Como Ampliar O Mal, O Relativizando

Quando presenciamos uma cena de violência individual, costumamos senti-la como pessoal. Quando ocorre uma tragédia com grande número de mortos, o caráter coletivo acaba por o torná-la sem rosto. Neste país, o óbito de quase duzentos mil seres por Covid-19 parece não sensibilizar boa parte das pessoas. Quem não ainda foi infectado ou teve alguém conhecido que tenha sido, age como se fosse um fato corriqueiro e distante em possibilidade. Nesses momentos, quem nega o mal, ganha seguidores, como se tudo representasse um fato da vida. Mas não precisava ser. Porém, para que houvesse uma mudança de parâmetro, teríamos que enfrentar nosso principal inimigo — nós mesmos, brasileiros — que acreditamos sermos predestinados ao sucesso (seja lá o que isso signifique), ainda que façamos tudo errado. Negar a Ciência, o planejamento, o conhecimento de causa, nossas contradições, é eficientemente aceito como empecilhos do bem-estar coletivo. A ignorância chega a ser vista como a uma benção concedida como um cartão de crédito sem limites. Piora tudo quando a visão ideológica serve de esteio para que compremos ideias aparentemente baratas, mas que carregam juros altíssimos. No final de tudo, ficamos devendo os olhos da cara, aqueles mesmos que não enxergam um palmo diante do nariz.

Decidi deixar de seguir um amigo porque postou a entrevista de um médico cirurgião em um programa de uma rádio que deixei ouvir depois de 50 anos porque nos últimos 3 tornou-se ponta de lança de uma visão retrógrada e alienante. No programa, o sujeito com ares professorais, garantido por títulos e experiência comprovada, tenta relativizar as mortes por Covid-19 informando que a mortandade pela doença era menor que as ocorridas pela fome, pela AIDS e outras causas. Além disso, usou números relativos para desvalidar a vacina, principalmente a chinesa, que a verificação pura e simples realizada na busca por órgãos idôneos desmentiria. O direcionamento já me pareceu direto demais para passar despercebido porque ocorreu antes de uma análise mais profunda. Ora, a Internet que desinforma, também pode jogar luz sobre perspectivas obscurecidas propositalmente. O que causa espanto e joga dúvidas sobre o quadro sanitário é que o entrevistado pertence à área da Saúde. Ou seja, é um agente infiltrado tentando desinformar com o propósito básico de confundir. Claramente atua a favor de quem pretende que tudo seja nebuloso. O mais triste que seja por razões políticas. (Nota atualizada, o referido médico acabou por falecer por complicações causadas pela SARS-COV-2).

A Covid-19 é letal. A AIDS é controlável, mas se não for não cuidada, é muito mais letal. E o número de mortos aumentará bastante no Brasil por conta de medidas tomadas pelo Governo Federal. Em notícia vinculada em 7 de dezembro, está expresso: “O Ministério da Saúde deixou vencer um contrato e suspendeu os exames de genotipagem no Sistema Único de Saúde (SUS) para pessoas que vivem com HIV, AIDS (a doença causada pelo vírus) e hepatites virais. O teste é essencial para definir o tratamento mais adequado para quem desenvolve resistência a algum medicamento”.  

A fome mata e muito, também no Brasil. Apesar de “apenas” 2,5% da população (cerca de 5 milhões) apresentar um quadro de fome extrema, juntam-se as precárias condições sanitárias para gerar uma situação instável que proporciona um aumento exponencial de chances da queda da imunidade dessa parte da população desassistida. É como se esquecêssemos de uma parte do nosso corpo ou a considerássemos dispensável. Quando se nega que uma Pandemia como a que ocorre agora seja combatida com todas as armas disponíveis, então podemos inferir algumas teorias. A que me ocorre mais imediatamente que isso faça parte de um plano de limpeza social, haja vista a tendência ideológica deste governo alinhada à extrema-direita. É uma avaliação fora de propósito? Não foi o chefe que sonhava com a morte de 30.000 brasileiros em uma guerra civil para resolver os nossos problemas? E na campanha eleitoral propagou que era a sua especialidade matar?

