Projeto Fotográfico 6 On 6 / Nostalgia

Eu diferencio Nostalgia de Saudade. A primeira palavra designaria um sentimento vago e abrangente de lembrança, um tanto melancólica de uma determinada época ou circunstância. A segunda, para mim, significaria um sentimento mais específico quanto à pessoas ou lugares, normalmente inspiradora e alegre. Porém, saudade também é bastante utilizada para designar sentimentos amargurados de solidão quando ao objeto de afeição. Por isso mesmo, é comum que confundamos as definições, mesmo porque são sentimentos imbricados, ainda que Saudade seja um idiomatismo da língua portuguesa. Nesta postagem, posto momentos específicos que me trouxeram boas lembranças e, nesse caso, a nostalgia se apresenta contagiada pela saudade.

Imigrantes andinos (2017)

Das personagens que encontramos por aqui… Todos os povos têm chance de se expressar culturalmente em Sampa, onde encontramos pessoas de todas as origens, de todos os tipos, de todos os cantos do Brasil e do mundo. Quem disser que esta terra não acolhe e não congrega quem aqui chega, está mentindo e quer criar a ideia de um separatismo que só é professada por alguns, uma absoluta minoria. Afinal, quem, entre a maioria de nós que vivemos aqui, não descende de povos de outros lugares?

Dona Georgete, primeira da direita para a esquerda, que comemorava os seus 90 anos, sentou-se com suas amigas de frente para a pista e viu a juventude dançar… Não acho que fosse com inveja. Pela retrospectiva apresentada na festa, concluo que ela não tenha ficado devendo em nada quanto às possibilidades que a vida apresentou a ela e agora apenas aprecia com prazer o ciclo a se completar…

Escada inventada por Santos Dumont (2017)

Este modelo de escada foi inventado por Santos Dumont. Cada degrau cabe apenas um pé. Ela é propícia para passagens estreitas, além de muito interessante para supersticiosos. Em se colocando o primeiro degrau para o pé direito e o último para o pé esquerdo, sempre o pé direito será aquele que iniciará o passo, ao descer e subir. Ela está instalada num palco suspenso de um buffet, onde trabalhei bastante. Quanto a Santos Dumont, é mais conhecido como um dos primeiros a desenvolver um modelo de avião e foi o criador do relógio de pulso. O sujeito era um gênio!

Dulce & Chiquito na gaiola (2016)

Quem está solto? Quem está preso?…

As calopsitas (que já partiram) passeiam pela gaiola a se sentirem seguras, mesmo com a aproximação de supostas predadoras (uma delas também já partiu). As plantas do jardim estão cercadas para que elas não sejam prejudicadas por invasores. Na verdade, se tivermos a clarividência necessária, nós, os animais humanos, não estamos em situação muito diferente. Da mesma forma, nós nos imaginamos protegidos por grades nas janelas, portas e portões de ferro… O que diferencia uns prisioneiros de outros? O que é liberdade?… Desde quase sempre, somos seres presos a uma estrutura em que somos mercadores da vida e da morte. Porém, para além do jogo das aparências, alguns dizem que existe um mundo livre de todas as amarras e condicionamentos…

O estudante de Educação Física, no Clube Spéria (2010)

Iniciei em 2009, aos 47 anos, o curso de Educação Física, na UNIP. Formei-me Bacharel em 2013. Neste registro, faço uma das etapas da sequência pedagógica do salto à distância, neste caso, com o auxílio de plinto (plataforma de madeira), na aula de Atletismo do Profº. José Luis Fernandes, mestre do Ensino e da Vida.

O menino passarinho e seus companheiros de salto (2016)

Em 13 de Abril de 2016, esta turma que está comigo na foto, vivemos juntos a experiência de saltar a 12.000 pés. Eu, que costumo apreciar as nuvens e o céu com os pés bem fincados no chão, cheguei um pouquinho mais perto dos meus objetos de culto. Do alto, vi os veículos, as casas, os animais, estradas e rios diminuírem de tamanho, até voltarem a crescer. Foi a primeira vez que saltei, mas tudo pareceu estranhamente familiar, já que quando era garoto, a experiência de voar era constante, em sonhos…

Isabelle Brum / Lunna Guedes / Mariana Gouveia

Projeto Fotográfico 6 On 6 / Pets

Termos um Pet significa que entregamos nossa dedicação e amor a um ser que, virtualmente, deverá viver menos do que nós. É um exercício de coragem, entrega e fortaleza. O termo “Pet” se popularizou no Brasil, a designar preferencialmente aos animais de estimação — cachorros, gatos, pássaros, roedores, répteis, peixes, ofídios , etc. O significado, em inglês seria o de animal ou, mais extensivamente, de animal favorito. Que “meus” cães e pássaros não me ouçam, mas não há como dizer que todos sejam favoritos. Ouso dizer que, como filhos ou netos, há um mais querido do que outro. Não direi quem seja o meu nem sob tortura.

