Projeto Fotográfico 6 On 6 / Polaroides

Em 1944, de férias com a sua família, a filha de Edwin H. Land lhe perguntou porque não podia ver imediatamente as fotografias que o pai tirava. Edwin conta que nesse mesmo dia idealizou a mecânica da câmara de impressão instantânea. Três anos depois, veio a público uma tecnologia que transformou um processo que demorava horas, que exigia um estúdio próprio e acesso a químicos de revelação fotográfica, para algo que demorava apenas alguns minutos. Chegou ao mercado em 1948 com o nome Polaroid Land Model 95, que funcionava usando dois rolos separados para o negativo e o positivo, os quais permitiam que a imagem fosse revelada dentro da câmera.

Ainda tenho uma câmera Polaroid guardada em algum canto. As minhas filhas têm uma câmera similar e gostam de brincar de tirar e revelar fotos instantâneas. Mas com o tempo a chegada dos smartphones rapidamente mudou a dinâmica da produção de imagens reveladas quase imediatamente através das redes sociais, de tal modo que a maioria das pessoas sequer pensam em algo diferente. Como não tenho polaroides à mão, compareço aqui com similares para rememorar o último semestre deste ano insano.

Em Agosto, fui informado pelo Facebook que havia ficado noivo da Tânia há 35 anos. Não houve exatamente um pedido de noivado, mas (in)formalmente, essa foi a data em que começamos a namorar. Foi tudo muito rápido. Em Maio do ano seguinte, ao décimo terceiro dia, nos casamos, com o testemunho da Romy, há cinco meses no ventre da mãe. O resto é História.

Em Setembro, estreamos a Primavera mais quente que a Humanidade já presenciou, segundo informes climáticos mensurados por institutos do mundo todo. Entre os negacionistas de plantão, não é algo para se preocupar. Alugados pelos donos do jogo, há quem queira negar que estamos à beira do colapso. Gaia está simplesmente reagindo às ameaças de sobrevivência de todas as espécies vivente neste planeta. Não duvido que se o Homem for um empecilho, a Natureza o colocará em seu devido lugar. Sinais não faltam. Enquanto isso, as orquídeas aqui em casa, se sentindo protegidas, continuam a florescer na Estação das Flores.

Parece incrível, mas apenas há um pouco mais de um ano, em Outubro, surgia Alexandre em nossa vida. O rapazinho todo desmilinguido, desnutrido, mais ossos do que carne, um tanto cego pelos olhos anuviados, de tímido que se apresentou, foi se empertigando. Pudemos perceber que se tratava de um exemplar variante de Pinscher, com todas as características que apresentam — corajosos, leais, cheios de energia, curiosos, divertidos — e guardiões, o que deixa a Lívia, que trabalha parte da semana em Home Office, muitas vezes com gana de lhe dar uns tapinhas na bunda seca. Os seus latidos, para quem passa no portão vazado, interfere frequentemente em suas reuniões. Coloca o pessoal com quem fala no modo mudo e grita para o bichinho impertinente: Aleeexaaandreee!

Bem, Novembro foi cheio de aventuras. Mais um fato recorrente marcou o meu mês. A Tigresa nos deixou na mão na subida da Serra do Mar, na volta de nossa casa da praia. E a Tímida, à caminho de Ibiúna, onde faríamos um evento pela Ortega Luz & Som. O que essa torre de caixa d’água teria a ver? Bem ela marca o ponto onde esperamos o caminhão guincho que nos levaria para o local onde conseguimos chegar à tempo para a montagem e a realização da sonorização e a iluminação da banda para festa de temática italiana. Enquanto esperávamos o transporte, fiz algumas imagens para relaxar. Afinal, temos sempre que tentar ver o outro lado da moeda.

Nesta foto, encontramos, além de mim, Marco Antônio Guedes, Lunna Guedes — mentores da Scenarium — e Flávia Côrtes, que veio à São Paulo direto de Salvador, Bahia, para o lançamento do lindo livro de poemas, Correntezas. Dias após, nos encontrarmos no SESC Paulista e posteiormente fomos ao Café da Livraria Cultura, cercado por livros, como gostamos, onde fiz este registro. A baiana mostrou ao vivo a sua verve, animação, lirismo e alegria de viver que podíamos perceber apenas através do virtual. Uma agradável surpresa de Dezembro e do real!

