BEDA / Projeto Fotográfico 6 On 6 / Arte Rueira

Arte feita na rua, para quem frequenta as ruas – à pé ou motorizado – aqui temos. Há já alguns anos, as artes plásticas – arquitetura, escultura, artesanato e pintura – tem ocupado mais espaços públicos. Aliás, as esculturas foram perdendo status e viabilidade. Estátuas – monumentos, bustos, altos-relevos – tem deixado a cena porque talvez os artistas que tenham essa especialidade não sejam tantos e porque, a depender do material, como um metal nobre, é depredado ou roubado.

A arte do grafite tem crescido em interesse e dimensão, tanto em tamanho quanto penetração midiática. Artistas especializados têm-se distinguido em projeção pela qualidade artística. Desde a ascensão de grafiteiros como Aryz, Kurt Wenner, “Os Gêmeos” Otávio & Gustavo, Kobra e o icônico Banksy. Mas a arte de rua também pode ser representada por estátuas vivas, músicos, malabaristas, palhaços, teatralizações, pintura mural e intervenções urbanas, coletivas ou individuais. Porém me basearei no movimento grafiteiro para mostrar a arte rueira.

Não apenas paredes podem servir de “telas” para as ideias expressas por artistas anônimos ou que, ao assinarem seus trabalhos, empenham seus nomes na construção de suas iconografias. Nesta imagem, a banca de jornais foi perfeita para dar informações que apostam na imaginação. Acima, na parede, uma intervenção que poderia ser interpretada como uma arte “menor” – a pichação.

Ao falar em pichação, que transformou-se em “pixação” e “pixar” em verbo, esta intervenção expressa de forma clara o quanto os julgamentos de valor são equivocados a depender da “posição” social que ocupa ou visão artística que professa de quem os fazem.

A “Galeria do Minhocão“, como eu chamo, abriga várias expressões em que as cores explodem em afirmações de vida e dramaticidade.

Há grafites em preto e branco igualmente expressivas, muito pelas ideias e variação de temas. Como esta em que mostra “a vida acontecendo” por trás das paredes externas.

A arquitetura encontra nas antigas construções paulistanas, de várias vertentes e linguagens urbanísticas, obras que destoam da monotonia retilínea dos edifícios mais modernos. Nesta imagem, o prédio de esquina em forma circular encimada por linhas retas, como a representar muretas acastelares é uma composição de tendências díspares. A beleza ganha graça adicional pela presença de grafites comerciais embaixo e um pequeno em cima, em que surge uma provocativa Monalisa.

Esta composição urbana é maravilhosa, para mim. Os elementos que a compõe apresenta dados como os postes de luminárias antigas, a utilização do espaço possível em um desgastado prédio de esquina, as árvores “intrusas” em meio ao cimento, as cores nos semáforos, a guarda do maior de todos em Sampa, o Mirante do Vale. No grafite, o rosto tranquilo entre feixes de cores estranhamente estar à vontade em meio a balbúrdia da Metrópole.

Participam do BEDA / 6 On 6: Mariana Gouveia / Darlene Regina / Cláudia Leonardi / Lunna Guedes / Roseli Pedroso / Isabelle Brum

B.E.D.A. / Fome De Pedra

Eu não sei o que acontece, mas não são poucas as vezes que eu sinto uma tremenda vontade de abocanhar esta cidade de asfalto e pedra!

Degluti-la quase toda e a vomitar inteira, renovada e rediviva.

Quando a vejo tão aparentemente desabitada, como nesta manhã de domingo, ainda sei que por trás de suas paredes, portas e janelas, o drama da vida se apresenta implacável e comovente…

Amores acordaram abraçados…

Traições foram postas à luz…

Amizades passaram a noite insones apenas no bate-papo livre e sem rumo…

O desejo de ser feliz pode ter encontrado guarida nos peitos e as paixões nos corpos. ..

Ou, tristemente, podem ter se perdido entre os desvãos dos prédios e das ruas sem saída da Metrópole insana que desperta…

*Manhã de um domingo de agosto de 2016.

Participam do B.E.D.A.:
Lunna Guedes
Adriana Aneli
Cláudia Leonardi
Mariana Gouveia
Roseli Pedroso
Darlene Regina

Tartarugas Escaladoras*

Jabuti-piranga, aos quais sempre chamamos de tartaruga

A imagem acima registrou o passeio pela casa de uma das tartarugas, que devagar e sempre, passou por cinco cômodos para vir a estacionar num cantinho da sala. Quando criança, tinha sonhos recorrentes, verdadeiramente, pesadelos, com tartarugas. Neles, eu via várias delas caminharem em minha direção, com os seus passos lentos, porém constantes. Cercavam-me devagar e, mesmo que subisse sobre os móveis, elas vinham em minha direção escalando paredes, cama, camiseira e guarda-roupa. Provavelmente, essa mesma tartaruga e sua companheira, devem ter me inspirado esses pesadelos, já que estão na família há mais de 70 anos. Deixei de ter esses pesadelos (que pareciam tão reais) quando vim a perceber, ainda dentro do sonho, que eram apenas sonhos. Descobri, apesar da minha imaginação que me fazia voar sobre as casas do meu bairro, que tartarugas não sobem ângulos retos… Elas não sobem, não é mesmo?…

*Texto de 2014

Projeto Fotográfico 6 On 6 – Passos | Cenários

Esta cidade que se come, nesta manhã, reaparece em suas linhas retas-irregulares, em cinza-cimento, imersa em cinza-nebulosidade. Linda, de tão feia. Porque quem a ama, bonita lhe parece – distorção que todo amor gera, abrigado por suas praças sem cuidado.