Pois então, chegaremos a 200.000 mortos até o final do ano e talvez o mentor do projeto ache pouco. O que me deixa mais triste é que ele encontre quem defenda as suas diretrizes entre componentes de outras partes do corpo brasileiro. Um dia, as nossas pernas nos levarão ao abismo…

*Durante a Pandemia, escrevi vários textos que muitas vezes não publicava. Publiquei este em 21 de dezembro de 2020. Através dele, buscava demonstrar que concomitantemente à existência da doença viral, o ataque reiterado perpetrado por agentes humanos patogênicos relativiza situações que antes seriam impensáveis porque, justamente, reproduz histórias de ficção distópicas, ao espalhar informações falsas feito uma epidemia. Um péssimo exemplo de que a vida imita arte. Pessoas que vibram na mesma frequência aceitam o mal de braços abertos e tantas outras que apenas ficam expostas sem a proteção da informação de qualidade, são abatidas pelo adoecimento do raciocínio. Mas eis que procurar a publicação no WordPress, não a encontrei, apesar de tê-la divulgado pelo Facebook. Como algumas pessoas poderiam se sentir atingidas por se filiarem ao pensamento que denuncio, imaginei que pudessem tê-la denunciado, mas essa ação, segundo eu soube, não seria suficiente para que fosse obstruída pelo WordPress, mesmo porque somente exponho a realidade… bem, isso talvez já seja suficiente.

Foto por Ann H em Pexels.com

BEDA / O Poderoso Chefão

O que pode unir pessoas de origens, idades e vivências diferentes na provocação de emoções similares? Uma obra como The Godfather seria uma boa resposta. O público no cinema, em silêncio reverente, comungava da mesma energia a cada cena, seja no uso da luz estuporada da província italiana de onde surgiu a Famiglia Corleone, quanto nos matizes escurecidos da América transformada em provinciana. Talvez, nas cenas da festa de casamento com o qual se inicia o filme, onde são apresentados vários dos personagens que vivem e morrem durante o seu desenvolvimento, haja uma mistura das frequências de luz e sons a sombra, a gravidade das falas e os esgares-sorrisos da sala do poderoso chefão em contraponto ao colorido das roupas e o alto volume das risadas desbragadas dos parentes e convidados.

O filme todo é um portento de ambição cinematográfica, quase uma homenagem à ambição de poder que permeia a história da Máfia nos Estados Unidos. E Francis Ford Coppola consegue nos impactar com a sua condução em que a violência é uma personagem do filme, com linguagem e atuação autônoma e grandiloquente, tendo os outras personagens como coadjuvantes. Como a criar um clima de suavidade enganosa, a música de Nino Rota se constitui em personagem essencial, uma espécie de substrato feito campo arado e fertilizado onde cresce a planta do mal. Marlon Brando não é nada brando em seu talento intuitivo e definitivo. Al Pacino passa de calmo e arguto jovem que a tudo observa de fora como se fosse um espectador que não quer participar, até transformar seu comportamento ao ver seu pai ser ferido mortalmente.

Então, o vemos crescer cena a cena na percepção de como funciona o jogo do poder. E o joga de forma magistral, com as regras que todos conhecem o poder sobre a vida e a morte e o uso da mentira como arma. Quando o jovem Padrinho começa a receber os cumprimentos dos demais “capi” como seu pai recebia, a porta se fecha para o amor na figura de sua mulher. Os aplausos ao acender das luzes ecoaram no silêncio de quem se comoveu, como eu, com os olhos marejados d’água.

Participam do BEDA: 
Lunna Guedes / Alê Helga / Mariana Gouveia / 
Cláudia Leonardi 

Muito Além De Uma “Pisadinha”

De “it’s coming home” para “It’s coming to Rome”…

A semana começou com notícias vindas de vários lugares do mundo a demonstrar o quanto as realidades se intercalam em maiores e menores escalas de reconhecimento.

