BEDA / Coletivo Scenarium / 52 Missivas / Apagão

L.,

nesta segunda-feira, um dia depois do tempo para anoitecer à luz de lâmpadas, lhe envio a missiva que deveria lhe entregar ontem, mas sequer a escrevi. Apesar de estarmos saindo dos piores efeitos da Pandemia, incluindo uma certa sensação de alheamento à passagem dos dias, ainda não consegui desligar o “modo avião” com o qual tenho frequentado os lugares e a vida.

Talvez seja a chegada dos efeitos da passagem do tempo no corpo, pode ser o aprofundamento da minha condição de estar sempre em estado de sonho, como se vivesse outra vida dentro da minha. Atualmente tudo pode ser explicado por fatores condicionais. Eu mesmo cheguei a acreditar que meu comportamento ao longo da vida fosse resultado de um incipiente TDA.

O que sei é que para não parecer muito excêntrico, sorrio nos momentos mais tensos, o que pode levar a crerem que eu seja debochado. O mais comum é que eu me exaspere a ponto de lançar chispas de fogo pelos meus quatro olhos e projete o meu corpo na direção de lugares abertos como se eu estivesse a ponto de fugir do local. Ontem, em uma discussão de família, pedi para pararem o carro para que eu pudesse sair. Depois, calei, porque sei que tropeçaria nas palavras pela falta de roteiro do filme que o meu personagem participava.

Por isso, prefiro escrever. Ainda que, como coloquei numa resposta a uma postagem de M., o que escrevo é como se fossem mensagens guardadas em garrafas que são lançadas ao mar. Um dia, talvez sejam lidas… mas os oceanos costumam guardar nas profundezas os seus (os dele e os nossos) segredos.

Na minha condição de prestador de serviços (ocasionais), as horas se afiguram como canta Morrissey: “Everyday Is Like Sunday“. Tenho dormido pouco e mal. Tomo café compulsoriamente para evitar dormir durante o dia. A vontade do café, o gosto agridoce, que tenho tentado tornar cada vez mais amargo, ao retirar pouco a pouco o adoçante, tudo me faz crer que quando vier o Amargedon, terei uma xícara do precioso líquido pretinho em minhas mãos…

Imagem: Foto por Monstera em Pexels.com

Participam do BEDA: 
Lunna Guedes / Alê Helga / Mariana Gouveia / 
Cláudia Leonardi 

Outros Carnavais*

Eu, com Romy, Verônica, Ingrid e Lívia – 1998

Entre os resgastes realizados por nós dos registros memoriais de imagens nos baús (caixas de sapatos) do passado, encontrei esta foto de 1998. A Ortega Luz & Som, nossa empresa familiar de locação e operação de equipamentos de sonorização e iluminação para eventos, participou de muitos bailes de Carnaval no Clube Guapira, do bairro de Jaçanã, juntamente com a Banda Nova Geração, quando o Carnaval de Salão ainda tinha alguma repercussão na cidade de São Paulo. Hoje, as melhores bandas da cidade são convidadas para realizar as suas apresentações no interior deste e de outros Estados, onde alcançam sucesso de público, tanto quanto acontecia naquela época por aqui.

Eram milhares de pessoas nas quatro noites e três matinês, estas últimas especialmente voltadas para as crianças. Sempre que havia oportunidade, as meninas da casa compareciam em pelo menos uma delas, o que parecia lhes trazer bastante alegria e, por elas, eu me alegrava. Por meu turno, já havia percebido que o Carnaval perdera o seu encanto de fantasia e poesia, ou talvez fosse eu que não alcançasse mais a minha criança dos tempos em que morava na Penha, perto da Vila Esperança, imortalizada em uma canção de Adoniran Barbosa, quando o Carnaval de Rua tinha uma enorme expressividade, colocando os assuntos mais prementes do ano sob a ótica da irreverência nos desfiles de pessoas comuns que, com imaginação e criatividade, nos mostravam a cara mais alegre do povo brasileiro. Adorava ver a aparente desordem em cortejo de roupas extravagantes e trejeitos exagerados dos componentes dos blocos, com as baterias tocando no compasso de meu coração acelerado. Esse período foi vivido na década de sessenta, quando houve a assunção dos militares ao poder e, mesmo assim, as críticas sociais persistiam e parece que os mandatários faziam vistas grossas para aquelas ousadias. Passadas três décadas, lá estava eu, reproduzido nos corpos de minhas filhas, Romy, Ingrid e Lívia, carregando o mesmo entusiasmo pueril, em confete e serpentina.

