A palavra Vício é derivada do latim vitium e significa falha ou defeito. Também poderia ser definido como dependência física ou psicológica que impele alguém a buscar o consumo excessivo de algo, geralmente uma substância. Normalmente está associado a um problema ou imperfeição, denotando fraqueza ou deformidade de caráter, eventualmente causando desarranjo pessoal, familiar e/ou social.
Festa Grega com a Banda Kostakis, em 14 de março de 2020
No meu caso, percebi que sou viciado em trabalhar — hábito que deixei de exercer quase de supetão com o advento da Pandemia de Covid-19. Da noite para o dia, foram cancelados os mais de cem eventos programados para o ano de 2020, a partir de meados de março, quando realizamos uma festa grega.
Casamento em São Bento de Sapucaí– MG, em Outubro de 2020, com a Banda Almanak
Em outubro do ano passado, realizamos — meu irmão e eu, da Ortega Luz & Som— o primeiro do que seria uma série de festejos que denotaria a retomada da normalidade. Na época, se discutia a ascensão do “novo normal”. Tenho por mim que apenas uma chuva cósmica mutante de proporção planetária instauraria uma mudança no comportamento do homem. O valor desse evento — um casamento na fronteira entre São Paulo e Minas — foi realizado com todas as medidas protocolares de proteção: distanciamento social, número reduzido de pessoas, em lugar aberto, arejado, o uso de máscaras (para os trabalhadores) e disponibilidade de álcool em gel. O interessante é que como já havíamos recebido em março, pagamos para trabalhar. O valor antecipado havia se desvanecido nos meses anteriores da doença que paralisava o País.
Foto ilustrativa em evento realizado em Julho deste ano. O Natal de 2020 foi realizado pela mesma banda —Felice Itália.
Em dezembro, fizemos dois eventos especiais — Natal e Réveillon. Estávamos vivendo a possibilidade de passarmos ao novo fechamento total das atividades comerciais. Alheios às necessidades em relação aos procedimentos restritivos no combate à Pandemia, convivi com negacionistas enquanto degustava uma excelente comida. Ainda bem que não tive uma congestão.
Réveillon realizado no Satélite Clube, de Itanhaém, com a Banda Matrix.
O Réveillon ocorreu no Litoral paulista — em Itanhaém— sob um calor infernal, como poucas vezes senti. Como se não houvesse amanhã, o público dançou aglomerado e desmascarado. Os fogos do Ano Novo refletido nas águas do mar duplicavam os meus presságios de que 2021 seria uma reedição do ano que estava acabando somente na folhinha.
Trio La Bella Itália, em show realizado no Teatro Safra, em Julho de 2021.
Uma das minhas maiores decepções foi encontrar muitos dos meus companheiros do setor de entretenimento artístico vociferando contra as medidas de restrição. Tanto quanto eles, sofri econômica e psicologicamente os seus efeitos. No entanto, eu sabia que a alternativa seria a morte, como ocorreu com muitos dos meus colegas e seus familiares.
Banda Ray Conniff Tribute, em evento realizado em São Paulo, em Julho de 2021.
Uma pequena retomada parece estar em processo com o avanço da vacinação. O fantasma no horizonte é a variante Delta da SARS-COV-2 — resultante da defasagem do processo retardado (de forma intencional) da imunização. A manifestação do Vício em seu pior vezo é o de ostentarmos com orgulho e estrepitosa empáfia maléfica, o nosso atraso institucional, o reeditando de tempos em tempos em variações cada vez mais virulentas, como ocorre atualmente.
Fila de vacinação em Duque de Caxias, RJ, com espera de cinco horas e consequente aglomeração (Fonte: O Globo)
Nosso país está diante da enorme possibilidade de viver uma terceira onda de casos de Covid-19, que já partirá de um nível alto de ocorrências. E não será porque queiramos imitar o que já aconteceu na Europa, mas porque parece que o nosso espírito “macunaímico” nos impede de que sejamos prevenidos ou suficientemente articulados para adotarmos estratégias de sobrevivência saudável. Essa seria uma boa desculpa. Macunaíma é um herói sem caráter, não que seja intrinsecamente mau. Ele se parece mais com uma criança recém nascida que, por estar ainda em formação, aparenta ter nenhum caráter. Dessa maneira, se exime de culpa, já que assim como um incapaz, não é responsável jurídica e civilmente por qualquer falta. “Não é minha culpa, é de outros!” — é a desculpa usual da criança peralta que comete alguma traquinagem.