No Brasil, começamos com as repercussões segundo dia da derrota da seleção brasileira de futebol na Copa América pela Argentina de Messi. Trazida para a “Pátria Amada” pelo Governo Central que, mesmo enfrentando a Pandemia, preferiu banca em sua realização numa típica manobra da Antigo Império Romano de proporcionar o Circo e obter possíveis dividendos políticos. A final ocorreu na noite de sábado, quando eu estava trabalhando, situação que aparentemente voltará a ser menos ocasional, já que minha atividade envolve apresentações de bandas, cantores, bailarinos e/ou atores, com a reunião de pessoas em buffets, clubes e auditórios. O que poderá ser viável com o avanço da vacinação.  Eu só soube do resultado após o término da decisão e não senti nada. Em nada parecia com o garoto que amava o futebol e sofria com as derrotas como se fossem pessoais.

O sentimento de ausência de alegria ou tristeza, certamente tem a ver com a situação que vive o País, em que comemorar vitórias ilusórias diante de tantas derrotas reais impingidas pela Covid-19 a fez campeã negativa de nossos dias. Quando vi a reportagem sobre o jogo e constatei a emoção de Leonel Messi, caindo sobre os joelhos sob o peso de sua história particular, um talentoso e vencedor atleta em seu clube, mas que nunca havia angariado um título pela seleção nacional, me alegrou um pouco. Do outro lado, estava o “menino Ney”, um sujeito que infelizmente não cresceu como homem e vive “pisando na bola”. Uma das crônicas de REALidade, meu primeiro livro, o enaltece no episódio de sua contusão na malfadada Copa de 2014. Daí em diante tem se mostrado um ídolo com pés de barro, ainda que talento futebolístico não lhe falte.

Em Wimbley, estádio lotado de torcedores de ambas as agremiações, vimos a seleção da Inglaterra perder a decisão nas penalidades máximas para o da “Azurra” italiana. Gostei da vitória da Itália, que mesmo estando acostumada a vencer títulos mundiais, ficou fora da Copa de 2018. A vitória está sendo considerada um sinal de reavivamento do seu futebol. De antigo destino dos sonhos de meninos do planeta bola, o País perdeu projeção internacional nos últimos 20 anos. Adotando a valorização da posse de bola e do ataque além da tradicional defesa forte, desenvolveu a formulação de um futebol total, estando há mais de 30 jogos sem perder.

A maior derrota inglesa, porém, se deu fora de campo. O aparente ressurgimento dos famigerados holligans marcou a realização do jogo. Houve ataques racistas contra os jogadores que perderam os pênaltis, de origem não caucasiana. Os torcedores racistas ingleses não conseguem alcançar que mesmo nascido como esporte de elite, o futebol se popularizou a ponto de penetrar em todos os recônditos do planeta, praticado por todas as etnias de originários do Brasil, a asiáticos, passando por africanos, árabes e aborígenes. Eles não perceberam que só chegaram aonde chegaram por causa da miscigenação do time. Os rapazes pretos tiveram a coragem de fazer as cobranças numa decisão de tamanha importância, enquanto os brancos se eximiram de fazê-lo não deveriam também serem cobrados por isso? Quando Saka teve seu chute defendido pelo goleiro italiano Donnarumma, considerado o melhor jogador da competição, chorou porque sabia o que viria pela frente, não apenas por ele, mas por outros de sua origem.

