Eu aprendi a mentir por amar Por uma paixão fora de hora Fora de quadro Sempre a procura de um quarto Por pelo menos um quarto de hora Para devorar e ser devorado Urgentemente…
Ah, amor sem perdão Devotado à perdição Total Irremediável Inadiável Verdadeiro, minto Para tê-lo Senti-lo Sê-lo… Sou uma mentira que ama!
O Humberto e eu fizemos uma caminhada até o Horto Florestal ou, como é oficialmente nomeado, Parque Estadual Alberto Löfgren. A sua origem se deu no século XIX, quando foi desapropriado o Engenho da Pedra Branca, em 1896, para instalação do Horto Botânico. O naturalista e botânico sueco Albert Löefgren foi o seu primeiro diretor, de 1907 a 1909. O Horto Botânico tornou-se a base para a criação do Serviço Florestal, hoje Instituto Florestal, órgão vinculado à Secretaria do Meio Ambiente do Governo de São Paulo.
Lá, encontramos um pedestal com uma imagem de São João Gualberto, padroeiro da floresta. Fundador da Ordem dos Monges Beneditinos de Vallombrosa, seguindo com rigor a disciplina e austeridade às Regras da Ordem, João Gualberto implantou no Vale de Vallombrosa — no território da Comuna de Reggello, na cidade metropolitana de Florença, na região italiana da Toscana — um centro tão avançado e respeitado de estudos que a própria Igreja enviava para lá seus padres e bispos para aprofundarem seus conhecimentos. Todos oravam e trabalhavam a terra, replantando os bosques do Vale e plantando o alimento do mosteiro, por isso são considerados precursores da agricultura auto-sustentável.
Considerado herói do perdão — perdoou o assassino de seu irmão, abrindo os braços e caindo de joelhos, implorando perdão e clemência em nome de Jesus — João Gualberto fundou outros mosteiros, inclusive o de Passignano, na Umbria, onde morreu no dia 12 de julho de 1073. Nos séculos seguintes, esses monges se especializaram em botânica, tanto assim que foram convidados para fundar a cátedra de botânica na célebre Universidade de Pavia. Várias instituições, como as de Pádua, de Roma e de Londres buscavam naqueles mosteiros os seus mais capacitados mestres no assunto. Canonizado em 1193, São João Gualberto foi declarado Padroeiro dos Guardas Florestais pelo Papa Pio XII, em 1951.
Corria o mês de de Junho de 2021. Humberto e eu, caminhamos até o Horto Florestal, distante 4Km de nossas casas, utilizando máscaras, obrigatórias ainda que ao ar livre. Vivíamos então, um das fases em que uma das variantes da Covid-19, imperava, causando muitas mortes.
Neste texto pessoal, uma carta, mas que encarei como profissão de fé, baseado nas leituras que efetivei ao longo de anos, eu respondi ao meu pai – Odulio Ortega – acerca de uma postura parcial quanto à visão da História. Encalacrado em uma visão antiga da qual não conseguia se desviar, ele me acusou de dar voz aos seus adversários políticos, enquanto eu tentava colocar a minha posição quanto ao desenvolvimento dos fatos que então demonstravam, segundo eu pensava, o caminho errado que a Esquerda tomava à época, em 2012*. Havia percebido que o sentido adotado por ela resultaria no enfraquecimento das possibilidades de entendimento entre um ideário e outro, podendo causar, como veio a acontecer, na divisão do País. Sempre soube que sem cotejar visões antagônicas para o exercício político, não haveria futuro para a nossa precária Democracia, de alguma forma atacada de um lado e de outro na tentativa de impor como único. O meu afastamento crítico ainda assim não impediu que seis anos depois pudesse antever o mal causado pelo viés à Extrema Direita que veio afligir o Brasil nos últimos quatro anos. Apesar de no primeiro parágrafo eu ter citado a miscelânea messiânica que ele empregava ao se posicionar, eu igualmente escolhi estabelecer uma postura mais ligada à religiosidade, muito frequente em minhas manifestações pessoais.
