Citadino*

Você me chamou e não a ouvi
Estava absorto na faina cotidiana
Navegava pelos rios de asfalto da cidade
Percorria os túneis de fuga terra adentro
Para fora de mim mesmo
Sempre apartado do meu corpo
O que poderia ser um sinal de independência
Não se cumpria
Pois os pensamentos arquitetados
Por outras mentes
Eram absorvidos pelos meus olhos
Invadiam o meu cérebro
E eram caminhados por minhas pernas
Se incorporando à minha rotina
Como se meus fossem através do poder de intervir
Consumado pela arquitetura citadina
Realizada pelos planejadores do ir e vir
Estava partindo para um lugar certo
Porém não pensava nisso
Mesmo querendo parecer borboleta
Ainda que formada e liberta
Voltava para o meu casulo
Que me atraía
Como tal, as minhas asas voavam um voo curto
Mais decorativas do que eficientes
E termino sendo um simples humano ser
Fingindo um próprio querer…

Foto por Erick Blanco em Pexels.com

*Poema de 2015

Último Pensamento

ÚLTIMO PENSAMENTO

tudo poderia ficar para depois
mas as lembranças não adiam a estadia
enquanto os esquecimentos fazem morada permanente
não há mágoa mas há
para mim não vivo dias porém eternos minutos
passo a passo e em cada um deles para cada memória
aleatória
uma parte de sombra e perdas
porque não fui feito para interagir mal consigo
lhe dar comigo me olvido de mim
esqueço quem sou
para onde vou
não sei de onde vim
me sinto apartado do mundo mas nele vivo
quantas vezes no chuveiro olho para os meus pés
em contato com o piso alagado de reminiscências
que escoam pelo ralo
a água é meu elemento preferido principalmente a salina
nas ondas peito os enfrentamentos e afogo
meus desejos enquanto os afago
sim
eu os tenho sou movido por eles os refuto conscientemente
ainda que os concretize
na temporada junto ao mar chuvas constantes
raios que matam e ferem
após um dia em inquietude desejei ir para a areia
tarde em escuridão de nuvens carregadas
efeitos de zcas el niño la niña seres humanos
apesar disso entrei oceano adentro
me banhei de penitência pensando que talvez morresse
cercado de solidão a minha miopia imperante
meus últimos pensamentos na desconhecida
de todos
visão para outro estado de ser
talvez morresse naturalmente
fulminado por um raio
mas sobrevivi para continuar
a magoar…


BEDA / Voo Emprestado*

Você me chamou e não a ouvi
Estava absorto na faina cotidiana
Navegava pelos rios de asfalto da cidade
Percorria os túneis de fuga terra adentro
Para fora de mim mesmo
Sempre apartado do meu corpo

O que poderia ser um sinal de independência
Não se cumpria
Pois os pensamentos arquitetados
Por outras mentes
Eram absorvidos pelos meus olhos
Invadiam o meu cérebro
E eram caminhados por minhas pernas
Se incorporando à minha rotina
Como se meus fossem através do poder de intervir
Consumado pela arquitetura citadina
Realizada pelos planejadores do ir e vir

Estava partindo para um lugar certo
Porém não pensava nisso
Mesmo querendo parecer borboleta
Ainda que formada e liberta
Voltava para o meu casulo
Que me atraía
Como tal, as minhas asas voavam um voo curto
Mais decorativas do que eficientes
E termino sendo um simples humano ser
Fingindo um próprio querer…

Foto por JESHOOTS.com em Pexels.com

Poema de 2019*, participante do BEDA: Blog Every Day August

Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Bob F / Lunna Guedes / Suzana Martins / Cláudia Leonardi / Denise Gals

O Carinho (2017)

Penélope

Penélope comeu e se posicionou junto à porta da sala. A olhar para fora, parecia, afora contemplar o sol a rebater nas paredes e no piso do quintal, refletir. Naquele momento, quis penetrar em seus possíveis pensamentos e saber se eles iam para além dos desejos imediatos – descansar, para de sentir dor, dormir – e depois voltar a comer… O que não duvidava é que, se me aproximasse, ela simplesmente buscaria as minhas mãos para um toque de carinho…