21 / 10 / 2025 / Eu E Os Catioros

Eu sempre tive cães sob a minha guarda. Tarzan, Gita, Fofinha, Cloé, João foram alguns dos mais antigos e tantos e tantos outros. A minha mãe era cachorreira. Não podia ver um cãozinho perdido ou solto na vida que trazia para casa, mesmo quando não tínhamos tantos recursos. Dona Madalena pegava nos açougues carnes que seriam jogadas fora para que eu cortasse em pedaços e, misturadas a arroz com casca, então desprezado, fazer a comida da turma. O cheiro não era nada bom na grande panela e cortar bucho não era nada fácil. Mas como já era apaixonado por essas criaturas, não deixava de me esforçar para fazer a comida das crianças.

Como já realcei em outros textos, quem adota essas “pessoas”, sabe que terá um tempo menor de convivência devido a duração em anos menor delas. Então, é comum a tristeza nos abater vez ou outra diante das suas partidas. Mas vale a pena termos contato com esses seres especiais, verdadeiros educadores sentimentais. Com eles, aprendemos, mesmo nos pequenos gestos, olhares e comportamentos que podemos ser melhores do que somos. Como a homenagear a minha mãe, uma única vez resgatei um deles — o Alexandre. Já escrevi sobre ele. É o que aparece na primeira foto. Incialmente arredio, hoje me recebe de manhã ou quando volto pra casa com a alegria de quem é sabedor de que é amado. Com eles, me sinto uma pessoa melhor.

15 / 04 / 2025 / BEDA / Filadélfia*

“Mesmo cansado, estou indo dormir tarde para ver Tom Hanks iluminar Filadélfia… Miguel, estou pronto!… Ao mesmo tempo, dá para perceber que muita coisa mudou, mas nem tanto que possamos dizer que nos tornamos melhor. E isso é tão triste…”.

*Nessa postagem de 2022, vivíamos a situação de um País sitiado pela possibilidade de Golpe de Estado, claramente exposto em redes sociais pelo Ignominioso Miliciano, então, no poder. O seu governo já havia tentado desmontar o programa Anti-AIDS, em 2019, já em seu primeiro ano de (des)governo. Como vivia na própria bolha na qual seus seguidores também estavam imersos, produzia provas de planos urdidos diariamente, aliás, desde de antes tomar posse. Agora, desdiz tudo o que disse. Mente e todos ao seu redor sabem que mente, mas a estratégia é mentir, como sempre foi. O ladrão de joias (provavelmente recebidas por serviços prestados aos árabes que compraram uma refinaria à preço de banana), achou que sendo “suas”, tentou vendê-las no exterior, também à preço de banana. Mas o mais grave foi continuar com os seus planos golpistas até desembocar no 8 de Janeiro de 2023. Usando o gado que obedece cegamente ao Capitão, se meteram a invadir e a depredar as sedes dos Três Poderes. O Ignominioso Miliciano e seus asseclas foram finalmente indiciados pelos diversos crimes, através da delação de seu Ajudante de Ordens, que auxiliou a Polícia Federal a produzir provas em profusão para que fosse aberto o processo pela Procuradoria-Geral da República. Nos próximos meses, essa história que se desenrola desde 2018, quando surgiu a candidatura do sujeito no centro da trama, terá um termo provisório. O que constato é que nunca mais verei o Brasil da mesma forma. Sei que há um povo maravilhoso que ainda sustenta a minha visão de adolescente que cria na ascensão de uma raça miscigenada e de valor cultural natural, fruto das melhores influências dos vários povos que nos formaram como nação. Comecei a duvidar há tempos. Mesmo porque, são os retrógrados que estão no poder, postos justamente pelos oprimidos que se contentam com as migalhas caídas da mesa dos Senhores do Engenho.

Pisando Na Fulô*

Em 2015*, sonorizamos um casamento pela Ortega Luz & Som. Eu me lembro que eu não estava bem. Não me sentia centrado (o que não era novidade) e sofria com dilemas pessoais de ordem tão íntima que eu mal sabia identificar a amplitude. Sabia mais ou menos a origem, mas como tinha a ver com decisões pessoais que englobaria a participação de muitas outras pessoas alheias às minhas demandas, recuei. Ao fim (daquele dilema), decidi permanecer como estava — em sofrimento — mas garanti a estabilidade do meu entorno… Permaneci entristecido, mas sobrevivi… pisando na fulô.

Frida*

Frida, ao contrário daquela que lhe inspirou o nome, é um ser discreto. Quando quer parecer ser “invisível”, se põe sorrateiramente debaixo da mesa da cozinha. Como chega até lá, nunca se sabe. Tratada, desde que nasceu, com todo o carinho e atenção, parece daqueles cachorros que sofreram abuso, tal o olhar de tristeza que carrega. A Tânia acha que ela é depressiva. Por algum motivo, a Betânia, muito ciumenta, dedica a ela uma aversão especial. Quando esta saiu de carro, Frida ficou uma semana mais arredia ainda, como se tivesse sido preterida… Após um banho no Pet Shop, voltou a ficar mais sociável. Esses amigos naturais estão a desenvolver um comportamento social cada vez humano…

*Texto de 2017

FANTASMAS

não lembro não era não entendo quem fui
não tenho permissão para ver
descaminho por aí passado a limpo
descompassado nas trilhas do limbo
são íngremes ladeiras deserdadas beiras
quanto mais subo mais desço
para o vale dos paralelepípedos das lamentações
de tristezas e de desalentos
as ruas desatentas de seus transeuntes
enquanto anjos vingadores de cinza armados
observam pares trios quartetos de deserdados
deitados em papelões em posição fetal
quando abrirem olhos voltarão ao deserto de seus corpos
desabastecidos de vibração dementados
somos um grupo unidos na perdição
nem sei quando foi a última vez que chorei
porque me vou sem querer desperdiçar
qualquer coisa do meu poder de não sentir
moo minhas emoções chove chovo lavo
meu odor de urina fezes rotas roupas
sou um ninguém entre tantos todos
nulidades ausências pouco peso ignorados
vivemos para abastecer a morte em vida
somos como recados dados aos passantes
apesar de seus calçados é um povo a tudo alheio
à nossa presença dedicada em demonstrar
que tudo é passageiro não temos
ponto final apenas esvaímos
tênues seres feitos fantasmas…