“Permita-me inicialmente analisar a maneira como o senhor mistura sistemas de governo com ideários econômicos e religiões com crenças, considerando, inclusive, o estabelecimento de critérios absolutamente pessoais de percepção da realidade como fatos históricos estabelecidos em letras impressas de jornal, derrubando exaustivos estudos de historiadores, antropólogos, arqueólogos e estudiosos sociais que decretaram que os chamados autóctones aqui encontrados, na verdade massacraram os antigos moradores da terra, que por sua vez, chegaram do norte em ondas migratórias que atravessaram o estreito de Bering, que fica entre a Ásia e o Alaska, provavelmente por uma ponte de gelo criada na última era glacial.
O que isto quer dizer? Que nenhuma etnia pertence originalmente ao lugar em que vive, considerando retrospectivamente o tempo de uma forma mais extensa, contado não em dezenas ou centenas, mas em milhares de anos, olhado de uma maneira mais abrangente, como estabelece, aliás, a visão espírita, em que a vida se desdobra em papéis vivenciados em ciclos de “nascimento” e “morte”. Sempre é bom lembrar que nem mesmo Alan Kardec propôs algo original, já que a milhares de anos, o Hinduísmo contempla a existência em diversos planos. Assimilação.
A espécie humana é originária da África, fato determinado por pesquisas feitas com base no DNA mitocondrial, e de lá, avançou continente afora até a Ásia e a Europa, onde fatores ambientais moldaram exteriormente a sua estrutura física, adaptando-se aos requisitos necessários à sobrevivência ao meio. Além disso, considera-se que, como o Homo sapiens, o Homem de Neardenthal chegou a alcançar algum sucesso nesse intento, mas a nossa espécie acabou por suplantar a esta última como a mais apta e inteligente para prosseguir a jornada, a incorporando em eventuais cruzamentos ou até aniquilando-a. Adaptação.
O aumento da inteligência humana, propiciada pela capacidade plástica de nosso cérebro, supõe-se ter sido estimulada por consumo de proteína animal. Para isso, o homem passou a caçar os outros seres viventes que o cercavam, chegando a extinguir algumas espécies contemporâneas de então, como o Mastodonte. Consequentemente, se hoje em dia podemos escolher entre ser onívoro ou abster-se de não participar ativamente da cadeia alimentar, preferindo o Vegetarianismo, como eu optei em determinada época da minha vida, terá sido simplesmente porque construímos uma capacidade ímpar de julgarmos e escolhermos o melhor para nós, graças a um nosso antepassado ousar enfrentar e matar outros animais para comê-los. Assim, ampliamos a nossa quantidade de ligações neurais, possibilitando-nos o domínio sobre a Terra e de tudo que caminha sobre ela. Superação.
Civilizações se ergueram e se desmoronaram, da África à Europa, da Ásia ao Oriente Médio e até na América Pré-Colombiana, com Maias, Incas e Astecas, estas cruelmente especializadas em sacrifícios humanos oferecidos aos deuses. Quando os portugueses e espanhóis invadiram esta terra, aproveitaram-se das várias animosidades existentes entre as diversas tribos aqui estabelecidas, dominaram o território, mesmo sem a presença massiva de homens. Se a sociedade naturalista dos indígenas era assim tão evoluída, porque sucumbiu tão facilmente ao oferecimento de bugigangas e destilados? Se fosse moralmente assim tão capacitada, porque se ofereceu tão ingenuamente à imolação religiosa levada adiante por catequizadores supostamente bem intencionados e não o contrário? Ainda assim, os que sobreviveram á escravidão e às novas doenças, acabaram por adentrar pelo sertão ou acabaram por miscigenar-se aos invasores, formando um povo diferente, que viria a adotar pelos dois ou três séculos seguintes o Tupi-Guarani como língua usualmente empregada no dia a dia. Acomodação.
Por essa perspectiva, eu creio que devemos aceitar que nós, seres humanos, sempre evoluímos entre os escombros de construções precárias e de corpos dados á sanha do conquistador de ocasião. Nossa aptidão deverá o de sempre buscar a luz no caminho, tentando fazer uma verdadeira revolução pessoal que nos fortaleça a ponto de resistirmos eticamente aos assaltos perpetrados pelo egoísmo e então chegarmos ao equilíbrio entre Corpo e Espírito. Revelação.