E porque falo sobre o Carnaval antes do Natal, tão mais próximo no calendário? Sempre cogitei que o Carnaval fosse muito mais autenticamente nosso que o Natal. Aliás, se fôssemos legítimos latinos, daríamos presentes no dia 6 de janeiro, Dia de Reis, como é tradição nos países colonizados pelos espanhóis e portugueses e não no mês de São Nicolau. Voltando à foto, nela estão as minhas três filhas, mais a do Humberto, Verônica, vestindo a indefectível vestimenta de odalisca ou algo parecido, o que deveria conferir o aspecto de viagem para outra realidade, que é o que o Carnaval parece representar para quem vive a fantasia de viver outra personagem. Estão lindas, estão felizes ou estão lindas porque estão felizes. Se bem que nem tão contente parecia estar a “Licota“, que nos seus dois anos e poucos meses de idade, devia estar mais assustada do que qualquer outra coisa.

Em uma viagem de quase vinte anos à frente, para 2015, o Carnaval ocorrerá no mesmo mês daquela festa de 1998, em fevereiro, como é tradição. O Brasil terá desse modo transcorrido um período de dezessete anos, em que se trocou a história viva pelo esquecimento e o povo, a inocência pela culpa, a esperança pela descrença, a identidade com o Carnaval por uma identidade carnavalesca. Simplesmente dizer “como nunca antes neste País” nunca pareceu tão falso, já que o presente é resultado de nossas ações do passado e o futuro se faz hoje…

*Texto de 2014

BEDA / Scenarium / O Outro

A apresentação pública que faço de mim é a de alguém que se identifica com a defesa do humanismo voltado para a transcendência, visando a proteção do ecossistema e o respeito aos outros seres que convivem conosco na biosfera. Fora dessa perspectiva, quem defende ideias diferentes me ofende profundamente. Cheguei a me imaginar como um antípoda ao que preconizei acima como exercício de compreensão daquele que se me opõe. Em tese, conseguiria fazê-lo. Eu os encontro em meu círculo familiar, entre colegas de trabalho e nas minhas redes sociais.

Estabeleci como elemento de desordem o “outro”. Conquanto o meu ponto elementar de desequilíbrio seja eu mesmo, quis alcançar àquele que me desorganiza externamente. Dizer simplesmente que “o inferno são os outros” não seria suficiente. Eu me pus a identificar quais falas e atitudes do outro quebram a minha homeostase. Ainda que passeasse por zonas sombrias do meu ser, ao olhar para o abismo tenho certeza de que voltaria à minha posição inicial. Suposição incrível para alguém que refuta por entendê-las como indício de loucura.

Seria mais fácil criar uma personagem que se colocasse como porta-bandeira do obscurantismo, do desconhecimento, da misoginia, da homofobia e do racismo; que fosse elitista, antidemocrática e entendesse o poder econômico como hegemônico, colocando-o acima da necessidade de atendimento às demandas sociais. Mas na vida real essa personagem já existe. Na verdade, foi eleita como representante incondicional de pelo menos um terço da população que se amolda ao que seja conveniente no momento ou que simplesmente acompanha a manada — do país onde nasci e vivo. Percebi que defender o indefensável seria impossível. Ir contra as diretrizes que considero o melhor para a maioria das pessoas e para mim, me paralisou.

Tenho frescas em meus ouvidos as últimas notícias do atual desgoverno — o fogo a se alastrar por grande parte do território brasileiro; a mortandade pela Covid19 de centena de milhar das pessoas menos protegidas pelo Estado; o desmonte da estrutura que manteve os índices sociais razoavelmente estáveis nos últimos anos, a exemplo do SUS e dos projetos de inclusão; o ataque direto à cultura, como o feito à Cinemateca Brasileira onde todos os funcionários especializados na preservação do importante acervo audiovisual nacional foram demitidos. Como é que conseguiria me colocar no lugar de alguém que defende práticas tão perniciosas, de viés fascista; que promulga por decreto o genocídio do brasileiro comum e o etnocídio que solapa a identidade cultural indígena?