Bethânia

A Bethânia é minha companheira do entardecer. Com ela, tenho passado os crepúsculos, quando eu observo o Sol se por e, ela, a fiscalizar o movimento da rua, enxerida que só, a latir para cada pessoa que passa. Chata! Seu ciúme já a fez merecer um capítulo em meu livro de crônicas — REALidade.

Dominic & Domitila

A Domitila é mãe da Dominic, mas cresceram separadas. Quando teve a sua única gestação, distribuímos os filhotes da Domitila e conosco ficou a Frida, de saudosa memória. A Dominic ficou com a minha irmã, minha vizinha. Quando a Frida ascendeu, sua irmã veio para o nosso lado. De início seu comportamento arredio foi se modificando e hoje é uma carinhosa companheira de todos os momentos, sempre procurando a presença humana.

Bambino

Bambino é meu neto, filho da Ingrid. Ele foi recolhido de um abrigo no interior que sofria ataques de uma onça. Sobrevivente, veio para a casa da família, a qual visita ocasionalmente. Atualmente, fica com a minha filha no apartamento onde mora, sendo tratado como um “Princeso“, seu apelido, paparicado por todos que vivem ou frequentam a “Prainha“.

Lolla Maria

Conosco há cinco anos, a Lolla, minha outra neta, filha da Lívia, é voraz e preguiçosa. De idade indefinida, já que foi resgatada como todas as outras, tirante a Dominic, a mocinha gosta de banana, mamão, abacaxi, mexerica e laranja, além da ração que lhe damos. Supomos que não seja tão nova. Surgiu uma mancha no olho direito, tinha maminhas intumescidas quando a recolhemos, sinal indireto de que tenha gestado. Tem a linguinha mais rápida da Zona Norte e rouba beijos de quem estiver desatento…

Arya

A guerreira Arya é a cachorra mais cremosa que existe. É tão fofa que todas querem agarrá-la e apertá-la. Apenas temos que tomar cuidado para não machucá-la, já que sente dores em virtude da Cinomose que foi detectada ainda cedo. O tratamento é constante e tem dado suporte a sobrevivência com qualidade, apesar dos sintomas progressivos. Entrou por nosso portão adentro e conquistou a todos quase imediatamente. Espero que fique conosco muito tempo ainda, enquanto tiver forças.

Dulce / Elton John & Kardashians

A Dulce tem cerca de doze anos, já. Com as patinhas um pouco atrofiadas, com o peitinho depenado, a recebemos para substituir outra calopsita da Romy. Ela teve dois companheiros. Um deles voou para “nunca mais” e o outro faleceu. É uma companheirinha ainda cheia de vida. Os ganizés Elton John e as KardashiansKim, Kendall e Kyllie — chegaram recentemente. Era um desejo antigo da Tânia e para receber essa turma, montamos um bom galinheiro no Yellow Brick Road Garden — meu projeto para esta Pandemia de Covid-19. A Kim, uma mistura com galinha normal, bota ovos azuis. Com essa criação estou revivendo meus tempos de granjeiro de duas décadas de vida.

Mariana Gouveia – Lunna Guedes 

O Sexto Dia

A face do Espírito pairava sobre as águas –

elemento primordial.

No primeiro dia, criou-se a Luz

para inundar de claridade o planeta.

No segundo, o firmamento para lhe servir

de guarida.

No terceiro dia,

sob o Céu que hoje nos protege,

surgiram a porção de terra seca

e a vegetação.

No quarto, os corpos celestes –

sol, lua, estrelas… –

para que este palco não se soubesse só.

No quinto, os animais aquáticos,

para percorrerem a imensidão aquosa

e as aves para voarem o sonho de flutuar.

No sexto, os animais terrestres, nossos irmãos,

a quem matamos para viver,

e a nós mesmos.

E, conosco, o Amor.

Seria tudo perfeito se a Paixão,

a verdadeira força motriz da criação,

não nos fosse dado a conhecê-la

o poder.

O criador descansou no sétimo dia.

A Paixão, jamais…

Renovo

Lindos sorrisos falsos, grandes abraços falsos, armados beijos falsos (sabemos que os bons beijos são inesperados e desarmados)… Enfim, chegamos ao Natal!

A sentença inicial expressei apenas para ser conforme aos revoltados de plantão que, com razão (as suas razões), querem fugir à massificação dos bons votos feitos de forma automática e sem um fundo de bom augúrio.

Eu, de minha parte, desejo realmente que possamos viver tempos melhores. Que o espírito de renovação se faça presente. Que as boas vibrações sejam perceptíveis na pele de pelos arrepiados. Que o sorriso seja acolhido com outro sorriso. Que chorar seja permitido e seja acompanhado de lágrimas companheiras e consoladoras. Que o abraço seja reconfortador. Que o beijo seja carinhoso como brisa fresca ou profundo como se quisesse explorar a alma de quem é beijado.

Sempre é tempo de renovação da esperança, do desejo de melhorar a visão do entorno ou de Raio X que busca o âmago das coisas (meu “defeito” de escritor). Da renovação do amor desgastado pelo tempo e/ou pela rotina, mas que ainda vibra dentro de nós. Da renovação do amor em nossa vida, não apenas pelas pessoas, mas pelos nossos companheiros animais, pelas plantas, pela Terra, pelos ideais e pelas causas que nos movem.