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Retas-irregulares, em cinza…

Quando vejo São Paulo aparentemente desabitada, como nesta manhã-madrugada, sei que por trás de suas portas, paredes e janelas, o drama da vida se apresenta implacável e comovente… Amores acordaram abraçados… Traições foram postas à luz… Amizades passaram a noite insones apenas no bate-papo livre e sem rumo… O desejo de ser feliz pode ter encontrado guarida nos peitos e paixões nos corpos… Ou, tristemente, podem ter se perdido entre os desvãos dos prédios e das ruas sem saída da metrópole insana que desperta…

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Fome de aço…

Tenho fome de asfalto, granito e aço. Eu não sei o que acontece, mas não são poucas as vezes que eu sinto uma tremenda vontade de abocanhar esta cidade. Degluti-la quase inteira, absorvê-la e vomitá-la, renovada e rediviva. Traduzida.

Cenas (2)
Traduções…

Por caminhos antigos, não percebo os escombros. Mas histórias passadas, que um dia foram protegidas por tetos, quartos e salas – lares e comércios – negócios de viver. Espaços contidos de expressão. Lembro as roupas, os comportamentos, adivinho os pensamentos – déjà-vu, atavismo ou alucinação.

Cenários
Escombros…

Progressivamente, o sol se ergue por entre as colunas e lacunas. Durante o dia, pessoas de todas gerações e procedências se cruzarão por suas calçadas, dobrarão suas esquinas. Serão carregadas feito vírus por trens subterrâneos e vias elevadas, por ônibus e automóveis. Cumprem a magna determinação e enlevado desejo do monstro – querer ser maior e pior.

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Leituras…

Seus personagens ressurgem anônimos e marcantes. Tento lê-los… A moça deselegante e amarfanhada, dona da lojinha de frutas, que arranja as prateleiras. O jovem forte e bonito, negro, que reabre o salão afro de cabelereiros e carrega uma camiseta em que se lê: “I ran like a slave. I walk like a king”. Na padaria, enquanto toma café, o operário com capacete de segurança, lê um livro técnico de engenharia. No trem, uma moça, entretida com um livro religioso, permanece em pé, apesar dos inúmeros bancos vazios.

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Anônimos…

São Paulo é meu carma.

Participam deste projeto: Cilene Mansini | Maria Vitoria | Mari de Castro | Lunna Guedes | Mariana Gouveia

Projeto Fotográfico 6 On 6 / Junho

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Amanhecer na estrada para junho…

Junho me engoliu. Descobri que passeava pelo mês, quando já havia deglutido o primeiro dia em sua metade.  No feriado, ocorrido no último dia do mês finado-passado, trabalhei vinte horas seguidas. Acordei na sexta-feira passada, pensando que fosse segunda. Mandei mensagem para a minha podóloga, informando que perdera a hora da consulta, às 13h. Apaguei, logo que percebi a discrepância. O motim dos caminhoneiros, ajudou a tornar o início de Junho prenúncio de algo novo –– só não sei dizer o que será…


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Domitila

Junho me deixa preguiçoso.  E invejoso, de tanta paz que alguns sentem ao vivenciá-lo. Apenas penso que será um mês atribulado, com Copa do Mundo e eventos relacionados à esse acontecimento. Nunca observei tanta pouca acolhida ao torneio de futebol quanto neste ano. Talvez reflexos de certo 7 X 1, na Copa passada. Prefiro acreditar que o brasileiro sabe que teremos grandes problemas a enfrentar no decorrer do ano. Que vencermos um evento esportivo não definirá nosso futuro tanto quanto as eleições que se aproximam.


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Mês branco…

Junho é um mês branco. Em sua maior parte, nasce e morre sem outra cor. O outono se esvai em sangue cada vez mais ralo, à espera do inverno que se aproxima. A cidade cinza se diferencia das cores manipuladas pela mão do homem, em paredes e janelas. Nesta paisagem de São Paulo antiga, do Vale do Anhangabaú, pintada em um prédio na Avenida Tiradentes, o branco do céu real se confronta com o azul do céu fictício.  A cidade se sobrepõe em camadas, em avessos e vice-versa.


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Paisagem suspensa…

Junho começou com visitas à Santa Efigênia, região onde busco suplementos e equipamentos de trabalho. Vez ou outra, adentro a espaços em que quinquilharias se acumulam sem propósito aparente, a não ser de servirem como cápsulas do tempo. Já consegui peças e dispositivos com bons preços nesses lugares. Ontem, cheguei a ver o mar, ainda que mal pintado. Surpresas deste mês frio.


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Nudez…

Junho desencarnado se reflete em visões nuas. Como a parede deste belíssimo prédio. Praticamente abandonado. Aparentemente, está para ser reformado. O mês de junho está para ser reformador. Janelas e portas escancaradas para nos conscientizarmos de nossas possibilidades como povo. Poderia começar com as festas juninas queimando as fogueiras do descaso à vida, da insolvência da lei, do descumprimento das normas básicas de convivência social. Que as quadrilhas dancem apenas os temas folclóricos.


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O multi-Homem que não sou…

Junho antecipou emoções que esperava viver apenas em seu final. Solicitações de todas as ordens fez com que eu tivesse que multiplicar minha atenção. Nem mesmo a minha personalidade dada a brincar com personagens para atendê-la em sua diversidade, está conseguindo lidar com todas as questões que este mês tem me pedido. Há datas que gostaria de ser três pessoas, pelo menos, para estar onde gostaria de estar. Dia 23 de Junho será um desses dias…

 

|Lunna Guedes| Aline Calai | Cilene Mansini | Maria Vitoria |
Mariana Gouveia | Mari de Castro Obdulio Nuñes Ortega |