
O Bigode está a realizar pequenas obras em casa. Uma delas é construir uma pequena parede embaixo da escada que leva à varanda, para fechar o ângulo inútil. Tânia teve a ideia de encerrar dentro da caixa de cimento algo que pudesse eventualmente ser resgatado muitos anos à frente. Um objeto reconhecível dentro de uma cápsula do tempo.
Na falta de melhor ideia, decidi colocar um brinquedinho da Betânia, aparentemente esquecido no quintal – um bichinho de pano – que ela furtou de cima da cômoda do nosso quarto. Foi o que fiz.
Porém, eu fiz e ela desfez. Horas depois, o vi jogado quase no mesmo ponto onde o havia encontrado antes. Perguntei para o Bigode o que havia acontecido, já imaginando a resposta. De fato, ela furtou novamente o paninho em forma de bicho, desta vez do sepulcro temporal. Deve ter brincado um tempo e o abandonou.
Naquele momento, mesmo que de forma passageira, o bichinho de pano foi mais importante em sua boca, sendo jogado para o alto e adiante e depois resgatado do que encarcerado entre paredes escuras. A sábia cachorrinha me deu uma lição prática de um objetivo que apregoo há algum tempo e me esforço para exercer cotidianamente – o de viver plenamente o presente.