13 /12 /2025 / Jacaré*

*Corria o ano de 2020. Em plena Pandemia de Covid-19, aquele que deveria zelar pela saúde pública não quis enveredar pelo cuidado da população brasileira. Como seguia a cartilha professada pela extrema direita vinda diretamente de influenciadores como Steve Bannon e Olavo de Carvalho, o sujeito proferiu uma declaração que refutava o uso de vacinas porque seríamos todos transformados em “ma… (quase disse ‘macacos’) jacarés”. Quando ficou claro que não conseguiria suplantar a pressão pública, junto com a quadrilha que comandava o seu (des)governo, urdiu um plano de contratar uma vacina indiana sem nenhuma comprovação de eficácia, mas que prometia render um valor exorbitante de dividendos aos seus companheiros de quadrilha, com depósitos realizados em uma conta desvinculada ao devido processo legal de contratação da vacinação. Enfim, como o “mundo plano” dessa turma não dá voltas, mas capota, hoje o Ignominioso Miliciano cumpre pena por tentativa de golpe. Maas o mais triste é que sua recusa às medidas sanitárias custou um sofrimento atroz a vários brasileiros e ainda que tivesse 3% da população mundial, foi responsável por 11% da mortandade pela Covid. À época, dezembro de 2020, escrevi o poeminha abaixo…

Quem é você, quem sou eu?
Sou homem, mas não filisteu.
Sou de Libra, sou de cabaré.
Sou menino, sou Jacaré**.
Aquele que cocou sete vezes,
não pagou, enfrentou revezes.
Sou um tanto estimado,
um pouco odiado.
Tranquilo em minha raiva,
barco a vela à deriva.
Sou réptil a sobreviver
de resto, do frágil, de cadáver.
Melhor símbolo pantaneiro que podia haver,
agora me tornei opositor ao poder.

** Certa ocasião, fui à região da Rua Santa Efigênia comprar produtos eletrônicos referentes ao meu trabalho e numa parede estava escrito “Jacaré cocou sete vezes e não pagou (um recado de uma das trabalhadoras do sexo da região) alertando para a geral o sobre o tal caloteiro. E eu só fiquei a especular porque não recusou serviços depois do terceiro calote, por exemplo…

07 / 09 / 2025 / Um 7 De Setembro

“7 de Setembro de 2021. Enquanto a tarde se desvanece, fico a pensar o quanto caminhamos para nos perdermos nesta encruzilhada a que chegamos. As pessoas que escolheram ir em direção ao abismo, mesmo que tenham perdido acompanhantes — os que pararam no meio, os que voltaram ou mesmo aqueles que buscaram outras veredas — querem que todo o povo despenque junto com elas, obedecendo a um líder insano, que deseja o aniquilamento de todos os progressos já realizados. Essa matriz assassina-suicida abomina a convivência entre os diferentes. Como somos um povo de vários matizes, deseja eliminar a diferença pela morte dos desiguais, dos excluídos, dos empobrecidos, das identidades multigêneros, das maiorias minoritárias em termos de poder de expressão. A minha expectativa, nem tenho mais esperança, é que o dia seguinte aconteça, aurora e crepúsculo, passando pelo pico solar. Que as crianças, como as que vejo agora, continuem a ter como única preocupação num feriado nacional, empinar pipas impulsionadas pelo vento refrescante que nos envolve agora. “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”…”.

O texto acima retratava a situação que vivíamos então, com a Pandemia fazendo o seu papel demolidor de certezas quanto ao mundo que conhecíamos e quanto continuação da Democracia como modelo de governo, atacada que estava sendo pelo então governante máximo do País, o Ignominioso Miliciano. Como a Terra é arredondada (levemente achatada nos Polos) ao contrário do que estava sendo alardeada pelo negacionistas que afirmavam que fosse plana (!), além do mais grave — negação de que vacinas salvam. Aliás, o atual responsável pela Saúde dos estadunidenses faz a mesma afirmação e combate a vacinação de maneira decisiva. Um retrocesso impensável produzido pelo movimento de Direita que, de forma impressionante, parece estar intrinsicamente associado a ignorância como estratégia de aliciamento dos não pensantes, talvez o maior número de pessoas — e olha que isso vai contra à minha tendência em pensar de forma sempre positiva sobre a Humanidade.