A chamada ‘Modernidade‘ – nome dado a um processo atual, portanto, é circunstancial. Foi moderno o homem sair da África rumo às outras terras para sobreviver; foi moderno o Homo sapiens sobrepujar ao Homem de Neardenthal, por sua adaptabilidade ao meio; foi moderno o surgimento de civilizações que dominaram a outras, bem como foi moderno as suas quedas; foi moderno o homem cruzar os oceanos e chegar às praias ensolaradas onde os seus habitantes não previram que ali estavam os seus algozes; sempre foi moderno o homem escravizar a outros homens; sempre foi moderno o homem explorar a força de trabalho de outros homens, em seu próprio benefício. Mas o que pode realmente ser chamado de suprema modernidade, acima de todas as coisas, em todos os tempos, e faz com que o homem transcenda a sua humanidade é o ato de perdoar a outro homem, apesar do suposto mal imposto a ele por seu próximo, e ainda assim amá-lo, apesar disso.
Magdalena depositou a taça de vinho do seu lado, no chão, enquanto revistava mais um dos livros que estava separando para encaixotar. Aquele, era dela, com algumas marcações de trechos que considerou significativo de alguma maneira. Numa coletânea de contos de Machado de Assis, havia sublinhado a frase: “Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa apagar o caso escrito”. Bem que gostaria que com ela fosse dessa maneira… Ao contrário, era muito comum vivenciar histórias dentro de histórias. Ela se sentia à vontade em meio a barafunda de referências que colecionava, sabendo separar o que lhe interessava. Naquele momento, pensava no namorado distante fisicamente, morador de outro Estado e… casado — um cantor conhecido. Gostava muito dele e a ausência do homem amado era “compensada” na intimidade de seu quarto por dedos sôfregos e o auxílio de brinquedinhos ao final da noite, antes de dormir, chamando por seu nome… Em meio a tudo isso, organizava a mudança de apartamento, enquanto no trabalho tinha decisões importantes a tomar.
Tinha por característica pessoal conjecturar sobre as situações do cotidiano que, sob a manta da normalidade, abrigavam interpretações mais profundas. Pensava sobre aquele processo em que o relógio da parede tiquetaqueava segundo a segundo o tempo que lhe restava para deixar o seu lar. Sabia que mudanças são o que temos de mais permanente neste mundo. A não ser que o processo seja interrompido. Magdalena lembrava do irmão morto, passagem ainda bastante dolorida. Mudança dimensional. Talvez ainda acreditasse na cura da doença que o levou após um longo e triste período de tentativas em reverter o avanço do mal. Colocar em perspectiva tudo pelo que estava passando, a ajudava a não se afundar na dor que sentia pelo eminente desparto do lugar em que viveu alguns dos fatos mais importantes de sua vida. Principalmente, foi ali que seu filho nasceu, começou a andar, balbuciou as primeiras palavras, aprendeu a desenhar as primeiras letras, a cantar as primeiras musiquinhas, a falar sozinho no espelho, inventando personagens, a fazer dancinhas que criava, a querer se tornar um artista.
Magdalena sabia que a arte era uma das mais sofisticadas linguagens que o ser humano havia criado para a expressão de sua dimensão espiritual. Acabou por se envolver bastante com os caminhos da produção artística e seus criadores, tornando-se produtora de eventos. Seus livros, seus discos, muitos divididos com o ex-marido que viria lhe encontrar para estabelecerem o que iria para um e para outro, marcavam momentos em que construíram vinte anos de casamento. Quando percebeu que a união com Cícero não lhe trazia mais a satisfação da troca prazerosa de antes, decidiu se separar. Algumas de suas atitudes começaram a lhe desagradar, como o de ser excessivamente rigoroso pelo modo de ser de Pedro, além de começar a desviar seu olhar do dela ao ver passar outra mulher.
