busco me encontrar em você que está onde? onde eu me encontro em você? observo às formigas que se reúnem em torno de sua saliva que despencou da boca molhada sou como elas tentando beber de suas afluências carnais sou como a paleta do pintor plena de cores de meu pincel a jorrar na tela entre sucessivos solavancos que projetam veias de anil como se pollock incontrolável fosse a aspergir sêmen colorido em seu corpo de ente ser pessoa mulher em fuga de mim em si momento sentimento emoção violenta que lhe abençoa a existência de fêmea senhora de si em mim a perfurar rasgar-me feito faca cega que me mata me renova em revolucionários movimentos de subversão múltiplas versões de nós espelhares — tesão teso peso uso confuso escuso difuso intruso abuso de poder vil sem saídas apenas entradas e bandeiras morte de etnias da terra nova dominação e danação em invasões de tabas arrasadas não é amor é horror de querer tanto que se quer partir e partir-se em pedaços e espaços onde você ocuparia toda a extensão de vazios e nadas por onde descaminho perdido em viagem interrompida pela via láctea derramada de flores florestas de estrelas frias e solidão…
aos 6 leio toco violão canto desenho aos 7 versão hey jude garoto que amava beatles rolling stones jovem guarda ronnie roberto erasmo assistia namorava vanderléa 30 anos trabalho com ela aos 8 desenho animado filme novela clair aos 9 amava dança não danço musicais programas calouros zorro batman super-homem aranha de ferro demolidor aos 10 maysa eliseth elis gal nara dolores milton caetano gil meu guru aos 11 verne wells lobato bach beethoven stravinky list aos 12 poetas fim do século barreto azevedo dias alencar castro abreu varella freire sousândrade decorava declamava sozinho aos 13 mautner tom gonzagão tom zé gonzaguinha djavan lupicício macalé letras que mergulhava dos anjos mundo descoberto alternativo sofria como se fosse comigo pintura arquitetura história picasso van gogh hieronymus dali aos 14 machado se impôs quem viesse o servia depois mas amei amado muito capitães de areia me afetou escrever ler concorria com vida era mesma mas outra para quê por que? aos 15 não interessava resposta feliz mistério infeliz realidade pouco a pouco tentava reescrever bíblia li inteira sinais vida extraterrestremeus irmãos jesus filósofo avatar mestre emissário outra dimensão eu ateu emoção com a sua paixão fé intrigante poderosa talvez vazia significado conspurcado ofender lutar matar destruir seitas orar ação subordinada ao medo da maior atração da terra morrer aos 16 escrever ver descrever antever reverter transcrever transcender minha forma de ser quem sou não sou quem fui serei passei antes falecer depois nascer outra vez aos 17 tempos de seca mão não impunha caneta caçador de dores queria me ferir me dedicar a outros me salvar instinto sobrevivência servir ser a vir melhor autopunição vaidoso feito santo antão criminoso por matar amores no nascedouro de experimentar escapava vampiro experiências alheias servia como tema temor ao amor despedaçava coração infantilizado maduro mais duro sem flexão como evadir de mim perpétua prisão? sozinho casa vazia cães companheiros acordava dormia quando queria escrevia madrugadas inteiras escola futebol síndrome do pânico crises de ansiedade não sabia apenas ultrapassava vivia imaginava que fosse covardia meus escritos não mostrava cria fosse somente para mim artesão arte tesão amava corpos não conhecia pavor culpa confrontar peles pelos lençóis olhos bocas penetrar recônditos recantos encantos impossíveis literatura indenizava a vida literária sem ser literal de frei sem hábito a casado decidido a liquefazer o escritor entre fraldas trabalho som luz movimento ação 20 anos sem compor personagens cenários tramas vidas mortes sortes aos 46 educação física voltei a estudar entre jovens fui aluno professor divisor de águas textos técnicos prática escrita sem tempo atração pela palavra comoveu corpo deslocamento pés cabeça me moveu prazer escrever como comer respirar inspirar não expirar inspiração escritor voltei exalar redes sociais perfurei crosta atravessei bolha pessoal defesa descomunal transpus campos ataquei aldeias sentimentos emoções alcancei ideias inéditas sobre mim me conheci desgostei qual curiosidade maior viver partir? sem decidir continuo por amor a escrita finjo amor pessoas? mas deus é verbo aos 54 novo cenário publiquei artesanal nunca pronto tonteio caio levanto deslizo deito palavra dentro gozo reproduzo conto cena crônica poema aprendiz de fecundação aos 56 veio à luz minha realidade continuei rua 2 confissões sigo curso de rio caminho do mar cometo crimes senzala mentiras ainda que diga a verdade…
PECADO ORIGINAL “Adão e Eva” (1504), de Albrecht Dürer: no último segundo de inocência
Tesão – eis uma palavra que deveria definir os nossos atos, desde os mais comezinhos até os mais importantes. De certa forma, com tesão, qualquer ação se torna importante. Quando ouvimos a palavra “tesão”, normalmente a relacionamos ao sexo. Quando era mais jovem, no tempo que ainda não havia tido contato físico com mulheres ̶ virgem, enfim – escrevi um poeminha sobre o amor físico para um jornalzinho da faculdade que foi censurado (início dos anos 80, de chumbo) simplesmente porque terminava dessa maneira:
“Amar como um artesão
Com arte e tesão!”
