BEDA |VIRAL

Symian_virus
Symian Virus (Wikipedia)

Viralizou! – é o que se diz sobre alguma notícia, foto, vídeo ou texto (mais raramente) que ganhou expressiva repercussão midiática, com consequente discussão nas rodas sociais. Muitas vezes, inadvertidamente, episódios de aparente simplicidade reverberam como se fossem verdadeiros acontecimentos. Outras, o são, realmente. Em algum momento, algumas pessoas buscam os holofotes com traquinagens e trucagens para criarem fatos-factoides.

De maneira mais ampla, o surgimento do midiático “viralizar” esconde vários significados, alguns obscuros, em relação ao nosso comportamento como humanos-civilizados-conectados. Como se fossemos agentes transmissores de enfermidades causadas por vírus letais, carregamos para o próximo temas virais, para a alegria dos produtores de conteúdos doentios.

As redes sociais são utilizadas para a propagação de diversos vírus – entre outros, de artísticos a sociais, de criminosos a políticos – estes últimos, atualmente, quase sinônimos. Sejam quais sejam as razões pelas quais alguns fatos e algumas pessoas ganham repercussão, fica difícil justificar, a não ser com bastante esforço analítico, a razão da assunção de tipos francamente repulsivos catapultados à condição de figuras importantes. Como a revelar o quanto estamos doentes, a reprodução de ideias que pregam o retrocesso político e social parece ser a doença da vez.

Encontrando campo fértil em nossa condição de baixa imunidade mental, infiltram-se através da corrente sanguínea social, doenças que levam ao óbito o bom senso e a inteligência. Em diversas ocasiões, percebe-se a mecânica que levou Hitler a ascender ao poder de forma tão avassaladora.

O que aconteceu nos Estados Unidos e poderá acontecer aqui (se bem que eu me recuse a acreditar), faz parte de um fenômeno inaudito, resultado de séculos de desiquilíbrio social, desigualdade econômica e projetos claros urdidos nos últimos 50 anos de solapamento da Educação Pública, a mais viável para dar oportunidade de crescimento a nação e, consequentemente, ao País.

Esse mal viral, criado em laboratório como remédio de sustentação de um sistema precário, mas funcional para quem se beneficia dele, vai acabar por matar o hospedeiro, o que é uma estratégia até menos inteligente do que formas de vida supostamente menos evoluídas, como os vírus reais…

https://cientistasdescobriramque.com/2017/03/21/os-virus-sao-capazes-de-conversarem-entre-si/

Participam:  Claudia — Fernanda — Hanna — Lunna — Mari

 

Rejeito

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Lixeira em Itu

Comecei a fazer terapia bioenergética*. Inclui, além da utilização de massagens, conversar. Ter alguém com quem conversar é uma das terapias mais antigas do mundo. Antes do surgimento das teorias psicoterapêuticas, os mais velhos da família, anciões, padres ou chefes religiosos, arcavam com o ônus da ausculta dos segredos e conflitos dos componentes das comunidades. Nesse caso, desenvolver uma estrutura apreendida em experiências pessoais e coletivas, ou religiosos-filosóficos para lidar com os conflitos das pessoas que vivem em sociedade serviam como base para resolver imbróglios que poderiam terminar em crises com sérias consequências íntimas ou externas.

Mais tarde, pressupostos disciplinares científicos foram desenvolvidos para realizar essa função. Virou profissão o que antes era gracioso. Ou nem tanto, já que carregar tamanho peso deve ser difícil para quem ouve. Na Análise Psicanalítica, por mais que controle que tenha sobre suas demandas particulares, o analista também deve ser analisado. Na Igreja, o padre confessor também confessa.