Quando surgiu o movimento de extrema direita que assumiu o comando administrativo do Brasil, eu me surpreendi com a quantidade de defensores dessa visão de mundo que se opunha brutalmente à minha. Artistas com os quais trabalhava (principalmente, músicos) não deveriam se colocar em sentido inverso ao que era propagado pelo candidato? Assumiriam a faceta que propunha retrocessos políticos e agitariam bandeiras retrógradas em termos sociais?

Ser esse outro não é apenas olhar para o abismo, mas mergulhar na lama primordial da qual foi gerada a vida eu me tornaria uma ameba. Não teria de onde retornar, a não ser depois de milhões de anos de evolução. Prefiro morrer para esta vida a reviver por inteiro o drama de nosso desenvolvimento: voltar a ser um primata que lutará pela vida na floresta; até vir a encontrar o monólito que me tornará o primeiro ser humano; inventar os instrumentos de sobrevivência da espécie; participar da luta pelos espaços; instaurar grupos homogêneos como plataforma de expressão coletiva; desenvolver civilizações; guerrear contra os inimigos; trucidar oposições; formar países; escravizar povos e estabelecer ideologias hegemônicas como forma de dominação do outro…

Será que não podemos aprender com o que já vivemos em nossa história e deixarmos de praticar ações perniciosas contra nós mesmos e contra os outros seres com os quais coabitamos? Ou estamos condenados a reviver todos os dias mesmos dolorosos ciclos até o final dos tempos — um déjà vu em moto-contínuo?

Quase peço ao sol que antecipe em bilhões de anos a explosão que extinguirá os planetas ao seu redor, incluindo a nossa pequenina Terra. Porém, sei que é egoísmo da minha parte. Quem sabe as novas gerações modifiquem o nosso percurso atual e transformem Gaia em um planeta redentor?

Cena de 2001 – Uma Odisseia No Espaço – encontro do monólito pelos macacos.

B.E.D.A. — Blog Every Day August

Adriana AneliClaudia LeonardiDarlene ReginaMariana Gouveia

Lunna Guedes

BEDA / Scenarium / Valéria, A Cantora*

VB

O mundo é o palco onde interpretamos os nossos papéis, os mais variados possíveis. Um personagem pode viver situações diversas ao longo de sua atuação e isso vai perfazendo a sua trajetória e moldando a sua caracterização. Por vezes, costumamos acreditar que algumas pessoas já nascem com o sua personalidade formada, o seu papel escrito, com o final traçado. Dessa maneira, fica mais fácil compreendermos uma história, simplificada em seus matizes e percepções. Em outras ocasiões, nos deparamos com personagens incompreensíveis, em argumentos inverossímeis, com desempenhos canastrões. Quando, no entanto, nos encontramos com protagonistas reais, com histórias verdadeiras, muitas vezes dramáticas e que mesmo assim superaram o lugar comum de coadjuvantes na peça, fazendo coro ou escada, isso é tremendamente emocionante. Demonstrando força e talento incomuns, transformam a sua passagem pelo Teatro da Vida em “tour de force” espetacular, emocionando a quem os assiste. É deste modo que eu vejo a Valéria Bezerra.

Há algum tempo não a via. Sabia que passara por um processo doloroso de superação de uma doença grave e que estava voltando, pouco a pouco, a cantar na antiga forma, quando sempre foi considerada uma das melhores cantoras das noites e dias de São Paulo. Tem uma longa história, em passagens por bandas de baile e eventos famosas, como Santa Maria, Réveillon, Primeira Mão, Sammy’s Band e algumas outras. Já atuou em várias casas noturnas e participou de programas de televisão. Acompanho a sua performance há quase trinta anos, inicialmente como fã, como quando a assisti em um show da Banda Santa Maria, do Toninho, pai do André​, atual condutor, no velho Olímpia, com a participação de outros grandes músicos e cantores, como Paula Zamp. E, depois, como locador e técnico de equipamentos na Ortega Luz & Som, quando participei de alguns momentos de sua carreira.