Quando vemos uma situação se repetir sucessivamente estabelece-se um padrão. Quando se trata de uma conjuntura importante e potencialmente letal, é nosso dever nos defendermos. Diz-se popularmente que a pessoa inteligente aprende com os próprios erros, a pessoa sábia aprende com os erros dos outros. Quando advertimos aos jovens que não ajam de tal e tal maneira porque sabemos que o resultado não será bom — “meu filho, vai dar ‘ruim’!” —é comum a resposta ser: “pai, mãe, aconteceu com vocês, não acontecerá comigo” ou “eu não sou vocês, deixem eu viver a minha vida!”. O fato é que quando alguém quer fazer algo, quando o desejo se faz imperativo, não há nada que impeça — o bom senso, os possíveis efeitos perniciosos para si ou as consequências desastrosas para os outros — simples assim.
Se falamos de crianças que podem aprender a se comportar com o tempo ou de jovens em processo de amadurecimento é uma coisa. Quando versamos sobre adultos com vontade de fazer o mal e poder de materializá-lo é outra. Antes, o atual Governo FederalBrasileiro era reconhecido apenas como incompetente nas áreas de atuação governamental básicas, mas para quem soube identificar o perigo que o bando representava muito tempo antes de ter sido colocado na posição que ocupa, tem consciência de que havia um projeto de destruição do país, em suas diversas áreas. O que me espanta é a desfaçatez com que o plano é posto em prática e o fato de ainda arregimentar apoiadores — pessoas de “bem”. De uma parte, com a defesa comprada à soldo junto aos representantes do povo no parlamento. De outra, com a anuência de quem fecha os olhos para o mal e absolve de antemão, não importando o resultado, todos os atos e omissões do Ignominioso e seus asseclas. É como se pudéssemos compreender embrionariamente o que se desenvolveu na Alemanha nos anos anteriores à Segunda Guerra Mundial, assim como a compreensão cabal do que Hannah Arendt quis dizer com a expressão “banalização do mal”.
Que uma porcentagem de cidadãos colabore com um projeto genocida não é inédito na História mundial. Já vimos isso acontecer antes. Mas nunca imaginei, nem em meus piores pesadelos, que isso viesse a ter sucesso no Brasil. Dentro do desgoverno brasileiro há pessoas que seguem a “cartilha da destruição” criada por um louco influente entre os filhos-numerais-cardinais do Ignominioso e que estrutura todas as tomadas de decisões levadas avante durante a Pandemia—Olavo de Carvalho. Parece o enredo de um filme de terror distópico se não tivéssemos protagonizando a trama como simples coadjuvantes, tendo como resultado final o cheiro putrefato de quase meio milhão de mortos.
A falta de controle na gestão da crise sanitária causada pela SARS-COV-2, as idas e vindas (propositais) quanto aos rumos a serem tomados no combate à Pandemia: a falta de medidas preventivas eficazes, como o distanciamento social e o uso de máscara, substituído pela propaganda de remédios sem efeitos corroborados por estudos científicos sérios — cloroquina e ivermectina —, além da falta do suporte de um auxílio emergencial razoável; a criminosa protelação do uso de testes de Covid-19 até ocorrer o término do prazo de validade; a recusa em anunciar o número de vitimados pela doença, tanto infectados quanto mortos, o que impediria seu controle eficaz; a omissão quanto a compra de vacinas antecipadamente, sem respostas aos produtores dos imunizantes; o ataque aos prefeitos e governadores que promoveram ações preventivas; a troca de ministros da saúde como se fossem jogadores de futebol machucados e a adoção da ideia estapafúrdia de “imunidade de rebanho” que viria a “dar certo” somente quando morressem milhões de brasileiros. Tudo isso se houvesse apenas um tipo do vírus causador da doença. Contudo, eis que o vírus parece ser mais “inteligente” do que homens que se auto intitulam como tais e criam variantes que são mais letais do que as anteriores. Como a brasileiríssima amazonense e a indiana, diagnosticada em tripulantes de um navio malaio que aportou esta semana no Nordeste e que já foi detectada em outros pontos do País.