15 / 07 / 2025 / Vazios

A imagem acima registrei há 5 anos, quando fiquei preso na casa da Praia Grande durante Julho de 2020, juntamente com o Marley e o Fred, dois cães que viviam na casa, que nem pertenciam (à época) a nós. Eram da senhora que invadira a casa da frente (caso atualmente já resolvido). Tomamos a iniciativa de cuidar deles, já que foram colocados lá apenas para manter certa aparência de posse. Quanto a cena acima, verifiquem que nem os pombos frequentavam a areia, já que estes viviam dos restos dos humanos que deixaram de ser produzidos.

Aconteceu que houve a decretação de impedimento de deslocamento pelas estradas que levam ao Litoral Paulista (e vice-versa), também chamada de Baixada Santista, para evitar que os turistas se dirigissem às praias. Para estabelecer de forma prática que não ocorresse eventual ocupação das areias foi proibida oficialmente que qualquer um ultrapassasse as muretas e as escadas que dessem acesso à praia. Efeitos das medidas tomadas contra a expansão da Pandemia de Covid-19 que, caso não fossem tomadas, registraria uma mortandade superior aos 700 mil brasileiros oficialmente registrados.

Ajudou negativamente que estivéssemos sob o (des)governo do Ignominioso Miliciano que, sob a influência das diretrizes da Direita americana, foi contra a vacina. Disse que leu relatórios montados por “especialistas” discorrendo sobre os malefícios da vacinação não apenas contra a Covid-19, assim como contra qualquer vacina. A mesma que fez com que sobrevivêssemos às doenças endêmicas no Brasil do passado.

As teorias à respeito da Ciência, buscando desacreditá-la, nasceu de elocubrações sob uma ótica distorcida a qual não consigo alcançar, já que eu sempre fui um entusiasta dos avanços tecnológicos urdidos pelo desenvolvimento humano no estudo de um corpo sistemático de conhecimento sobre o Mundo Natural e Social adquirido sob observação, experimentação e análise. Ela envolve a busca por compreensão e explicação de fenômenos, utilizando o Método Científico, que é um conjunto de procedimentos para validar e organizar esse conhecimento. 

O que é mais interessante é que esse grupo tenha utilizado de ferramentas criadas justamente por avanços tecnológicos na área da comunicação para propagar feito um vírus mortal e irrefreável as teorias de conspiração que fez com o Brasil caísse no ranking de vacinação populacional para 17º colocado, atrás de vários países considerados menos desenvolvidos economicamente.

Esse é um legado negativo que demoraremos para reverter graças ao processo da queda da conscientização das famílias que passaram a evitar que seus filhos fossem imunizados contra diversas doenças. Mais um crime da antiga administração daquele que está prestes a ser preso por crimes contra a Democracia ao elaborar um plano de Golpe de Estado. Sei que esse covarde tentará fugir da pena a qual será imputado. Mas que a sua herança seja purificada com o tempo assim como um esgoto sujo é tratado para que se transforme em água potável.

Fred, o branco; Marley, o Bege.

Tarado*

Em 7 de Janeiro de 2022*, em entrevista à TV Nova Nordeste, de Pernambuco, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) questionou o interesse dos técnicos da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que aprovaram a vacina contra a Covid-19 para crianças. “O que está por trás? Qual é o interesse da ANVISA por trás disso aí? Qual o interesse daquelas pessoas taradas por vacina? É pela sua vida? É pela sua saúde? Se fosse, estariam preocupados com outras doenças no Brasil, que não estão”, disse o chefe do Executivo. Falácia atrás de falácia, o atual ex-presidente e futuro presidiário por crimes de todos os níveis e proporções, apresentava uma lógica distorcida ao negar a emergência sanitária que então vivíamos. Logo após a essa declaração, surgiu “Tarado“, a qual publico aqui.

