Meu Dia

MEU DIA A

Hoje, é o meu dia. Também. Antes que venham me dizer que sou um homem – talvez mais um a usurpar algo que não seja dele – peço espaço para demonstrar o porquê do meu argumento. Aliás, poderia perguntar: qual dia não seria da mulher?

Eu sou feito de mulher – fui gerado, educado, formado, influenciado por mulheres. Sou filho, pai, marido, irmão, amante das mulheres. Espero que igualmente seja amado por elas. Se não, buscarei aprimorar quem sou para ser digno desse amor.

Eu fico arrasado com as notícias de mulheres assediadas, aviltadas, tripudiadas, seviciadas, torturadas, estupradas e mortas por serem mulheres. Por homens que odeiam as mulheres por serem mulheres. Por serem autônomas, grandiosas, luminares, fortes. Para alguns, a mulher tem que ser derrotada, humilhada, colocada em seu lugar. Patrimônio do patriarcado, estertores de um sistema em vias de extinção.

O homem-macho ataca a mulher por ser diferente. O que o atrai nela – o apelo reprodutor – a torna marcada para exercer uma tarefa específica em torno do qual se constrói um corolário de leis e mandamentos do qual ela não deve se desviar. Para embaralhar mais as mentes mais simples, a personalidade construída no machismo, com a escusa de composição fisiológica, hormonal e mental diversas da feminina, se defende de qualquer viés que lembre que é, no mínimo, metade mulher.

Eu não sei se devido às reações irracionais ao processo de emancipação feminina, houve um aumento exponencial das violências (plural) contra as mulheres, culminando em feminicídios sequenciais. Ou talvez esteja havendo um maior número de notificações, a evidenciar algo tão antigo quanto a formação da sociedade brasileira. A grandíssima parte dos episódios envolvem companheiros, namorados ou conhecidos.

Ou seja, o inimigo dorme junto, é da família, mora ao lado, conhece ou tem contato visual constante com o objeto de ódio, muitas vezes mascarado de amor. De fato, quando o motivo é a rejeição, o único amor que sobressai é por ele mesmo ao avançar contra quem dizia amar. Quem ama verdadeiramente à mulher e a si mesmo não ataca, não vilipendia, não prende, não mata.

Eu, em meu dia, comemorado como Dia Internacional da Mulher, peço desculpas sinceras em nome do gênero sob qual nasci por tanto mal que fizemos, fazemos e faremos (espero que cada vez menos) a você, mulher.

4 thoughts on “Meu Dia

  1. Olha, por mais que entenda a sua colocação, o dia 08 não é seu e nem é meu… é das mulheres que travam batalhas por respeito e espaço. É um dia de luta. Não é para comemorar. Dar rosas e felicitações. Não é um dia. É uma data marcada, feito tatuagem na pele. Uma lembrança do que já foi feito e de tudo que ainda precisa ser feito por nós e se houver a participação de homens, melhor ainda porque caminhar junto é sempre muito melhor.

    1. Tomo para mim, porque, pelo menos, caminho junto, Lunna. Gerei filhas sem as amarras que o Patriarcado estipula como sua régua. Da mesma maneira que você retira de mim esse dia, eu o recupero para conscientizar a todos que devemos seguir juntos na busca de um equilíbrio nas relações humanas.

      1. Eu não retiro de ti o dia, é que para mim não é um dia… é uma data e que pertence a toda e qualquer mulher que mudou meu presente e foram muitas. Ainda há muito por fazer e muitas estão a fazer. Umas mais, outras menos. No seu tempo e espaço.

      2. Como eu escrevi no texto, usando a efeméride como mote: “Aliás, poderia perguntar: qual dia não seria da mulher?” – E, portanto dias de instauração de novos paradigmas de convivência entre os gêneros.

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