Em contraposição, vemos os campos vazios do Brasil atrasado na imunização por vacinas contra o SARS-COV-19, muito devido a “tenebrosas transações” nos corredores do Ministério daDoença”, restaurantes e gabinetes palacianos de Brasília. Processo levado adiante por sujeitos que se arvoravam ilibados porque nunca se provou nada contra suas práticas espúrias apesar de sabidas ou porque considerassem seu comportamento “normal” dentro de um sistema viciado. Entre a hipocrisia ou a falta de consciência por parte dessa gente, voto pela simples desfaçatez: “me chama de corrupto, porra!” enquanto a CPI do Senado sobre ações e omissões do Governo Federal continuará a buscar comprovações da política nefasta na condução da boiada porteira afora. Quanto ao perigosamente cada vez mais desconexo Ignominioso, vejo a possibilidade de quatro ocorrências: impeachment, renúncia (para evitar o processo e consequente inelegibilidade) e tentativa de Golpe de Estado. Se houver eleição, perderá…

Acontecimentos considerados inéditos, em Cuba, houve passeatas em nome da liberdade política e por avanço na imunização precária, enquanto a notícia divulgada antes é de que sobrava vacina, a ponto de estrangeiros serem vacinados quando chegavam à Ilha. As imagens são inegáveis e não devemos deixar, por miopia ideológica, de verificar o que acontece, uma longa ditadura que empobreceu o País. Na Espanha, uma morte causada por comportamento homofóbico contra um gay de origem brasileira, ainda repercute no país inteiro, com passeatas e cobrança por justiça. No Brasil, nada inédito no país considerado o mais perigoso para quem se identifica para além da dicotomia de gênero, uma cidadã trans foi morta por ter o corpo queimado por um adolescente que carregava, apesar de novo, os preconceitos passados de pai para filho neste sistema patriarcal que prejudica a homens, mulheres, transgêneros e identidades diferenciadas.

Em Fortaleza, um expoente (em termos de veiculação) da música popular atual apareceu, por imagens gravadas por câmeras de segurança interna de sua casa, espancando sua ex-esposa, estivesse ela sozinha, diante de outras pessoas ou de sua filha de nove meses, com socos, pontapés, puxões de cabelo e, não devemos duvidar, por palavras ofensivas de fundo moral. Para se justificar, o acusado culpou a vítima. Só se a mulher espancada buscasse se defender de alguma forma. Se há algo que enraivece quem agride é que o agredido se defenda da agressor. Quem ataca dessa maneira quer humilhar, rebaixar a vítima à condição de nada-ninguém, deseja pisar nela como se fosse um pano de chão. Para quem ataca, trata-se de uma “pisadinha”, para quem é atacado, torna-se uma quase morte, uma antevisão de seu aniquilamento. Pior ainda se for uma “simples” mulher que não deveria sair de seu lugar de pessoa de segunda categoria, de acordo com o pensamento do típico protomacho brasileiro.

Não busco resumir, a partir desses acontecimentos, quaisquer receitas a serem passadas adiante como modelos de viver e pensar. O que sei é que o sucesso profissional, artístico, financeiro e/ou social não engradece o Homem, mas a maneira como recebemos as vitórias e como lidamos com os nossos próprios insucessos na busca do equilíbrio mental, emocional, sentimental e espiritual. Esta última instância não tem a ver com religião dogmática, mas como uma visão transcendente da vida.

Para quem crê que tudo se restrinja à realidade imediata do mundo, ganhar o mundo muitas vezes é não o reconhecer em sua finitude tanto na questão de tempo quanto na de espaço. Somos seres mais e melhores, potencialmente. Basta querermos ultrapassar as limitações que tentam nos impor desde que nascemos através de ideologias segregadoras e por receitas de sucesso esporádico e finito. No entanto, e principalmente, enquanto estamos no mundo, é mister que defendamos os excluídos, os agredidos, os ultrajados e os que são mortos por uma política violenta e insultante da dignidade humana contra os poderosos de plantão. Que a Justiça terrena alcance e puna os representantes de um modelo de dominação que já não encontra lugar em nosso País e Planeta.

BEDA / Aos Artistas*

Encontro de artistas da palavra e outras mídias em evento da Scenarium na Casa Laranja.