Originalmente, tesão se referiria à tesura ou rigidez, ligada ao membro masculino quando ocorre a excitação sexual. Mas as mulheres também podem e devem usá-lo para designar a sua libido, mesmo porque, conquanto seja menos visível, ocorre a tesura de uma parte do órgão sexual feminino quando ocorre a excitação. No entanto, quero dizer que essa condição de desejo de satisfação plena, quase passional, deveria envolver todas as nossas ações, o que, obviamente, se torna praticamente impossível diante de todas as nossas solicitações sociais. Quantas não são as coisas que fazemos por pura e absoluta obrigação?
Trabalhar, por exemplo, na maioria das vezes, faz jus à sua origem etimológica, ao identificar um instrumento de tortura medieval. Pelo relato bíblico, fomos condenados a ganhar o pão nosso de cada dia com o suor de nosso rosto, a partir do momento que o homem e a mulher primordiais descobriram o poder do tesão. Então, tudo que nos aparta da satisfação do prazer, é identificado como algo ruim, incluindo o trabalho. No entanto, será pelo trabalho que buscaremos os recursos para satisfazermos os nossos “tesões”, ampliando a aplicação do termo para além do regozijo sexual. O mecanismo pelo qual buscaremos a associação do tesão com tudo que fizermos, incluindo o trabalho, é de origem mental. É um exercício que nos trará satisfação plena em tudo (ou quase tudo) que realizarmos. Entretanto, se bem que bonito na enunciação, nunca será algo fácil de ser concluído. O que não deixaria de ser plenamente satisfatório.
De certa maneira, identificamos a busca pela facilidade como sinônimo de felicidade. Eu, pessoalmente, identifico a dificuldade como algo estimulante. Seria como se alegrar por ultrapassar os níveis de um videogame, se bem que eu não jogue. Porém, jogar virtualmente tem alcançado, cada vez mais, sucesso em todas as faixas etárias, exatamente porque podemos sempre recomeçar do zero, sem maiores prejuízos emocionais. Por que não buscarmos essa premissa para o que fazemos na vida real? Portanto, para mim, o tesão é uma força primordial que deve ser utilizada plenamente em todas as nossas ações.
Muito se fala no sexo tântrico, que ampliaria a fruição sexual por períodos mais longos, em termos de horas e até dias. Essa sensação se daria a partir do estímulo vinculado a uma pessoa em correspondência. Mas poderíamos expandir essa concepção para as ações de nossa existência, estabelecendo uma conexão vital com todas as coisas e seres do mundo. E que estaria mais vinculado a si mesmo do que a alguém em especial. O que talvez nos impedisse seria o ciúme, sentimento menor, relacionado ao egoísmo, condição básica que faz com fiquemos andando em círculos, nos prendendo e prendendo a outros em redomas bem construídas e quase inexpugnáveis. O nosso gozo só é chancelado socialmente por intermédio de um único ser. O que não impede que escapemos, aberta ou furtivamente, para exercê-lo em privado, longe dos olhos do grupo social, com mais de uma pessoa ou em ações solitárias que nos traga satisfação. No meu caso, a minha masturbação é escrever.
O estabelecimento de um “quarto privativo” em que se desenrolaria o exercício do tesão pode ser concreto ou mental, contudo, na maioria das vezes, é secreto. Diante da situação em que a liberdade em sentir tesão é invejada e condenada por quem não consegue senti-la substancialmente, advém a construção da mentira. Mentir torna-se uma arma usualmente utilizável e, de certa maneira, justificável. Se todos nós tivéssemos a liberdade de exercer o tesão abertamente, as bases sociais pelas quais vivemos seriam abolidas e, não por outro motivo, as leis que existem para prender os humanos na mesma amarra, deixariam de ter fundamento, sendo totalmente combatidas qualquer iniciativa que nos propiciassem escaparmos dessa prisão. Enquanto isso não ocorre, nos fechamos em copas para protegermos o nosso tesão. A instituição do tesão como base de nossa existência, eventualmente, inauguraria a civilização do bem estar, onde o amor reinaria e viveríamos a plenitude de ser. Que, um dia, assim seja!…