Mulher De Vermelho Fogo

Patrícia, Artur, Júlia e Vicente personagens de Mulher De Vermelho Fogo

Há oito anos, voltava de uma visita técnica a um espaço onde faria um evento através da Ortega Luz & Som. Na direção do carro, um colega de trabalho de muitos anos, músico e organizador da banda que faria a apresentação, parou no semáforo da Teodoro Sampaio, quase esquina com a Dr. Arnaldo. Pela faixa de segurança vi passar uma moça de presença diáfana vestia um vestido leve, esvoaçante, cabelo solto. A roupa que a encobria não evidenciava as formas de seu corpo, mas a sua presença destoava do trânsito caótico como se fosse uma vestal em meio a guerra, exalando beleza por todos os poros. Fiquei impressionado pela aparição e disse ao meu amigo: “Olha, que linda!”. Ele respondeu: “Ah, eu conheço. Trabalha lá…”. Pensei: “Caramba! Parece uma das minhas filhas!”

O meu amigo, tecladista, trabalhava em uma casa de encontros, tocando em uma das bandas que se revezavam na animação do ambiente. Quando soube que ela era uma garota de programa, vi reforçada a minha convicção de que preconceituamos pela aparência por mais libertários que pretendamos ser. Ali, estava uma moça naturalmente bela, que poderia ser qualquer uma, que chamava a atenção por caminhar como se o mundo à sua volta não existisse. Porém, ele existia. E o mundo faz isso com as pessoas — as devoram e as vomitam equalizadas. Comecei a imaginar as circunstâncias que levaria alguém a entrar para esse universo estranho, fascinante, perigoso e, apesar de evidente, oficialmente rejeitado. Nessas circunstâncias, surgiu Garota De Programa em que conto a história de Patrícia. Nele, não julgo, mantenho uma voz passiva e apenas passo adiante uma história que parecia possível, mas não provável.

Até que, após publicá-la em 2013 no Facebook, alguém me revelou pelo Messenger: “Cara, você contou a história da minha vida!”. Fiquei entre emocionado e extasiado. Havia tocado a sensibilidade de alguém com algo surgido em minha imaginação, ainda que baseado em informações aleatórias. Quando Weslei Mata me perguntou se eu tinha algum texto que pudesse vir a ser trabalhado por ele para se transformar em roteiro para cinema, ofereci aquele que consubstanciou-se em Mulher De Vermelho Fogo — tendo Patrícia, a única personagem que mantém o nome original no curta, como centro da trama.  No roteiro, Wes (como o chamo) elevou o tom do confronto entre as realidades, revelando emoções exacerbadas dos envolvidos até um final explosivo e surpreendente. No meu conto, ainda que também tenha um desfecho inusitado, é diferente, mas não incomum, como vim a descobrir.

Participei como observador-consultor de parte da gravação do drama. Foi uma experiência enriquecedora. A qualidade interpretativa e a entrega dos atores — Fernanda Valverde, Nalin Júnior, Theo Hofmann e Bárbara Pochetto; aliada ao talento dos realizadores — do diretor Weslei Mata e da cinegrafista Camila Marchini — gestou uma produção cativante pelo teor humano e carga erótica, mesclada à violência que irrompe gerada por sentimentos confusos das personagens — amor, ódio, ciúme, inveja, desejo — em uma produção que será apresentada brevemente pela St. Jude Filmes. Aguardemos…

BEDA / Scenarium / Leonina

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Foto por Public Domain Pictures em Pexels.com

O dia começa quando ela desperta.
O sol irradia luz para clarear o seu caminho.
Decide seus passos à revelia dos obstáculos.
As portas se abrem quando ela se aproxima.
Os espelhos disputam o seu reflexo quando ela passa.
A festa acontece quando ela aparece.
O DJ toca as suas músicas preferidas.
Na dança, ela comanda a coreografia.
Mares e brisas de mil anos contam segredos
quando pede que seu amor se entregue.
Quando nasceu, aceitou nascer todos os dias
em partos dolorosos,
pelo poder de viver mínimas alegrias,
poucos momentos de paz e prazer,
riso, paixão e nexo.
Por isso, vive…
Por que tudo é assim?
Esse é um enigma que não desvendei.
A resposta, não sei.
Não saberia, ainda que fosse o rei.
Ainda que percebesse o contexto.
Escritor, queria escrever outro texto
que pudesse mudar o destino,
arquitetar outro roteiro.
Queria que ela vivesse à larga,
bebesse o vinho tinto da melhor safra,
a caipirinha da mais apurada cachaça.
Ainda que não fosse alguém que ela amasse,
que eu não fosse feito de carne, mas de doce cassis.
Que meu corpo não tivesse ossos, mas giz.
Que eu estivesse em outro país
ou que não a tocasse por um triz,
que não apreciasse seu perfume pelo nariz
ou que ela viesse de outra raiz,
queria ver alterada a diretriz.
Que pudesse escolher entre ser o condenado ou o juiz,
cumprir a dura pena ou decidir que ela fosse, apenas, feliz…
Já que não tenho como a proteger
da necessária passagem do tempo e do sofrer,
me resta somente lhe perguntar:
de que maneira eu melhor posso lhe amar?

B.E.D.A. — Blog Every Day August

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Lunna Guedes