Uma das solicitações do meu terapeuta é que eu deveria escrever em um papel sobre todas as minhas contradições, lembranças, ideias e desejos inconfessáveis, sentimentos conflituosos e emoções chãs. E, depois, amassar o texto e… jogá-lo fora. Pedir para um escritor tal coisa é como ordenar para que alguém mate seu filho. Como Miguel, apesar do nome de anjo, não é Deus e eu não sou Abraão, argumentei com ele que seria cabalmente impossível que isso ocorresse. Mesmo que malfeito, nunca rejeitaria um filho. Além disso, é no processo confessional que assento grande parte da construção do meu texto, mesmo que não claramente, já que parte de meus personagens assumem a autoria dos meus crimes.

No entanto, também sabia que ainda que dissesse quase tudo, havia coisas que nem às paredes, aos papéis e às telas de computador confessava. Sempre há como ir mais fundo quando chegamos ao fundo do poço. Dessa maneira, decidi escavar os meus preconceitos, minhas frases escatológicas ditas em tom de brincadeira, minhas pequenas maledicências – venenos endógenos. Nada como a confissão feita ao padre da Primeira Comunhão, quando revelei que não obedecia sempre à minha mãe, algo tão grave que foi recebido com sorrisos pelo pároco.

Criei um projeto chamado “Rejeito”. Nessa lixeira, decidi colocar frases, passagens, situações e ideias que considerasse pecaminosos demais para expor de cara limpa com o meu nome à frente. Talvez, com passar do tempo, tanto quanto o padre confessional, eu sorria ao perceber que não se tratava de algo tão grave. Nada que dois Pais Nossos e duas Aves Marias não resolvam e acalmem minh’alma. Ou talvez, seja um repositório que venha a me desconstruir de tal forma como personagem de mim mesmo que eu prefira morrer.

 

* A análise bioenergética, também conhecida como psicoterapia bioenergética, terapia bioenergética e bioenergética, é uma terapia criada em 1955 por Alexander Lowen (1910-2008) e John Pierrakos (1921-2011) a partir das pesquisas de Wilhelm Reich (1897-1957). Fundamenta-se na integração entre mente e corpo. Sua função é resgatar o contato consigo mesmo, com as percepções corporais e emocionais. O foco é o olhar para o cliente como um todo, integrando corpo, mente, emoções e racionalidade. (Wikipédia)

 

A Humanidade De Deus

AAA
Para onde caminhamos?

Centrão de ar seco. Cruzo com um rapaz negro, atlético, absorto com o seu celular e que veste uma camiseta que expressa: “SÓ VOU ACREDITAR EM DEUS QUANDO ELE ACABAR COM A HUMANIDADE”. Já imaginei a Terra sem a presença desses seres que dizimam os recursos do planeta e que, um dia, virá a extinguir a vida que nele caminha. Se Gaya não resolver nos eliminar antes. No entanto a frase citada, que carrega imensa dramaticidade, igualmente revela fé e contradição.

A fé se dá ao declarar que existe um Deus que detém o poder de terminar com a nossa presença no terceiro planeta do Sistema Solar, da mesma forma que supostamente nos tenha criado. Há relatos que, no passado, tentou executar esse plano definitivo. Porém, decidiu nos dar outra chance.

A contradição se estabelece pelo fato que Deus só existe se existirmos. Deus é testificado apenas por nós, já que os outros animais não têm consciência alguma de sua existência. Eu creio que erramos ao separar a divindade da vida, enquanto os outros entes sequer especulam sobre tal criação. Nós repartimos a crença em Deus em doutrinas e acabamos por ser definidos por essas caixas de contenção. Nos desunimos como seres humanos dentro de um processo global.

A nossa relação com Deus é de dependência. Precisamos dela para nos afirmarmos como seres superiores, que documentam materialmente a sua energia. Por sua existência, confirmamos a nossa origem, alegadamente Divina, dominantes sobre toda a Natureza, prova de nossa imensa vaidade ao estabelecermos que tenhamos sido eleitos como portadores de sua Revelação.

Em sentido contrário, é curioso reparar que, sem a nossa presença, a existência de Deus seria silenciosa e sem sentido aparente – inexistente, talvez. Morta a Humanidade, morta estará também a divindade. Sem testemunhas, não há crime…