Lembro-me de uma ocasião em que estávamos em uma escola de periferia para apresentarmos um “show room” de formatura. Era um público juvenil e inquieto, talvez até antagônico. Ao lado dela, outro grande comunicador e cantor, Josias Correia, porventura não tivesse percebido a sorte de contar com a presença de espírito da Valéria, que dominou a situação com maestria e soube envolver o público com desenvoltura e perspicácia. Quando ambos terminaram a apresentação, tinham conseguido realizar o trabalho com sucesso.

Em outro ambiente, o Teatro Renault, nos reencontramos e vivenciamos, igualmente, a ocorrência de um fato correlato em seu teor de efervescência. Antes de falar do fato em si, faço questão de ressaltar que a Valéria está voltando a cantar tanto quanto antes. Durante todo o evento, em que se apresentava compondo o Coral & Banda Sant’Anna Show, realizou com perfeição a sua parte e fez mais, auxiliando o seu companheiro, Rafael Ismério, com “backing-vocals” nas ocasiões devidas, algo inusual para tantos cantores hoje em dia. Fez questão de fazer “sala”, que vem a ser uma apresentação para recepcionar o público antes da abertura oficial dos trabalhos, que seriam dirigidos pelo competente Sidney Botelho. É comum alguns artistas não quererem se apresentar além do que são pagos para fazer e não desmereço essa opção, mas ela estava realmente disposta a fazê-lo como quem quer beber um cantil d’água, após uma temporada no deserto. O grande palco e a numerosa plateia pareciam ser detalhes menores, que ela não se importava de enfrentar, ou antes, que estava ansiosa em fazê-lo. Entreteve com habilidade o público e, assim inspirado pela presença da grande cantora, o Rafael também desempenhou muito bem as suas canções. Naquele momento, percebi que o ciclo se completava diante dos meus olhos – a antiga “Diva” e o jovem “crooner” apresentavam o enredo eterno e sempre revivido do encontro das águas do Tempo, com suas experiências pessoais se entrechocando e se misturando. Ambos foram muito aplaudidos e a imponência do teatro emprestava um toque de primazia ao espetáculo.

Bem, vamos ao momento de dramaticidade a que aludi anteriormente. Deixei para o final, porém foi logo no começo da cerimônia. Na entrada dos formandos, soltei “Viva La Vida” e por um erro técnico da minha parte, o computador, em determinado instante, “deu pau”, parando a execução da música. Isso durou um ou dois minutos, ocasião em que alguns poucos do auditório trataram de cobrir o silêncio com murmúrios e vaias. A Valéria, percebendo que precisava intervir, pegou do microfone e começou a cantar para acompanhar o cortejo dos alunos. Resolvido o problema, voltei com a música e agradeci o esforço dela. Pude perceber o quanto os eventos dramáticos, os decisivamente vitais e os evidentemente modestos, são amplificados ou diminuídos pelos atores que os interpretam. Para mim, não existem histórias menores, mas talentos redutores. Não existem aventuras apoteóticas, mas representações magistrais. Não importa o tablado que se dá – na escola pública ou no mais majestoso teatro da cidade. O grande personagem desenvolve o seu papel da melhor forma possível. E a Valéria provou que atua dessa maneira em qualquer palco em que se apresenta – naquele reservado para poucos ou no Mundo – para todos nós…

*Texto de 2014.

 

Beda Scenarium

20/20

2020
Entardecer de 30 de Dezembro de 2019

Na visão física, há várias causas de baixa de acuidade visual: as ametropias (miopia, hipermetropia ou astigmatismo) estão entre as mais frequentes e que podem ser corrigidas com a utilização de óculos, lentes de contato ou cirurgia. Entre outras das causas mais comuns estão a catarata, as doenças da retina, como a degeneração da mácula e do nervo, como o glaucoma. A acuidade visual depende de fatores ópticos e neurais: da nitidez que a imagem chega na retina, da saúde das células retinianas e da capacidade de interpretação do cérebro. A acuidade visual (AV) é medida colocando a pessoa a ser testada a uma distância de 6 metros (20 pés) para ler optotipos – letras, números, símbolos ou figuras – de tamanhos cada vez menores. A acuidade visual normal é chamada de visão 20/20. Acima de 20/200, a pessoa é considerada, virtualmente, cega.

