16 / 04 / 2025 / BEDA / Concretismo*

Quando vejo qualquer imagem, ouço qualquer palavra, experimento qualquer sabor, cheiro qualquer olor ou aprisiono em minhas mãos qualquer objeto, desenho na parede da minha imaginação a linha reta que desvirtua a realidade, aperfeiçoando-a ou a decupando. Traço o meu caminho colocando cada pedra devidamente plana em direção ao abismo. Homenageio o poeta que não sou e não serei, erijo a porta que não ultrapassarei. Existo e hesito em reconhecê-lo. No entanto, a expressão do que sinto insiste em se fazer presente, mesmo que seja o sol da manhã emparedado. Esta é a minha singela homenagem a Décio Pignatari, que ajudou a despertar em mim, com a sua obra, o gosto pela brincadeira de escrever.

*Texto escrito no dia 02 de Dezembro de 2012, por ocasião do passamento do poeta Décio Pignatari.

Papo Reto

Marginal Pinheiros

há um padrão no caos
revela que nós
paulistanos de fora ou daqui
somos repetitivos – erguemos nossas casas
em imperfeitas linhas retas 
elevamos a nossa imaginação do chão
em reta sobre reta
teto sobre teto
sempre mais alto
sempre mais raso
mais do que seria conveniente
vemos ejacular por alguma antena de aço
a simetria em distonia
e a cor intrometida
em berros pecaminosos
o elemento humano constitui a exceção
à regra – o caminho é um papo reto
a quadratura descobriu
por estas paragens
a sua cidadela.

Elevados na região central em direção ao Leste

atravessar pontes
em tempos nebulosos
atravessar tempos
em pontes tortuosas
atravessar pontempos…