Wuthering Heights*

aciono a máquina do tempo…
ao mesmo tempo que ouço “Wuthering Heights”
a voz aguda e precisa de Kate Bush me conduz
à lembrança da moça de cabelos esvoaçantes
ela dança em minha imaginação
em preto e branco
memória de garoto na antiga televisão
enquanto um vento cálido e reconfortante
embala meu corpo estanque
no ponto do coletivo
que me levará para longe
dos morros de cães uivantes
do meu norte
que contam suas histórias:
“estou preso, quero sair!”…
“estou na rua, quero um lar!”…
“estou só, quero meu humano amor!”…
“sou amado, gosto de latir!”…
a cápsula-transporte se aproxima
embarco rumo ao sul…
no concerto sem conserto da vida imprecisa
deixo a ventania levar minha dor uivada
para destino incerto
talvez
rumo ao sul do homem que fui…

*Poema de 2019. Abaixo, a bela e talentosa Kate Bush, em clipe de 1978.

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