O Pensador

sentado num dos degraus da escada
com a cabeça pensa
apoio o meu queixo no punho fechado
cotovelo encostado no joelho
posição famosa de quem pensa –
o pensador –
que pensa a vida pensa o amor pensa a falta
pensa o vazio o amor
de tanto pensar me pesa
o nada a expectativa o encontro desencontrado
o desencanto percorre o descaminho
tão invertebrado quanto a minha espinha
cravada de espinhos que a sustentam
pensar me ensina que nada sei
cada dado a conhecer
busca encontrar seu corresponde saber
enquanto sou açoitado pelo querer
porque quem vive
vive a desejar
matemática e imprecisamente  
o que precisa desejar
e não desejar
quando me sinto bem quero me magoar
quando sofro necessito encontrar
satisfação e regozijo na dor
como se fosse a consequência inevitável e querida
para dar o fim perfeito ao prazer ocasional
ao pensamento sazonal
ao sentimento casual  
a nova tendência da estação
aquela que nunca sai de moda –
buscar ser feliz –
enquanto penso a dor…

Imagem: O Pensador, original, Na Porta do Inferno (Wikipédia)

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.