Escuridão
passeio os olhos por onde já passei
longe os caminhos
longos os desalinhos
largos os desatinos
beijos roubados
corações desarvorados
feito árvores desbastadas
pássaros sem os seus ninhos
deserto em planos sequenciais
serras peladas de onde o ouro foi levado
o olhar até o limite que a curva faz
a luz a derrapar e fugir em que jaz
espíritos em busca de paz
na dissonância de línguas caladas
no silêncio de peles escamadas
na separação de corpos cansados
perdidos de si no ponto cego
do horizonte que se veste de escuridão.
Sorriso
o sorriso lateral da tarde
me emudece, mas não me cega
pergunto à quase noite
porque sorri
responde que venceu o dia
e deitará a cabeça
para além da curva do rio
luminoso
no colo do sol em novo romance
olho para o horizonte
cada vez mais escuro
e me sinto o momento que fica
eterno
em sua finitude…