15 / 12 / 2025 / Bons Romances*

*Em 2014, nós, meu irmão e eu saímos cedo para trabalhar pela Ortega Luz & Som. Quando os primeiros raios solares iluminavam o dia, lá estava esse casal de cães ora sentados, ora brincando juntos durante o tempo que estivemos abastecendo os carros para seguirmos viagem. Formavam um lindo casal. Essa cena se espraiou pelo resto do meu dia. E hoje, ao relembrá-la, melhorou a minha manhã. Acabei por perceber que apenas os bons romances resistem à luz do dia…

03 / 02 / 2025 / Nota De Esclarecimento Fúnebre*

Em 02 de fevereiro de 2018*, escrevi:

“Não fui eu, Obdulio Nuñes Ortega, que desencarnou na madrugada de ontem. Mas sim o meu pai, quase um homônimo — Odulio Ortega. Morrer é um fenômeno natural, assim foi a ocorrência da Super Lua, de quarta para quinta. Um dia, morrerei. A vida só é enigmaticamente tão bela porque temos a morte a nos cortejar para um romance eterno, vida após vida. Quanto ao meu pai, ele foi um homem que viveu plenamente e se foi calmamente aos quase 86 anos de idade. Um abraço forte em todos que se preocuparam com a minha condição de órfão tardio ou defunto precoce.

Horizontes

Escuridão

passeio os olhos por onde já passei

longe os caminhos

longos os desalinhos

largos os desatinos

crimes na boca da noite

beijos roubados

corações desarvorados

feito árvores desbastadas

pássaros sem os seus ninhos

deserto em planos sequenciais

serras peladas de onde o ouro foi levado

o olhar até o limite que a curva faz

a luz a derrapar e fugir em que jaz

espíritos em busca de paz

na dissonância de línguas caladas

no silêncio de peles escamadas

na separação de corpos cansados

perdidos de si no ponto cego

do horizonte que se veste de escuridão.

Sorriso

o sorriso lateral da tarde

me emudece, mas não me cega

pergunto à quase noite

porque sorri

responde que venceu o dia

e deitará a cabeça

para além da curva do rio

luminoso

no colo do sol em novo romance

olho para o horizonte

cada vez mais escuro

e me sinto o momento que fica

eterno

em sua finitude…

O Dia Em Que Fui Dado Como Morto

No dia 1º de Fevereiro, completou quatro anos que o meu pai nos deixou fisicamente mesmo mês da partida da minha mãe, em 2010. Como tínhamos o primeiro nome bem parecido, com apenas um prosaico “b” mudo a nos diferenciar depois do “O” e entre o “d“, várias pessoas acharam que seria eu a ter partido desta para melhor. Fiquei um tanto chateado principalmente pelo meu texto ter sido mal interpretado. Como escritor, essa é uma das coisas que mais me aborrece. Se bem que seja comum eu querer mais confundir do que explicar em vários dos meus escritos, porém não seria ao tratar desse assunto que faria isso. Estando “morto”, recebi demonstrações de carinho e espanto com a indefectível pergunta: “morreu do que?”. Se fosse atualmente, a Covid-19 seria uma possibilidade, mas isso se deu em 2018. Gostaria que vocês mesmos avaliassem se dei essa chance de anunciar por palavras a minha morte, feito um bilhete de suicídio. Devido à repercussão, fui obrigado a divulgar uma “Nota de Esclarecimento”, que divulgo abaixo da primeira.

1º de Fevereiro de 2018 – sepultamento de Odulio Ortega

NOTA DE FALECIMENTO

Anuncio a parentes, amigos e aos que conheciam o meu pai, Odulio Ortega, que ele faleceu no início da madrugada de hoje, no Hospital São José, no Imirim, onde estava internado há alguns dias. Devido ao horário, dificuldades com a documentação (que ficou pronta apenas às 13h), indecisão quanto a determinação do local do enterro e pouco tempo para o velório (apenas três horas e meia), não tivemos oportunidade de avisá-los. Uso este meio para tal tarefa, junto a um pedido de desculpas por essa desfeita sem intenção. O féretro foi acompanhado por seus filhos Obdulio, Marisol e Humberto — netas, noras, amigos próximos e a companheira dos últimos trinta anos, Maria Nazaré. Pedimos orações e compreensão pela difícil situação. Agradecemos a solidariedade.”

NOTA DE ESCLARECIMENTO

Não fui eu, Obdulio Nuñes Ortega, que desencarnou na madrugada de ontem. Mas sim meu pai, quase um homônimo — Odulio Ortega. Morrer é um fenômeno natural, assim foi a ocorrência da Super Lua, de quarta para quinta. Um dia, morrerei. A vida só é enigmaticamente tão bela porque temos a morte a nos cortejar para um romance eterno, vida após vida. Quanto ao meu pai, ele foi um homem que viveu plenamente e se foi calmamente aos quase 86 anos de idade. Um abraço forte em todos que se preocuparam com a minha condição de órfão tardio ou de defunto precoce.”