Participa: Lunna Guedes / Roseli Pedroso / Mariana Gouveia

#Blogvember / Os Meus Meios-Dias

O meu Meio-Dia, começou às 9h40 da manhã. Apesar do adiantado da hora, mais uma vez dormi as mesmas cinco horas de praxe, não importando que tenha, como ontem, estado em atividade o dia inteiro. Uma vez acordado, já é Meio-Dia. Sol a pino, ainda que chova. Meus Meios-Dias se repetem pelas horas que se seguem como estados d’alma.

Leio as postagens deste #blogvember e passeio por textos que me inspiram. No de ontem, Roseli Pedroso escreveu uma preciosidade em poucas linhas sobre encontros fortuitos, calados, mas definitivos. Como resposta, lembrei de um: “Foi assim que cruzei com os olhos verdes de uma moça que aguardava o ônibus no ponto. A porta traseira foi aberta para que entrasse passageiros – idos do final dos anos 70 – e eu me fixei no brilho do olhar de alguém que jamais voltei a encontrar. Escrevi versos para esse (d)encontro, guardados em algum lugar…”.

Lunna Guedes, deu por si ao Meio-Dia de ontem, quando aniversariava. Fala sobre os plúmbeos e chuvosos novembros de sua vida, incluindo o do dia de seu nascimento. Hoje, não foi diferente. Aproveitei o sol que despontava e saí para ir ao supermercado comprar ingredientes para o estrogonofe do almoço. Voltando das compras, as nuvens toldaram o Sol em dois minutos e uma pesada chuva desabou como se fosse um balde de água fria em cachorros no cio. Era Meio-Dia.

Mariana Gouveia homenageou a nossa editora aniversariante com uma linda missiva. A força do abraço que pulsa em coração lunar é expresso em “palavras que atravessam tempos e se esparramam em cadernos”. Concordo com ela que, com a Lunna, acabamos por criar uma comunidade afetiva em torno da boa escrita.

Assim como Suzana Martins lembra das belezas acidentais de novembro e nos diz que “gosta da confusão equinócia a rasgar o tempo!” – um elogio aos dias intempestivos que aprendeu a apreciar com Lunna.

Em casa, trocada a roupa molhada, começo a assistir mais um jogo da Copa do Mundo de Futebol. França e uma das suas antigas colônias africanas – Tunísia – reproduzem em campo a rivalidade derivada do saldo pesado que toda dominação de um povo pelo outro produz. Terminada a partida, o time do colonizador (carregado de jogadores oriundos de povos colonizados) perdeu o jogo. O time do colonizado ganhou, mas não levou. São os dramas operísticos a reproduzir a História do mundo em realidades simuladas.

Após a chuva, rápida e impertinente, raios solares são refletidos em janelas e paredes. A Luz incursiona por frestas, folhagens, fios elétricos, telhados e peles. Quem disse que chovera meia-hora antes? Minhas roupas molhadas juram que sim. Mas meu olhar perdoa o pequeno inconveniente diante de belos Meios-Dias desta tarde lavada que se repetirão até a chegada da Meia-Noite – o Meio-Dia final…

Participam: Roseli Pedroso / Suzana Martins / Lunna Guedes / Mariana Gouveia

#Blogvember / Aos Cuidados De Novembro

Sob os auspícios dos efeitos dos últimos dias de Outubro, Novembro chegou bipolar. Temperaturas frias, como deverá ser a tônica deste meio de Primavera e quente no ambiente político. Depois da onda à direita que dominou o País, Lula foi eleito Presidente da República em pleito dividido meio a meio. Em estradas federais, caminhoneiros bloqueiam a passagem de veículos, reunindo renitentes que não aceitam o resultado em que compareceram 120 milhões de eleitores dos 150 milhões aptos a votar. Desses 120 milhões, um quarto decidiu anular ou votar branco. Como já disse em uma postagem: “Esta eleição configurou a escolha entre duas pautas não apenas diferentes, mas praticamente opostas, espelhadas. Foi entre um projeto de quem está acostumado à barbárie e gostaria de torná-la institucional. De pessoas que patrocinam com o ideal de armar o povo não com o conhecimento, não com a igualdade na diversidade, não com o amparo aos desprovidos de moradia, alimento e oportunidade de crescimento social. Os isentos são tão perniciosos quanto os extremistas”.

