#Blogvember / Aos Cuidados De Novembro

Sob os auspícios dos efeitos dos últimos dias de Outubro, Novembro chegou bipolar. Temperaturas frias, como deverá ser a tônica deste meio de Primavera e quente no ambiente político. Depois da onda à direita que dominou o País, Lula foi eleito Presidente da República em pleito dividido meio a meio. Em estradas federais, caminhoneiros bloqueiam a passagem de veículos, reunindo renitentes que não aceitam o resultado em que compareceram 120 milhões de eleitores dos 150 milhões aptos a votar. Desses 120 milhões, um quarto decidiu anular ou votar branco. Como já disse em uma postagem: “Esta eleição configurou a escolha entre duas pautas não apenas diferentes, mas praticamente opostas, espelhadas. Foi entre um projeto de quem está acostumado à barbárie e gostaria de torná-la institucional. De pessoas que patrocinam com o ideal de armar o povo não com o conhecimento, não com a igualdade na diversidade, não com o amparo aos desprovidos de moradia, alimento e oportunidade de crescimento social. Os isentos são tão perniciosos quanto os extremistas”.

Ontem, passei por minha foto em que apareço com cinco anos correndo pela grama de algum parque central de São Paulo. Nós morávamos no Largo do Arouche, no Edifício Coliseu. Tenho poucas lembranças desse tempo, bastante pontuais. Ao vê-la, me sobreveio foi a onda de inocência que envolvia aquele menino. Anos mais tarde, com uns 10 anos, a minha mãe, então ativa no auxílio ao meu pai na movimentação do Partido Comunista, clandestino, me perguntou se gostava mais da ARENA ou do MDB – os únicos partidos permitidos a existirem para simular um Estado democrático – para um discurso que, hoje eu sei, era para ser lido pelos que vivessem no Futuro. Eu respondi que preferia a ARENA, para horror de Dona Madalena. A Aliança Renovadora Nacional aglutinava os defensores do Golpe de Estado de 1964 realizado pelos militares, que preferiram nomeá-lo de Revolução. De fato, uma revolução que deu pleno sentido a uma frase de um livro que li chamado “O Leopardo”, de Giuseppe Tomasi Di Lampedusa: ”Se quisermos que as coisas continuem como estão, as coisas precisam mudar”. Do outro, o Movimento de Mobilização Democrática reunia o gripo dos opositores que não havia emigrado ou exilado à força para o Exterior. Vários outros, estavam presos ou “desapareceram” depois de terem sido torturados.

Sendo criança, o que influenciava a minha opinião era a massiva propaganda empreendida pelo Governo Militar incentivando o Patriotismo cego. Também corroborava a identificação com o Poder, um sentido umbilicalmente ligado ao Patriarcado. O tutor forte que dirige à salvo o inocente para um hipotético porto seguro. As manifestações dos que não reconhecem o resultado da eleição de 30 de Outubro são como crianças malcriadas, como a agravante de serem adultas. Carregam uma infantilidade perigosa, insufladas por um líder insensível, de postura mítica-messiânica. Essas pessoas não se importam em envolverem seus filhos pequenos num movimento de resistência a uma situação dada como insustentável, na esperança que o País seja levado a uma revolução composta dos “tiozões do pavê” – representantes da tradicional família brasileira – estimulados a abandonarem as suas posturas preconceituosas professadas em churrascadas, enquanto olham para as bundas das menininhas que têm a mesma idade suas filhas, e agirem à favor de uma luta armada.

Com a chegada da adolescência, com a experiência de ver o pai fugitivo ser preso e torturado nos porões do Ditadura, voltei o meu olhar para à esquerda Mas as contradições internas de pessoas também formadas no sistema predatório do Patriarcado, me fez relativizar cada vez os posicionamentos de um lado e outro e perceber que o Sistema Político brasileiro é corruptor e corrupto, derivado historicamente de um Brasil que cresceu à sombra da Escravidão que ainda hoje marca à ferro e fogo o gado que insiste em se manter unido em direção ao Matadouro. Aqueles que perceberam que era hora de mudar o sentido e desviaram para uma possibilidade de futuro sem o viés fascista que sempre fará parte de nossa gênese, mas que pode ter atenuada sua expressão, decidiram pela Frente Ampla Democrática, com Lula à frente. Também foi a minha escolha, assim como em 2018, quando a minha opção foi – por exclusão – em Haddad. Na época, escrevi um pouco antes da votação no Segundo Turno: “Se vencer Haddad, serei oposição. Se vencer Bolsonaro, serei resistência”. Na deste ano, votei francamente a favor de Lula que, com o seu belo discurso na noite da vitória, me fez acreditar que este país ainda possa caminhar no sentido de uma Democracia madura, de convivência de ideias antagônicas, mas longe de extremismos que separam uns e outros de forma violenta e vil.

Oremos e vigiemos…

Participam os autores:
Lunna Guedes / Mariana Gouveia / Suzana Martins / Roseli Pedroso

11 thoughts on “#Blogvember / Aos Cuidados De Novembro

  1. Mesmo Lula tendo vencido e me feito chorar de emoção, continuo apreensiva com o rumo de nosso país pois sei que os adoradores de B não aceitaram a derrota. Haja chá de capim cidreira e maracujá para acalmar meu coração descompassado!

    1. Depois de anos de atitudes e posturas desconexas com a realidade ou, no mínimo, do bom senso, ainda haverá situações complicadas. É tudo tão sem sentido, que não há como entender o que passa pela cabeça dessa gente. O que deixa mais perplexo é que consigam criar enredos imaginativos de tal maneira, que deixam os meus temas no chinelo. Stephen King se sentiria homenageado! Rs…

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