
Manhã de inverno cambiante,
ela acabara de fazer as mãos com Maga,
artesã de anos – vinho nos dedos.
Chegou ao apartamento vazio,
mas pleno da presença dele…
A distância não o deixava menos próximo –
tanto quanto seu corpo,
cada objeto estava impregnado do toque do amado.
Na taça,
o espanhol “Dos Dedos de Frente”.
Começou a escrever uma carta
que talvez nunca enviasse.
Porém, seu desejo percorria a pele,
eriçava seus pelos:
pulsão de vida.
Vibração de artérias preenchidas
de sangue e energia…
Fechou-se no quarto,
abriu as pernas…
Logo depois,
percebeu o quanto o amor faz estragos.
Ligou e pediu socorro.
Disse que encostou na porta do elevador.
O que não deixava de ser verdadeiro –
foram movimentos para alto e para baixo…
Diante das unhas de dois dedos
da mão direita borradas,
Maga a olhou com olhar compreensivo.
Conhecia de perto o que sentia…
Ambas se calaram em mútua conexão.
Há coisas que talvez se possam abrandar…
A manicura,
sabia que podia consertar os efeitos
da falta que a consumia…
Porém, para tamanha saudade
não havia cura…
Carne e osso, pele e alma…
A cumplicidade que dispensa a fala e o doce mistério que é viver. Belos versos!