Um dia, neste mesmo planeta que habitamos, uma pessoa ousou proclamar o Amor como o Caminho. Isso foi tão revolucionário à época quanto o é ainda hoje. Todos os dias, temos provas de quanto é desafiador exortar o Amor ao próximo, de desarmar os braços para acolher. Os martirizados pululam em todos os cantos dos Continentes. O que antes ocorria na calada da noite e na distância dos lugares, hoje nos chega no mesmo momento que acontece, impactante. Imagens em vermelho-sangue, vermelho-fogo, em vermelho-choro…

Para encerrar, posto a imagem a seguir. Gosto de amanheceres, auroras são sempre bem-vindas. Mas os crepúsculos são mais desafiadores. Encerram a passagem do dia para a noite. Chega prenhe do dia que foi vencido, com dor e suor, alegria e amor. Esconde e aclara expectativas para o novo amanhecer. Os crepúsculos são luscos-fuscos da vida. Eis este, que colhi na fronteira entre São Paulo e Rio de Janeiro. O caçador de nuvens que sou lhes deseja o melhor para esta noite. E para todos nós, um Feliz Natal! Sejamos um renovo!

Proteger A Vida Verde Para Quem?*

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Em dia de ENEM, tive contato com uma informação que me deixou perplexo. Fiquei a imaginar como e quando viemos a perder a consciência de unidade  planetária. Por que muitos de nós – autodenominados, animais racionais – afirmam desconhecer o vínculo íntimo entre todos os seres viventes nos vários Reinos? Em qual ponto no meio do caminho deixamos de fazer parte da Natureza, para nos tornarmos seus algozes? E como esgarçamos a ciência de não vermos vida em uma planta?

Em resposta a uma postagem do blogue Cientistas descobriram que… “CDQ”, que cita respostas de estudantes do Ensino Médio a respeito da concepção de que as plantas não são seres vivos, postei “A Árvore – Casa 3”, de RUA 2, publicado em 2018 pela Scenarium Plural Livros Artesanais. Nesse conto, um motorista parado no trânsito conversa com uma árvore, que demonstra a sabedoria de quem faz parte de um intricado sistema vital que envolve todos os seres, há milhões de anos. Há quem dirá que minhas palavras sejam fantasiosas. Apenas aqueles que nunca se comunicaram com a vida…

“A ÁRVORE
casa 3

Entardecer… março-ainda-verão-chuva-forte-e-repentina.
O trânsito se complica.
Em vários pontos da cidade… anda-se a passos lentos.
Parado na via… o motorista olha para a árvore à sua esquerda e, aborrecido com a falta de movimento… puxa conversa:
— Estamos todos parados. Você… parece bem mais confortável.
Buzinas-cansaço-chuva-cansaço e as horas em seus movimentos de minutos-segundos… e ele ouve:
— Estou certa disso: sei quem sou, onde estou e para onde vou…
O cidadão revira os olhos… agarra firme o volante e refuta:
— Não me parece que vá a algum lugar.
— Você se prende à minha aparente imobilidade. No entanto, tenho consciência de tudo o que me rodeia. Nós, árvores, não precisamos nos deslocar para isso…
O animal paralisado funga… ao se dar conta da ironia da árvore…
— Tem consciência que foi plantada por homens e que homens podem arrancá-la a qualquer momento?
— Você também não foi “plantado” por homens? Igualmente não podem vir desplantar a sua presença no mundo, à mercê que estamos de circunstâncias incontroláveis, a todo o momento? Você sabe para onde vai?
Sentindo-se ainda mais incomodado que antes, parecia se alongar para uma pequena batalha.
— Estou tentando ir para o trabalho… acaso, sabe o que é trabalhar para sobreviver?
— Eu sou uma trabalhadora nata. O ser mais preparado para subsistir. Sou a minha própria indústria de alimento. Se me permite dizer… a questão que abordo é bem mais profunda: você sabe para onde vai, realmente?
Sem resposta, o bípede retribuiu a questão:
— E você, sabe?
— Sim… eu sei!
O ser em sua condição de criatura-pensante suspendeu a respiração por instante e ouviu:
— Eu vou para onde estou e estou onde deveria estar. Sem essa certeza, estaria desenraizada. E é daqui que os observo em movimento errático de lá para cá, a percorrer trilhas marcadas, em busca de algo que, em verdade, vocês já têm…
Boquiaberto, o humano emudeceu, mas ocorreu-lhe uma pergunta:
— Porque raios estar a falar comigo? Eu converso com plantas, pássaros, cães, gatos, mas nunca antes me responderam.
— Porque se coloca como um igual a mim. Normalmente, as pessoas sequer me notam.
— Acredito que façamos parte do mesmo ambiente, a viver o mesmo tempo… interligados.
— Parece que já conhece o caminho, amigo…”.

*Proteger A Vida Verde Para Que(m)?