Esta mensagem se dirige especialmente aos meus amigos artistas da música, da dança, das artes plásticas, do teatro, do audiovisual e, mais próximos do meu ofício de prazer, aos da palavra. Mas também poderá ser estendida a todos os brasileiros artistas da sobrevivência diária sucessivamente fustigados por ações de governantes ineptos, independentemente de orientações políticas.

Vivemos uma época inédita para a maioria de nós. Sobreviventes de outas experiências planetárias extremas, como a Segunda Guerra Mundial, são poucos. Desde então, passamos por situações limítrofes em doses parciais como se fossem pílulas amargas do sistema para nos condicionarmos a ele violência, abusos, achaques, imposições absurdas.

A vida por si só não basta. Não basta acordarmos e sentirmos que estamos vivos ao toque de nossos dedos na pele, ainda que sorrir por isso não seria um desperdício. Como não basta amar. Temos que cantar-contar-pintar-interpretar o amor e a vida. Não vejo como as expressões da alma humana não estejam intrinsecamente ligadas a viver e a amar.

Porém, sabemos que viver e amar não acontecem sem a contrapartida a morte, a dor e o esquecimento. Criamos formas diversificadas de mostrar o reverso da medalha para reafirmar a grandeza de existirmos. A Arte tem o poder de elevar a nossa consciência para além dos limites do nosso corpo e mente. Passamos a ter a sensação de participar de um maravilhoso concerto-peça-evento universal.

Ao estarmos no mundo nosso palco obedecemos a certas regras estruturais. O artista as subverte para criar uma expansão em que cabe outra natureza de ser. O artista intermedia a mensagem que anuncia: somos maiores do que pensamos. Através do corpo-voz-músculos-mãos-olhos-expressões demonstramos a nossa natureza sublime. Não há lugar na face da Terra onde o ser humano não tenha utilizado da arte como expressão de viver. Pinturas rupestres encontradas em cavernas-habitações há milhares de anos sublinham com tinta e sangue a necessidade que temos de ultrapassar a nossa condição primordial de simples animais mortais.

Por tudo isso e muito mais, pergunto: ainda que você artista e criador defenda as ideias professadas por mensageiros anticientíficos, colocaria o seu corpo-voz-meio-de-expressão à prova para corroborar que estejam certos quanto a oposição à Quarentena? Reuniria um grupo numeroso de pessoas para festejar a vida ainda que pudesse vir a perdê-la logo depois? Correria o risco de levar para sua casa um vírus que infectaria seu pai, sua mãe, irmãos, marido, esposa e filhos? Colocaria em perigo sua voz, seus pulmões, seus olhos, suas pernas, pés e mãos porque desacredita dos noticiários vindos de todos os cantos do planeta, alegando se tratar de um plano urdido nos confins da China para derrubar o atual governo central?

Porque amo a Arte e os artistas com os quais trabalho e convivo, que expressam com talento a vocação de criadores que os tornam tão diferentes da maioria das outras pessoas, peço: resistam à tentação de seguirem à horda de celerados que, aliás, odeiam a arte e aqueles que a operam, impingindo-nos a tarja preta de trabalhadores de atividades não essenciais. Vide o corte de projetos de incentivo à cultura e à pesquisa científica, igualmente conectada ao saber e ao cultivo do conhecimento o que causa horror aos práticos que preconizam a planície terrena como fato indiscutível.

Ainda que nossas necessidades pessoais imediatas não estejam sendo atendidas momentaneamente; por sermos cidadãos especiais que contribuem para o bem estar social através de nossas intervenções; por estimularmos a pensar e a sentir para além do que seja comum, reflitamos: devemos seguir cegamente a quem não se diz coveiro, mas vive a enterrar o bom senso? O que peço é paciência e a prática da ciência da paz. Estou parado, como a maioria de vocês, aguardando o momento de reencontrá-los bem, saudáveis, para celebrarmos com paixão, profissionalismo e alegria a vida e o amor.

