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BEDA / O Quarto

Bichinhos de pelúcia, bonecas, garrafas de água, canetas, álbuns, envelopes, cadernos e livros, bolsas, bolsinhas e bolsões, sacolas, enfeites, correntes, correntinhas, pingentes, brincos, pulseiras, óculos diversos, tênis, botas, sapatos, chinelos (calçados, tantos, que não sei como podem existir tantas variações), blusas, blusinhas, blusões, camisetas e “tops” (sim, eu sei o que são), calças, calções, calcinhas, lençóis, cobertas, almofadas, travesseiros e “pufs”, esparadrapos, “sprays”, pomadas, pílulas, pacotes de absorventes e remédios variados, controles da TV e do “vídeo-game”, aparelhos múltiplos e fios de aparelhos, fones de ouvido, caixas, caixinhas e repositórios dos mais diversos tipos, meias, meinhas e meiões, bonés e chapéus, roupas e roupões, pentes, escovas, pincéis de maquiagem, cabides, chicletes, uma xícara e um copo usados e uma barra de chocolate esquecida – tudo isso, perfeitamente dispostos no quarto de minhas meninas sobre as camas, móveis e cadeiras. Toda a aparente barafunda dos apetrechos femininos e outros apresentam a simetria da vida que acontece agora. Tudo, apesar da suposta bagunça, detêm um significado e um propósito. Antes, quando eu entrava nesse recanto de sono reconciliador ou de conversas caladas na noite, ficava contrariado. Dizia que não mais invadiria àquele mundo particular. Hoje, se o faço, é para somente perceber que tudo esteja em seu devido lugar, perfeitamente revirado, na expectativa do tempo que sentirei saudade de não as encontrar mais nele abrigadas – nossas filhas – meninas-mulheres que, um dia, ganharão o mundo. Então, nós, seus pais, encontraremos o quarto dos nossos amores, enfim, arrumado, mas vazio…
Maratona Setembrina | A Maga dos Dedos (Ou Poema A Quatro Mãos)

Manhã de inverno cambiante,
ela acabara de fazer as mãos com Maga,
artesã de anos – vinho nos dedos.
Chegou ao apartamento vazio,
mas pleno da presença dele…
A distância não o deixava menos próximo –
tanto quanto seu corpo,
cada objeto estava impregnado do toque do amado.
Na taça,
o espanhol “Dos Dedos de Frente”.
Começou a escrever uma carta
que talvez nunca enviasse.
Porém, seu desejo percorria a pele,
eriçava seus pelos:
pulsão de vida.
Vibração de artérias preenchidas
de sangue e energia…
Fechou-se no quarto,
abriu as pernas…
Logo depois,
percebeu o quanto o amor faz estragos.
Ligou e pediu socorro.
Disse que encostou na porta do elevador.
O que não deixava de ser verdadeiro –
foram movimentos para alto e para baixo…
Diante das unhas de dois dedos
da mão direita borradas,
Maga a olhou com olhar compreensivo.
Conhecia de perto o que sentia…
Ambas se calaram em mútua conexão.
Há coisas que talvez se possam abrandar…
A manicura,
sabia que podia consertar os efeitos
da falta que a consumia…
Porém, para tamanha saudade
não havia cura…
