Hoje, não presenciarei este poente… El Niño nublou o dia (tudo é culpa do El Niño desde sempre!) e a nebulosidade impedirá a visão do Sol boiando feito uma bolinha dourada nas águas avermelhadas do sangue da tarde que está a morrer… A não ser, é claro, que tenhamos uma terceira estação climática desde que se inaugurou a manhã…
Etiqueta: sangue
Projeto Fotográfico 6 On 6 / #EntardeSer
Sangue Na Tarde
O Inverno anuncia tardes
derramadas em delírios…
Mal podemos perceber
que o tempo seco nos arranca
a umidade da pele
arrepiada ao toque do frio…
Os olhos desejam
que se torne espelho a beleza
que se apresenta,
enquanto vemos que a paixão
do Sol pela Terra
vertida em sangue…
É tarde, mas tão tarde!
Porém, ainda não é noite.
Ainda não sinto o açoite
da escuridão que me parte!
distraído de mim me sinto no início dos tempos
fuma a terra bruxuleiam as plantas dançam ao sabor dos ventos
animalzinhos se escondem de predadores que se aproximam
enquanto dragões expelem fogo antes da noite que se derrama…
em São José Dos Campos ainda há campos mais abertos
a Via Dutra caminha em seu percurso até o Rio
a cidade entardece em intenso movimento de autos e pessoas
floresta de torres de energia substituem às árvores no horizonte
o vento espalha as nuvens que desenham ramos imaginários
em tons de amarelo abóbora rosa que serão devoradas
por luzes artificiais logo mais…
quando entardece a suavidade enternece nossos olhos
as cores se degradam à aproximação do fim do dia
as casas erguidas sobre os montes invadem o horizonte
interrompem o sonho de o mundo não tem fim…
as silhuetas desenhadas no quadro da tarde denunciam
a cidade que o homem desanda a pintar em dor e pouca cor
mais de perto o duvidoso perfil de linhas retas são recortadas
nelas seres se adaptam em jaulas e aceitam a condição de animais…
Participação: Lunna Guedes / Claudia Leonardi / Mariana Gouveia / Silvana Lopes
Lua De Sangue*
LUA DE SANGUE
Tenho um horário irregular de sono devido à minha atividade profissional. De sábado para domingo, fui dormir às 7h30 e acordei às 13h. Tentei segurar o máximo que pude, mas dei uma fatídica cochilada por meia hora antes de me deitar, o suficiente para me fazer perder o sono. Como a 1h da madrugada ainda não havia encontrado Morfeu, fui ver o céu. E foi ótimo! O espetáculo natural foi lindo e, ainda que tentasse, não consegui registrar devidamente toda a beleza da Lua de Sangue. Durante meia hora fiquei imerso nas pequenas oscilações dos efeitos da sombra avermelhada da Terra sobre o nosso satélite no céu limpo até que as nuvens toldassem a Lua. Logo depois, deitei e dormi profundamente. Por meu turno, acho excelente que em vez de acidentes ou fatos escabrosos, as pessoas voltassem seu olhos e registrassem mais vezes os fenômenos do Universo e da Natureza da qual fazemos parte de maneira quase desprezível, mas o suficiente para estarmos destruindo um planeta inteiro com a nossa sanha inescrupulosa…
* Texto de Maio de 2022, mas que serviria para qualquer época.
BEDA / Bárbara
Bárbara era Bárbara…
Já devia desconfiar que barbarizasse
a minha vida.
Eu, feito o Império Romano,
me supunha inexpugnável.
Mas bastou que os seus olhos
me invadissem o espírito,
para me desestruturar o corpo e a mente.
As minhas defesas desarranjadas
cederam aos seus incríveis movimentos
no palco de guerra.
Não esperava que passadas tão simples,
avanços coreografados quadro a quadro
fossem sinônimos de requintada arte
de vencer obstáculos construídos
com esmero durante uma existência inteira —
de forma morna, segura, seca, estéril…
Meus toscos soldados da moralidade
caíram feito moscas, um a um.
Subjugado, tanto quanto seduzido,
sabia que a minha dolorosa prisão
um dia acabaria com gosto de retorno
sempre possível-impossível ao cativeiro.
A guerra tem esses altos e baixos,
entradas e saídas…
derramamento de sangue, suor, lágrimas,
o suficiente para baixá-los
e observar por onde eu piso…
Se voltar a reerguer as minhas defesas,
já saberei que neste deserto,
quanto menor o invasor
mais hábil a sua ação…
Mas não há mais tempo, tempo meu…
Não amaldiçoo o momento
em que me rendi,
nem as batalhas que sentia perder
a cada vez que venci.
Nunca me senti tão vivo enquanto morria…
Poema participante de BEDA: Blog Every Day August
Denise Gals / Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Lunna Guedes / Bob F / Suzana Martins / Cláudia Leonardi
BEDA / Eu-Falo
há momentos em que me desconfiguro
como ser pensante
passo a ser um animal que quer não ser
apenas agarrar parte de mim
me tornar tornado pelo toque
me satisfazer por inteiro em frêmito arrepio
arrancar galhos folhas troncos raízes árvores bosque
sem identidade pedaço de carne
seios em pele recobertos
corpo esponjoso antros cavernosos lado a lado
rios a se preencherem de sangue
vou por uma única mão
em direção ao prazer solo chão
sentido centro-periferia
todas as forças concentradas
fantasio a outra pessoa em intenção
ausência presente feito saudade dor
desejo de auto compensação
de proximidade consciência
da imensa distância entre mim e o sim
permaneço em êxtase suspenso
resisto à chegada do fim
pressão entre os dedos me agarro
em respiração profunda
permaneço corro
é quando por ele eu-falo
sou totalmente certeza vigor anima
em movimentos cada vez mais rápidos
fibras retesadas veias intumescidas talo
rigidez da madeira troncos separados
imagino invadir a fenda do tempo-templo macio escuro
com a delicadeza de quem morre
tão livre e brevemente
feito vida e voo de borboleta
expulsando pelos canais condutores lágrimas
de quem chora um choro solitário…
Foto por Johannes Plenio em Pexels.com
Texto participante do BEDA: Blog Every Day August
Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Bob F / Lunna Guedes / Suzana Martins / Cláudia Leonardi









