Caro companheiro de jornada,
possuo a doença dos espaços incomensuráveis. Plano entre planos, ultrapasso fronteiras, mergulho em dimensões várias, infinitas, ínfimas, atômicas. Invado buracos negros, comprovo a matéria escura, enquanto passeio entre galáxias que giram por multiuniversos. O meu espírito paira entre as tramas que sustentam os milhões de planetas e suas multidões de espécies interestelares, diversas e exemplares em diversidade.
Somos filhos do mesmo Princípio e Fim, amálgama de substâncias alienígenas, resultado de bilhões de Tempos. Sei de nossa incapacidade em sabermos de nós. Percorro caminhos paralelos e coincidentes em destinos e recomeços. Corro por ciclos circulares de energia em consumações e criações eternas. Imprimo movimentos em velocidades portentosas por campos gravitacionais exponenciais em proporções absurdas de tão simples e luminares.
A Luz se alterna em cores que cortam meu corpo em fatias de frequências titânicas. Habitante do Nada total, a avalanche de sóis não soluciona a minha solidão quando me sinto apartado de Tudo. Sem sentido e profundidade, voo a esmo, com sorte decidida.
Ainda assim, lhe pergunto: quando poderemos tomar um prosaico, ainda que importante café para discutirmos os nossos interesses no momento imediato a lamentarmos a impossibilidade de sermos felizes?…
Com admiração, Pássaro Desencantado.
Foto por Felix Mittermeier em Pexels.com
Participam: Mariana Gouveia / Lunna Guedes