Bárbara era Bárbara…
Já devia desconfiar que barbarizasse
a minha vida.
Eu, feito o Império Romano,
me supunha inexpugnável.
Mas bastou que os seus olhos
me invadissem o espírito,
para me desestruturar o corpo e a mente.
As minhas defesas desarranjadas
cederam aos seus incríveis movimentos
no palco de guerra.
Não esperava que passadas tão simples,
avanços coreografados quadro a quadro
fossem sinônimos de requintada arte
de vencer obstáculos construídos
com esmero durante uma existência inteira —
de forma morna, segura, seca, estéril…
Meus toscos soldados da moralidade
caíram feito moscas, um a um.
Subjugado, tanto quanto seduzido,
sabia que a minha dolorosa prisão
um dia acabaria com gosto de retorno
sempre possível-impossível ao cativeiro.
A guerra tem esses altos e baixos,
entradas e saídas…
derramamento de sangue, suor, lágrimas,;
salivas, outros líquidos endógenos…
Supostamente liberto,
tendo ultrapassado às grades do cárcere,
voltarei os olhos para o horizonte
o suficiente para baixá-los
e observar por onde eu piso…
Se voltar a reerguer as minhas defesas,
já saberei que neste deserto,
quanto menor o invasor
mais hábil a sua ação…
Mas não há mais tempo, tempo meu…
Não amaldiçoo o momento
em que me rendi,
nem as batalhas que sentia perder
a cada vez que venci.
Nunca me senti tão vivo enquanto morria…
Poema participante de BEDA: Blog Every Day August
Denise Gals / Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Lunna Guedes / Bob F / Suzana Martins / Cláudia Leonardi
E o mês de Agosto termina com 31 leituras maravilhosas que fiz por aqui! Viva o BEDA e os reencontros com amigos literários virtuais!
Um belíssimo poema teu fechando esse mês!
Abraços!