Separados, os dois mantiveram um bom relacionamento. Permaneceram amigos muito mais por causa dela, que demonstrava maturidade e equilíbrio que quase veio a perder ao saber que logo efetivado o divórcio, engravidou outra mulher depois de uma noitada que mais tarde veio a gerar uma filha, sonho que acalentava enquanto estava casada. Ele nunca quis. Cícero sequer se casou com a moça. Mãe de outra criança, resultado de um breve relacionamento com outro incauto, não queria perder a compensação. Dessa forma, recebia duas pensões alimentícias que lhe garantiam uma vida financeira equilibrada.
O lado bom é que seu filho adorava a irmã, menina bastante sagaz e com um sensível olhar para o mundo. Magdalena gostava de receber a moça de oito anos em sua casa. Conversavam bastante, ela e Bianca. Ela se afligia pelo estilo de vida da mãe, mulher bonita e vaidosa que cria que o mundo se restringia à afetação das redes sociais. Percebia, mesmo tão nova, que a mãe cria que o mundo devesse girar em torno dela. Seu meio-irmão mais velho também se ressentia disso e chegou a dizer para irmã que a mãe se insinuava demais para seus amigos. Amava Pedro e gostava de estar com Magdalena. Espertamente, evitava elogiá-la para a mãe.
Quando Cícero chegou, a apanhou em lágrimas. Ela tinha acabado de ouvir um dos discos favoritos do casal. Vários deles contavam a sua história. A cada lançamento de Alceu Valença, Lenine ou Zeca Baleiro; Chico, Ivan Lins, Djavan ou Zé Ramalho; Caetano, Maria Bethânia ou Gal Costa e Marisa Monte, entre tantos, as histórias em canções derramadas de poesia e paixão, arte e consciência social pontuavam os momentos mais importantes de Magdalena e Cícero. O amor por Elis Regina os uniu, ao frequentarem os mesmos ambientes.
Antes de girar a chave na porta, ele ainda pode ouvir “Essa menina, essa mulher, essa senhora / Em que esbarro a toda hora / Nos espelhos casuais / É feita de sombra e tanta luz / De tanta lama e tanta cruz / Que acha tudo, natural…”. Eles compraram o disco da Elis que tinha essa canção no início do casamento. Magdalena adorava cantá-la, mas sempre com o sorriso de quem admirava a construção da letra e se solidarizava com a mulher que vivia as contradições de trabalhar fora como artista e em casa, destinada, assim como a mãe, a fazer o papel de trabalhadora doméstica. Depois de vinte anos de casamento, quando voltava a cantá-la, mal conseguia sustentar a voz, entrecortada por soluços.
Foi por essa época que ela decidiu pelo fim do casamento. Ele tentou convencê-la de que com essa atitude viria a perder a qualidade de vida a qual estava acostumada, mas Magdalena se mostrou irredutível. Sua vida ia muito além daquela questão. Passada a vertigem dos primeiros tempos por estar sozinho, percebeu que fora a melhor decisão para os dois. Ela voltou a florescer e ele pode levar uma vida sem tantas demandas, a não ser as ligadas ao filho, que preferiu ficar com ele. Pedro culpava a mãe pela separação, a chamando de egoísta. O adolescente não conseguia entender o porquê da decisão dela pensar mais em si do que nele. Ficaram estremecidos por uns dois anos. Testemunhando as provas do amor nos momentos mais decisivos de sua vida, incluindo o apoio da mãe à vida artística como ator e bailarino, reviu seus posicionamentos, incluindo que a percepção de que o egoísmo ocorrera de sua parte.
Ao vê-la naquela condição, Cícero se aproximou comovido e a abraçou. Agradecendo a vida que tiveram juntos, pediu perdão ao seu ouvido. Ela sorriu e voltou a se lembrar da razão por ter se unido ao pai de seu filho. Ele continuava um homem bonito e embriagada pelo vinho e pelas lembranças que assomavam aos borbotões, se beijaram. Esqueceram os anos passados, as brigas pelo estranhamento crescente entre eles, a falta de cuidado e os carinhos que deixaram de ser feitos de parte a parte. O fogo redivivo espantou aos dois que se sentiram quase incestuosos. O que não impediu que se entregassem com prazer animal um ao outro. É como se voltassem a ser os jovens que se possuíam sempre que podiam, impedidos apenas quando a vida os chamava a comparecer às tarefas cotidianas.