Ontem, passei por minha foto em que apareço com cinco anos correndo pela grama de algum parque central de São Paulo. Nós morávamos no Largo do Arouche, no Edifício Coliseu. Tenho poucas lembranças desse tempo, bastante pontuais. Ao vê-la, me sobreveio foi a onda de inocência que envolvia aquele menino. Anos mais tarde, com uns 10 anos, a minha mãe, então ativa no auxílio ao meu pai na movimentação do Partido Comunista, clandestino, me perguntou se gostava mais da ARENA ou do MDB – os únicos partidos permitidos a existirem para simular um Estado democrático – para um discurso que, hoje eu sei, era para ser lido pelos que vivessem no Futuro. Eu respondi que preferia a ARENA, para horror de Dona Madalena. A Aliança Renovadora Nacional aglutinava os defensores do Golpe de Estado de 1964 realizado pelos militares, que preferiram nomeá-lo de Revolução. De fato, uma revolução que deu pleno sentido a uma frase de um livro que li chamado “O Leopardo”, de Giuseppe Tomasi Di Lampedusa: ”Se quisermos que as coisas continuem como estão, as coisas precisam mudar”. Do outro, o Movimento de Mobilização Democrática reunia o gripo dos opositores que não havia emigrado ou exilado à força para o Exterior. Vários outros, estavam presos ou “desapareceram” depois de terem sido torturados.

Sendo criança, o que influenciava a minha opinião era a massiva propaganda empreendida pelo Governo Militar incentivando o Patriotismo cego. Também corroborava a identificação com o Poder, um sentido umbilicalmente ligado ao Patriarcado. O tutor forte que dirige à salvo o inocente para um hipotético porto seguro. As manifestações dos que não reconhecem o resultado da eleição de 30 de Outubro são como crianças malcriadas, como a agravante de serem adultas. Carregam uma infantilidade perigosa, insufladas por um líder insensível, de postura mítica-messiânica. Essas pessoas não se importam em envolverem seus filhos pequenos num movimento de resistência a uma situação dada como insustentável, na esperança que o País seja levado a uma revolução composta dos “tiozões do pavê” – representantes da tradicional família brasileira – estimulados a abandonarem as suas posturas preconceituosas professadas em churrascadas, enquanto olham para as bundas das menininhas que têm a mesma idade suas filhas, e agirem à favor de uma luta armada.

Com a chegada da adolescência, com a experiência de ver o pai fugitivo ser preso e torturado nos porões do Ditadura, voltei o meu olhar para à esquerda Mas as contradições internas de pessoas também formadas no sistema predatório do Patriarcado, me fez relativizar cada vez os posicionamentos de um lado e outro e perceber que o Sistema Político brasileiro é corruptor e corrupto, derivado historicamente de um Brasil que cresceu à sombra da Escravidão que ainda hoje marca à ferro e fogo o gado que insiste em se manter unido em direção ao Matadouro. Aqueles que perceberam que era hora de mudar o sentido e desviaram para uma possibilidade de futuro sem o viés fascista que sempre fará parte de nossa gênese, mas que pode ter atenuada sua expressão, decidiram pela Frente Ampla Democrática, com Lula à frente. Também foi a minha escolha, assim como em 2018, quando a minha opção foi – por exclusão – em Haddad. Na época, escrevi um pouco antes da votação no Segundo Turno: “Se vencer Haddad, serei oposição. Se vencer Bolsonaro, serei resistência”. Na deste ano, votei francamente a favor de Lula que, com o seu belo discurso na noite da vitória, me fez acreditar que este país ainda possa caminhar no sentido de uma Democracia madura, de convivência de ideias antagônicas, mas longe de extremismos que separam uns e outros de forma violenta e vil.

Oremos e vigiemos…

Participam os autores:
Lunna Guedes / Mariana Gouveia / Suzana Martins / Roseli Pedroso