Se estivéssemos em processo de vacinação em massa, com pelo menos um milhão de imunizados todos os dias, teríamos como esperar que o Brasil voltasse a ter uma vida quase normal até o final do ano, como prometeu o atual perna-de-pau no time do ministério da doença. Considerando o ritmo vacinal de hoje, terminaremos de imunizar os adultos somente em 2023. Mas o Ignominioso, num movimento que alguns interpretam como cortina de fumaça, mas que para mim é de incendiário, voltou a ofender o principal fornecedor de imunizantes do mundo, fazendo com que a China atrasasse o envio de insumos —IFAs — para a fabricação da Coronavac (Butantã) e da AstraZeneca (FioCruz) como uma espécie de advertência diplomática, anunciando que destinará apenas um terço do programado.
O objetivo óbvio da quadrilha no poder é o de evitar o protagonismo de um inimigo político, não importando quantas vidas sejam perdidas por causa disso. Com a interrupção dos insumos, vivemos uma espécie de apagão, um hiato na vacinação que tem como resultado o avanço das variantes em todas as regiões. O que é um desastre para o País, veio a calhar para o desenvolvimento da “política” de fazer “passar a boiada” — decretos que desmantelam gradativamente projetos sociais e conquistas justas obtidas pela sociedade civil organizada — além de promulgar a destruição do meio ambiente. Devemos ficar atentos quando os milicianos filhos e pai se contorcem ao ser citado o Rio de Janeiro como um dos locais em que se dá a malversação de fundos ligados ao Ministério da Saúde. A “famiglia” atua diretamente na região. E como dizem os americanos “follow the money” e poderemos encontrar o lado B da corrupção. Acabamos por conviver com dois tipos de vírus que penetram no corpo da nação e nos destroem de dentro para fora.
Porém, há algo que o Ignominioso não poderá evitar e que, com o tempo, provocará a sua ruína e a nossa redenção — algo ao qual chamo de “Efeito Dallas”. Dallas foi uma série americana que durou de 1978 a 1991. Era centrada nas tramas espúrias em torno de uma grande e rica família texana — os Ewings— que lidava com petróleo e gado. Com o tempo, o enredo trouxe para o centro a personagem de J.R., cujos esquemas e negócios obscuros se tornaram a marca registada do seriado. Sucesso no mundo todo, os governantes albaneses, promotores de uma República fechada em si mesma, controlada com mão-de-ferro por Enver Hoxha, decidiu que a produção americana era um bom exemplo da decadência moral capitalista e permitiu que fosse exibida no país. Para além das veleidades cometidas pelas personagens em nome do deus dinheiro, o povo albanês percebeu que, apesar das diferenças socioeconômicas, mesmo os empregados tinham casas razoavelmente confortáveis, aparelhadas com eletrodomésticos e automóveis na garagem.
A defasagem entre os estilos de vida na América e na Albânia deu ao povo albanês a consciência de haver uma outra possibilidade de viver menos austera. Um triunfo inesperado do Capitalismo, apesar dos esforços em demonstrar a decadência moral do “american way of life”. Isso ajudou na mudança do regime, principalmente depois da morte de Hoxha, em 1992. No Brasil, o “Efeito Dallas” está em andamento e, paulatinamente, mostrará a discrepância entre a política negacionista do Governo Federal e a de países como os Estados Unidos, de Biden, defensor da vacinação massiva de seus cidadãos. Graças a isso, os Estados Unidos estão reabrindo a economia e voltando ao estágio anterior de convivência social. Mais do que as negações dos governistas em seus depoimentos na CPI do Senado sobre as ações e omissões do Ignominioso e sua gangue, por comparação acabará por ser demonstrada a atuação danosa ao longo desse processo angustiante para as nossas famílias, através da contaminação monstruosa da ideologia assassina ora implementada. Espero que sobrevivamos para ver surgir um amanhecer menos tenebroso em futuro próximo.