“tarado…
sou tarado por viver!
por vezes, essa tara diminui
e não me importaria de morrer
mas quando estou na boa vibração
sou tarado por estudar
sou tarado por escrever
sou tarado por saber
sou tarado por conhecimento
sou tarado por encontrar pessoas
sou tarado por rir por rir
sou tarado por amar
sou tarado por beijar
familiares, amigos, amantes, amáveis seres
sou tarado por bichos
sou tarado por ver gente feliz
sou tarado por ajudar o próximo
sou tarado por fazer o melhor
sou tarado por inspirar o bem
sou tarado por plantas
sou tarado pela Natureza
sou tarado por meu planeta
sou tarado por Cultura
sou tarado por cantar e dançar, apesar não saber
sou tarado por diversidade
sou tarado por múltiplas expressões
sou tarado pelo cheiro da terra
sou tarado pela água do mar
sou tarado pela brisa
sou tarado pela chuva
sou tarado pelo Sol
sou tarado por igualdade de oportunidades
sou tarado por ver uma sociedade igualitária
sou tarado por viajar fisicamente e pela mente
sou tarado por comer
sou tarado por arroz e feijão
sou tarado por frutas
sou tarado por beber (principalmente água)
sou tarado por ver nascer
sou tarado por chorar ao ver morrer
sou tarado por mudar para me aprimorar
sou tarado por atividade física
sou tarado por Saúde
sou tarado por proporcionar a alegria
sou tarado por lutar
sou tarado pela Ciência
e pela consciência
sou tarado por me vacinar
sou tarado por querer um País melhor
não sou tarado por me satisfazer com o mal
não sou tarado por armas
não sou tarado por deixar morrer
homens, mulheres e crianças
não sou tarado por matar
pessoas e o meio ambiente
não sou tarado por eliminar as minorias
não sou tarado por destruir o equilíbrio humano
não sou tarado por causar a desunião
não sou tarado pelo atual sistema
político, econômico e social
sou tarado pela Democracia
sou tarado por retirar o maléfico do Poder
sou tarado por reafirmar a Vida
sou tarado por viver!”

Um Domingo

um domingo este domingo
início de um dezembro indeciso decisivo
final do 22 que já foi 17 que devia ser zero
vou à academia castigar o corpo
que não carpe não planta não colhe
sem atividade funcional funciona
apenas para comer imposição de viver
ingerir beber se alimentar excretar
fazer a roda viva do chico girar
pelo celular as minhas velhas canções
algumas parece que ouço pela primeira vez
porque o mundo é outro ainda sendo o mesmo
cíclico atemporal o tempo é rei de gil guru
“não me iludo tudo permanecerá
do jeito que tem sido
transcorrendo transformando
tempo e espaço navegando
todos os sentidos”
quantificando a física enquanto tento
qualificar a minha expressão física de estar
a minha curiosidade em continuar viver
pode se confundir com medo
mas não a curiosidade é a mesma em fenecer
dois dias antes “descobri” que a vacina faz mal à saúde
um companheiro de trabalho me “informou”
palavra de seu pastor como não acreditar?
crê que a ciência que desenvolveu seu instrumento de trabalho
é a mesma que mata em doses e contradições
algumas entre tantas como discernir?
qual o grau de claridade clarividência clareza
que nos faz ter certeza de sua certidão?
pobre rebanho sem rumo
caminho pelo caminho calçado que contorna
uma árvore se fosse direto feriria a grama
o caminho reto nem sempre é o correto
retorno depois de fazer o corpo suar
havia prometido a mim
doar para uma preta senhora magérrima
em situação de rua ela e seus cães
residentes da marquise
da loja de pets hoje fechada quando abre
desloca seus trapos e restos de um lado
para o outro da avenida
dorme sob chuva sol nuvens lua e estrelas
sem porta janela muro teto
livre
enquanto nos cercamos de medidas protetivas
não a encontro somente seus companheiros de quatro patas
doam companhia à sua solidão
proteção ao entulho que ela venderá
volto para a casa almoço
a imagem da senhora dando restos de comida
para as criaturas irmãs de sua confraternidade
me invade me devasta
volto pelas ruas passeio por minha consciência
quão são reais nossas existências?
eu a encontro sentada entre os seus
me aproximo de seu olho esquerdo esbranquiçado
estendo a mão envergonhado
ofereço uma nota de cinquenta reais
aceita por favor?
como a pedir alivia minha dor?
sorri um sorriso choroso de idade indeterminada
nossa! obrigado moço!
devo ser tão velho quanto ela
fujo da minha emoção

aceno sem olhar para trás.