Apesar de saber que a vida é feita de porcentagens — somos 70% água, 10% meia calabresa, meia atum, mais ou menos e, por aí, vai — hoje, eu me irritei quando alguém citou, sobre determinada situação, a porcentagem de 99,9% como provável.
Por algum motivo obscuro para mim, como já que proclamei em certa ocasião, sou um digno representante do “Talvez“, acordei a querer ter certezas. Queria para o resto do dia que tudo se definisse 100%. Queria a absoluta convicção, sem a intermediação de advogados a citar contestações em latim: data venia…
Queria a fé dos quem erram com perfeição:
“São bandidos, sim!”
“São pessoas corretas, com certeza!”
“Não é amor, é apenas paixão!”
“Droga não faz bem, ainda que recreativa!”
“A minha vida é uma droga!”
“Sou feliz prá caraleo!”
“Você é uma besta, mas eu o amo!”
“Eu adoro arroz e feijão, tanto quanto odeio bacalhau!”
Não queria cores intermediárias nem o cinza, mas o preto e o branco perfeitos. Queria saber para onde estou indo e para onde vou. Queria saber quem sou eu. Queria amar e o amor sem dúvidas. Queria ter a certeza de que todos morremos para as outras certezas da vida… pelo menos, por hoje.
*Texto de 2017

eu quero esvaziar todas as certezas do mundo, como faz? rs
O texto é de 2017. Quanto mais vivo, menos certeza eu tenho sobre alguma coisa. Chegará o dia em que esvaziada todas as certezas, estarei certamente morto – a única coisa cem por cento da vida.
Esta certeza escrita ainda vale para 2024?