetiva
e pelo fascismo nativo-ativo,
sempre haverá…