No entanto, o pior cego é aquele que não quer enxergar. A percepção é prejudicada por vários fatores, como o uso de lentes que, em vez de melhorar, prejudicam sua acuidade visual. Essas lentes, como as que conhecemos no uso comum dos óculos, mesmo que invisíveis, se antepõem ao olhar. Aquilo que se apresenta de uma maneira para um, surge diferente para outro. Enxergar, nesse caso, passa por ver, perceber, identificar, descortinar e, eventualmente, prever – dada a condição particular de conseguir unir todas as características que determinam algo – objetos, situações ou ideias através de interpretações díspares. Aqueles que obtém os mesmos padrões de percepção, costumam se reunir em grupos que defendem seus paradigmas com unhas, dentes e tacapes. Os humanos, então, remontam ao comportamento de seus ancestrais e ao antigo hábito de se perfilarem em tribos entocadas em posições imutáveis.

Ajudou-me muito em perceber o quanto a minha miopia ultrapassou o limite físico e se instalou no mental ao ter feito um exercício em que tentei prever os acontecimentos de 2018 – ano de eleição do personagem que comandará nossas discussões durante anos a fio adiante. Está registrado em “Previsões Para Vinte-Dezoito” em uma das edições da Revista Plural, da Scenarium. O que surgia como uma possibilidade subestimada, irrompeu feito uma certeza inaudita. O entendimento que julgava ser o mais evidente, por ser razoável, travestiu-se em ficção de filme B de horror ou uma realidade alternativa do multiverso. Quedamos ameaçados por personagens que um bom ficcionista não ousaria roteirizar, de tão canhestros que são. No entanto, todos já existiam antes. Apenas ganharam a luz do dia, feito um personagem da minha infância – O Monstro Da Lagoa Negra.

Sou daqueles que, apesar de usar óculos materiais, sempre tentou aprimorar o olhar para além das convicções. Para alguns de meu trato pessoal, é considerada irritante a minha postura de “advogado do diabo”, ao contra-argumentar qualquer tema sob o olhar oposto. Tenho “amigos” de todas as percepções ideológicas. Para os mais extremados, se não estou com eles, estou contra eles. No Facebook, tenho evitado postar textos mais extensos porque me cansei de ter que explicar o inexplicável para aqueles que não buscam o reto, mas o caminho em linha reta de suas próprias convicções. Tenho preferido publicar meus textos no WordPress. Entra quem quiser ler. Vez ou outra, solto frases de efeito (curto), a considerar o fato que as mídias são “livros” que guardam todas as suas páginas na eternidade da nuvem.

Portanto, nesta rede, o que ajudará ou prejudicará a defesa de meus argumentos será o Tempo. O quanto penetrei na escuridão para conseguir identificar o que se esconde por trás do véu imposto pelos contraditores da realidade. Guardado pela perenidade, os meus ditos e contraditos determinarão o quanto enxerguei e o quanto obliterei da sociedade brasileira, ainda que muita da minha visão tem a pretensão de ser poética. E, como já disse Borges, “os poetas, como os cegos, podem ver no escuro”. Quem escreve poesia sabe que ao se libertar dos laços que nos prendem ao imediato e ao casual, conseguimos alcançar a causa – a origem de tudo o que nos move. E a causa mais visível da vida como a conhecemos é o Sol. Através da luz que emite, podemos vislumbrar o plano que vivemos. O movimento circular da Terra nos dá oportunidade, em suas zonas médias, que desfrutemos de sua energia criativa.

Por isso, presto minha homenagem ao Sol – a melhor oportunidade de nos reconhecermos menores – em busca de nos tornarmos maiores. Além da capacidade de clarear nosso campo visual, os monstros do pântano – como o citado acima – normalmente têm fotofobia. Para 2020, visão 20/20. E que, ainda que enxerguemos as sujidades dos tempos vindouros, que busquemos a felicidade, quadro a quadro, dia a dia.