Eu nem me lembro se já fiz um diário. Talvez eu tenha feito. Mas para ter certeza, teria que revirar os meus papéis antigos, guardados em alguma caixa de papelão jogada em algum canto da casa.
Onde devem estar reservados vários livros antigos, degredados da biblioteca oficial, estabelecida em uma das salas. Devido ao estado um tanto precário de alguns — encardidos, com páginas rasgadas, comidas por cupins ou traças — vivem escondidos dos olhos de quem julga um livro pela capa.
Tenho alguns defeitos e vou enumerá-los aos poucos. Um deles é ter apego a esses velhos companheiros. Fui catador de papéis e outros materiais descartáveis quando moço, junto com o meu pai, aos sábados e domingos. Utilizávamos a Gertrudes, a nossa Kombi, para carregar o que conseguíamos. Vários desses livros são dessa época. Foram jogados fora, alguns reconhecidos clássicos da Literatura. Outros, recolhi do lixo do colégio no qual fiz o Segundo Grau, expulsos da antiga biblioteca, então demolida. Muitos, doados por ex-estudantes ou colaboradores que têm os seus nomes neles registrados.
Se há rastro de algum diário, estará entre esses papéis… inúteis para tantos.
*Lançado em 2019, pela @Scenarium Livros Artesanais.