Meia hora depois, exangues sobre livros e capas de LPs, choraram a despedida daquele ponto no Universo aonde foram muito felizes. Em mais uma semana, aquele lugar deveria estar esvaziado. Mas com tanto amor a pintar as paredes, a luz das lâmpadas ofuscadas pelo brilho das pessoas que pisaram aquele assoalho. Recordações de vozes a cantar as músicas preferidas que preenchiam as suas vidas, a de parentes e a de amigos; o espaço preferido de muitos, que nunca mais aportariam naquele que fora o lar do querido casal por duas décadas.
Magdalena e Cícero não se arrependeram daquele instante de eternidade. Sabiam que havia sido um ponto fora da curva temporal, uma singularidade cósmica que pertenceria só a eles. Voltariam para os seus amores. Ele estava gostando muito da nova namorada, ela amava o cantor do Rio. E repisariam as dores pessoais. A dele, porque nunca voltaria a encontrar a Magdalena dos primeiros tempos — forte, destemida, alegre, inteligente — desconhecida a cada nova mulher com a qual ficava. Ela, pela distância que a separava de quem amava e o desejo impossível de passearem como se ele fosse um desconhecido na multidão. Acalentava que vivessem momentos fugidios de amor e entrega, sempre intensos. Apenas. Exausta fisicamente e energizada mentalmente, Magdalena dormiu o sono tranquilo de quem teve um lindo passado, a espera do futuro desafiador de quem nunca temeu o novo.
Hoje, é o meu dia. Também. Antes que venham me dizer que sou um homem – talvez mais um a usurpar algo que não seja dele – peço espaço para demonstrar o porquê do meu argumento. Aliás, poderia perguntar: qual dia não seria da mulher?
Eu sou feito de mulher – fui gerado, educado, formado, influenciado por mulheres. Sou filho, pai, marido, irmão, amante das mulheres. Espero que igualmente seja amado por elas. Se não, buscarei aprimorar quem sou para ser digno desse amor.
Eu fico arrasado com as notícias de mulheres assediadas, aviltadas, tripudiadas, seviciadas, torturadas, estupradas e mortas por serem mulheres. Por homens que odeiam as mulheres por serem mulheres. Por serem autônomas, grandiosas, luminares, fortes. Para alguns, a mulher tem que ser derrotada, humilhada, colocada em seu lugar. Patrimônio do patriarcado, estertores de um sistema em vias de extinção.
O homem-macho ataca a mulher por ser diferente. O que o atrai nela – o apelo reprodutor – a torna marcada para exercer uma tarefa específica em torno do qual se constrói um corolário de leis e mandamentos do qual ela não deve se desviar. Para embaralhar mais as mentes mais simples, a personalidade construída no machismo, com a escusa de composição fisiológica, hormonal e mental diversas da feminina, se defende de qualquer viés que lembre que é, no mínimo, metade mulher.
Eu não sei se devido às reações irracionais ao processo de emancipação feminina, houve um aumento exponencial das violências (plural) contra as mulheres, culminando em feminicídios sequenciais. Ou talvez esteja havendo um maior número de notificações, a evidenciar algo tão antigo quanto a formação da sociedade brasileira. A grandíssima parte dos episódios envolvem companheiros, namorados ou conhecidos.
Ou seja, o inimigo dorme junto, é da família, mora ao lado, conhece ou tem contato visual constante com o objeto de ódio, muitas vezes mascarado de amor. De fato, quando o motivo é a rejeição, o único amor que sobressai é por ele mesmo ao avançar contra quem dizia amar. Quem ama verdadeiramente à mulher e a si mesmo não ataca, não vilipendia, não prende, não mata.
Eu, em meu dia, comemorado como Dia Internacional da Mulher, peço desculpas sinceras em nome do gênero sob qual nasci por tanto mal que fizemos, fazemos e faremos (espero que cada vez menos) a você, mulher.