Um Domingo

um domingo este domingo
início de um dezembro indeciso decisivo
final do 22 que já foi 17 que devia ser zero
vou à academia castigar o corpo
que não carpe não planta não colhe
sem atividade funcional funciona
apenas para comer imposição de viver
ingerir beber se alimentar excretar
fazer a roda viva do chico girar
pelo celular as minhas velhas canções
algumas parece que ouço pela primeira vez
porque o mundo é outro ainda sendo o mesmo
cíclico atemporal o tempo é rei de gil guru
“não me iludo tudo permanecerá
do jeito que tem sido
transcorrendo transformando
tempo e espaço navegando
todos os sentidos”
quantificando a física enquanto tento
qualificar a minha expressão física de estar
a minha curiosidade em continuar viver
pode se confundir com medo
mas não a curiosidade é a mesma em fenecer
dois dias antes “descobri” que a vacina faz mal à saúde
um companheiro de trabalho me “informou”
palavra de seu pastor como não acreditar?
crê que a ciência que desenvolveu seu instrumento de trabalho
é a mesma que mata em doses e contradições
algumas entre tantas como discernir?
qual o grau de claridade clarividência clareza
que nos faz ter certeza de sua certidão?
pobre rebanho sem rumo
caminho pelo caminho calçado que contorna
uma árvore se fosse direto feriria a grama
o caminho reto nem sempre é o correto
retorno depois de fazer o corpo suar
havia prometido a mim
doar para uma preta senhora magérrima
em situação de rua ela e seus cães
residentes da marquise
da loja de pets hoje fechada quando abre
desloca seus trapos e restos de um lado
para o outro da avenida
dorme sob chuva sol nuvens lua e estrelas
sem porta janela muro teto
livre
enquanto nos cercamos de medidas protetivas
não a encontro somente seus companheiros de quatro patas
doam companhia à sua solidão
proteção ao entulho que ela venderá
volto para a casa almoço
a imagem da senhora dando restos de comida
para as criaturas irmãs de sua confraternidade
me invade me devasta
volto pelas ruas passeio por minha consciência
quão são reais nossas existências?
eu a encontro sentada entre os seus
me aproximo de seu olho esquerdo esbranquiçado
estendo a mão envergonhado
ofereço uma nota de cinquenta reais
aceita por favor?
como a pedir alivia minha dor?
sorri um sorriso choroso de idade indeterminada
nossa! obrigado moço!
devo ser tão velho quanto ela
fujo da minha emoção

aceno sem olhar para trás.

4 thoughts on “Um Domingo

  1. Uau irmão Et-Mor, chorei. Como sempre, verdadeiro, emocionado, tocante, maravilhoso apesar de triste. Triste com tanta coisa ruim, triste com tanta gente sofrendo da síndrome zumbi que não sei quando vai passar, com tanta pobreza real, material e mental. Só peço a Deus esperança para que a humanidade volte , as pessoas tenham onde morar e voltem a se alimentar de comida que mate a fome e fé na vida para alegrar o espírito. Abraços e gratidão, sempre 🙏❤️💕

    1. Marineide, essa senhora voltarei a encontrá-la. Espero. Está em situação de vulnerabilidade, mas felizmente não parece ser usuária de entorpecentes, como muitos. Entorpecidos, mesmo, são os nossos “cidadãos de bem”.

  2. Um domingo em dezembro e hoje, segunda seria, mas será domingo de novo e se houver vitória a tarde, outro domingo se novo teremos num outro dia que não o seu. E é verdade, a vacina mata. Já se descobriu ser a causa de câncer em vários humanóides. Agora dizem que o tal rei dos gramados está doente por causa da vacina e se vier a óbito, adivinha.

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