*Em 2014, nós, meu irmão e eu saímos cedo para trabalhar pela Ortega Luz & Som. Quando os primeiros raios solares iluminavam o dia, lá estava esse casal de cães ora sentados, ora brincando juntos durante o tempo que estivemos abastecendo os carros para seguirmos viagem. Formavam um lindo casal. Essa cena se espraiou pelo resto do meu dia. E hoje, ao relembrá-la, melhorou a minha manhã. Acabei por perceber que apenas os bons romances resistem à luz do dia…
Etiqueta: romance
03 / 02 / 2025 / Nota De Esclarecimento Fúnebre*
Em 02 de fevereiro de 2018*, escrevi:
“Não fui eu, Obdulio Nuñes Ortega, que desencarnou na madrugada de ontem. Mas sim o meu pai, quase um homônimo — Odulio Ortega. Morrer é um fenômeno natural, assim foi a ocorrência da Super Lua, de quarta para quinta. Um dia, morrerei. A vida só é enigmaticamente tão bela porque temos a morte a nos cortejar para um romance eterno, vida após vida. Quanto ao meu pai, ele foi um homem que viveu plenamente e se foi calmamente aos quase 86 anos de idade. Um abraço forte em todos que se preocuparam com a minha condição de órfão tardio ou defunto precoce.
BEDA / O SORRISO
O sorriso lateral da Tarde
Me emudece, mas não me cega
Pergunto à quase Noite
Porque sorri
Responde que venceu o Dia
E deitará a cabeça
Para além da curva do rio
Luminoso
No colo do Sol em novo romance
Olho para o Horizonte
Cada vez mais escuro
E me sinto o momento que fica
Eterno
Em sua finitude…
Participação: Lunna Guedes / Mariana Gouveia / Claudia Leonardi / Roseli Pedroso / Bob F.
Horizontes
Escuridão
passeio os olhos por onde já passei
longe os caminhos
longos os desalinhos
largos os desatinos
beijos roubados
corações desarvorados
feito árvores desbastadas
pássaros sem os seus ninhos
deserto em planos sequenciais
serras peladas de onde o ouro foi levado
o olhar até o limite que a curva faz
a luz a derrapar e fugir em que jaz
espíritos em busca de paz
na dissonância de línguas caladas
no silêncio de peles escamadas
na separação de corpos cansados
perdidos de si no ponto cego
do horizonte que se veste de escuridão.
Sorriso
o sorriso lateral da tarde
me emudece, mas não me cega
pergunto à quase noite
porque sorri
responde que venceu o dia
e deitará a cabeça
para além da curva do rio
luminoso
no colo do sol em novo romance
olho para o horizonte
cada vez mais escuro
e me sinto o momento que fica
eterno
em sua finitude…
O Dia Em Que Fui Dado Como Morto
No dia 1º de Fevereiro, completou quatro anos que o meu pai nos deixou fisicamente — mesmo mês da partida da minha mãe, em 2010. Como tínhamos o primeiro nome bem parecido, com apenas um prosaico “b” mudo a nos diferenciar depois do “O” e entre o “d“, várias pessoas acharam que seria eu a ter partido desta para melhor. Fiquei um tanto chateado principalmente pelo meu texto ter sido mal interpretado. Como escritor, essa é uma das coisas que mais me aborrece. Se bem que seja comum eu querer mais confundir do que explicar em vários dos meus escritos, porém não seria ao tratar desse assunto que faria isso. Estando “morto”, recebi demonstrações de carinho e espanto com a indefectível pergunta: “morreu do que?”. Se fosse atualmente, a Covid-19 seria uma possibilidade, mas isso se deu em 2018. Gostaria que vocês mesmos avaliassem se dei essa chance de anunciar por palavras a minha morte, feito um bilhete de suicídio. Devido à repercussão, fui obrigado a divulgar uma “Nota de Esclarecimento”, que divulgo abaixo da primeira.
“NOTA DE FALECIMENTO
Anuncio a parentes, amigos e aos que conheciam o meu pai, Odulio Ortega, que ele faleceu no início da madrugada de hoje, no Hospital São José, no Imirim, onde estava internado há alguns dias. Devido ao horário, dificuldades com a documentação (que ficou pronta apenas às 13h), indecisão quanto a determinação do local do enterro e pouco tempo para o velório (apenas três horas e meia), não tivemos oportunidade de avisá-los. Uso este meio para tal tarefa, junto a um pedido de desculpas por essa desfeita sem intenção. O féretro foi acompanhado por seus filhos — Obdulio, Marisol e Humberto — netas, noras, amigos próximos e a companheira dos últimos trinta anos, Maria Nazaré. Pedimos orações e compreensão pela difícil situação. Agradecemos a solidariedade.”
“NOTA DE ESCLARECIMENTO
Não fui eu, Obdulio Nuñes Ortega, que desencarnou na madrugada de ontem. Mas sim meu pai, quase um homônimo — Odulio Ortega. Morrer é um fenômeno natural, assim foi a ocorrência da Super Lua, de quarta para quinta. Um dia, morrerei. A vida só é enigmaticamente tão bela porque temos a morte a nos cortejar para um romance eterno, vida após vida. Quanto ao meu pai, ele foi um homem que viveu plenamente e se foi calmamente aos quase 86 anos de idade. Um abraço forte em todos que se preocuparam com a minha condição de órfão tardio ou de defunto precoce.”







