
Centrão de ar seco. Cruzo com um rapaz negro, atlético, absorto com o seu celular e que veste uma camiseta que expressa: “SÓ VOU ACREDITAR EM DEUS QUANDO ELE ACABAR COM A HUMANIDADE”. Já imaginei a Terra sem a presença desses seres que dizimam os recursos do planeta e que, um dia, virá a extinguir a vida que nele caminha. Se Gaya não resolver nos eliminar antes. No entanto a frase citada, que carrega imensa dramaticidade, igualmente revela fé e contradição.
A fé se dá ao declarar que existe um Deus que detém o poder de terminar com a nossa presença no terceiro planeta do Sistema Solar, da mesma forma que supostamente nos tenha criado. Há relatos que, no passado, tentou executar esse plano definitivo. Porém, decidiu nos dar outra chance.
A contradição se estabelece pelo fato que Deus só existe se existirmos. Deus é testificado apenas por nós, já que os outros animais não têm consciência alguma de sua existência. Eu creio que erramos ao separar a divindade da vida, enquanto os outros entes sequer especulam sobre tal criação. Nós repartimos a crença em Deus em doutrinas e acabamos por ser definidos por essas caixas de contenção. Nos desunimos como seres humanos dentro de um processo global.
A nossa relação com Deus é de dependência. Precisamos dela para nos afirmarmos como seres superiores, que documentam materialmente a sua energia. Por sua existência, confirmamos a nossa origem, alegadamente Divina, dominantes sobre toda a Natureza, prova de nossa imensa vaidade ao estabelecermos que tenhamos sido eleitos como portadores de sua Revelação.
Em sentido contrário, é curioso reparar que, sem a nossa presença, a existência de Deus seria silenciosa e sem sentido aparente – inexistente, talvez. Morta a Humanidade, morta estará também a divindade. Sem testemunhas, não há crime…
Eu sempre me divirto com as impressões traçadas a respeito desse ser acima de tudo e todos. Há momentos em que sinto preguiça, em outros pena. Quase sempre acho engraçado a necessidade de algo maior, fora de alcance, perfeito.
Sempre considerei essa figura muito chata. Os deuses celtas-gregos-egipicios sempre foram fascinantes, mutantes, formidáveis e imperfeitos… o contrário dessa invenção boba. Os outros também eram invenções nossas, maneiras tolas de manter e preservar uma hierarquia estupida. Mas eram mais próximos de nós. Esse que inventaram a nossa imagem e semelhança, como se nos remetêssemos a idéia anterior de deuses, conseguiu ser algo piorado, como todo plágio, diga-se de passagem. rs
deus não sobreviveria sem nós, certo? Gaya, no entanto…
Eu já havia decidido postar este texto, ontem, quando vi O DIA EM QUE A TERRA PAROU, a nova versão. Preferia a primeira, muito talvez por causa dos efeitos técnicos precários, mas bons o suficiente para nos fazer viajar na história. A idéia central é salvar o planeta de nós, nos extinguindo. Não acho uma má opção…