*Texto de Abril de 2020, em que a vacina era apenas uma possibilidade imponderável e contávamos apenas com o distanciamento social e o uso de máscaras para conter a propagação do vírus da SARS-COV-2. Atualmente, a vacinação é lenta, abaixo do minimamente desejável, há o surgimento de variantes da Covid-19, mostrando que o absurdo plano do Governo Federal de adquirir a chamada “imunidade de rebanho” por contaminação de 70% da população era impraticável. Principalmente porque, para isso, a 3% de óbitos dos contaminados, veríamos morrer mais de 5 milhões de pessoas para que alcançássemos “êxito”. Isso, se desconsiderássemos que estando o mundo interligado, só haveria segurança total quando a ampla maioria da população mundial estivesse imunizada. Demonstração cabal de que os habitantes do planeta Terra são interdependentes.

Alê Helga / Lunna Guedes / Claudia Leonardi / Roseli Pedroso /
Adriana Aneli / Darlene Regina / Mariana Gouveia

BEDA / O Golpe De 1º De Abril

O meu pai sempre disse que o golpe de 31 de Março de 1964, na verdade ocorreu no dia seguinte 1º de Abril. Como não havia chance de comprovação, devido à falta de informações confiáveis, por falseamento de documentações, eu simplesmente acreditei porque, muito jovem, achava que meu pai não mentia. Obviamente, com o tempo, percebi que não apenas que ele mentia como seus sonhos de revolução à esquerda cederam ao peso da realidade de um projeto malfadado tanto ideológica quanto materialmente, vilipendiado que foi com a chegada ao poder do partido que ajudou a fundar.

Mas vez ou outra ouvia, aqui e ali, que o que os golpistas chamaram de Revolução de 64, se deu realmente no dia seguinte. Os documentos foram se acumulando, principalmente resultantes de relatos diretos, com o encadeamento par-e-passo dos fatos que levaram os militares ao poder. Definitivamente, o momento em que o Presidente João Goulart deixou Brasília, na noite do dia 1º de Abril, rumo a Porto Alegre consagra a sua deposição. Apesar de haver alguma movimentação no dia anterior, apenas a tomada do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, na manhã de 1º de Abril, deve ser dado como o marco inicial do golpe. Fonte insuspeita, o velho General Cordeiro de Farias, anotou: “A verdade é triste dizer é que o Exército dormiu janguista no dia 31 de Março. E acordou ‘revolucionário’ no dia 1º de Abril”.

Documentos apresentados posteriormente, outorgaram a data de dia 31 de Março como o da deposição de João Goulart. O que é interessante é essa ojeriza ao 1º de Abril como o da “Revolução” porque não quisessem sua vinculação ao “Dia da Mentira”. Reveladoramente, os arquitetos do golpe temiam que o movimento de rejeição à política janista carregasse a pecha de falsidade ou engodo. Porém, apesar desse primeiro embuste quanto a alteração da data, o que ocorreu depois, não foi mentira. Com o tempo, o regime de exceção instalado, perseguiu, prendeu, torturou e matou ou fez desaparecer os seus opositores, principalmente a partir do AI-5 de 1968. Até 1985, o movimento que anunciou ter surgido para pacificar o País, de fato o submeteu a 21 anos de cabresto, violência e corrupção ocultada pelo controle dos meios de comunicação.

Infelizmente, passados 35 anos desde então, vemos crescer a insanidade que coloca a Ditadura Militar como a salvação do Brasil. É um pesadelo daqueles que parece não conseguirmos acordar. Como se não pudéssemos construir uma sociedade que não prescinda de supervisão armada. Como se essa parcela armada e fardada da população seja um repositório moral indiscutível de brasileiros. Certamente, apenas desvairados, oportunistas ou desvairados oportunistas possam desejar que voltemos a cenários passadistas e atuações antiquadas, sem aplausos e sucesso.

Referências: Blog do Mário Guimarães

Adriana Aneli Alê Helga – Claudia Leonardi Darlene Regina
Mariana Gouveia – Lunna Guedes / Roseli Pedroso