25 / 02 / 2025 / Pelo Tempo

VISTORIA
Amanhece e a Lua pontua como uma pequena mancha no tecido azulado. Borrão luminoso a ser prontamente varrido pela poluição antes e pelo sol, logo mais.

PERA
A pera sobre a pedra preta.
Esfericidade ferida à espera de ser absorvida.
A ideia de fruta madura torna-se absoluto conceito alimentar.

EXPLOSÃO
Pelas ondas do rádio recebemos por uma última vez as notícias que todos nós temíamos ouvir:
ondas de radiação mortal propagavam-se desde o epicentro da explosão ao norte, varrendo toda a vida pelo caminho…

AUSCULTA
Conectividade, mas artificial. Vozes, sons, sinais. Comunicação instável, interceptada. A cada conquista tecnológica, a cada antena instalada, um fosso se cria entre antenados e marginalizados, todos nós colonizados. Celular ao ar.

POSSIBILIDADES
Os meus óculos são o escudo que me protegem os olhos enquanto capto a luz do seu olhar.
Sem eles, só vejo bem de perto, mas aí, eu me perco…
Pelo caminho? Não, nele…

PERDEDORES
Do prédio do hospital até o estádio têm-se quinhentos metros. Do quarto 674 avisto a nave mãe. Centro de peregrinação, preces e emoção. Item alienígena na fé do cristão. Camisas de cores diferentes separam os seus tripulantes entre aqueles perdedores que pensam ser os vencedores e entre aqueles perdedores que se sentem os perdedores. De novo.

FERIMENTOS
Enquanto isso, flores da antiga árvore descem sobre o carro ferido, o ferindo de cor. O ser aparentemente imóvel, mas vivo, joga a sua vingança colorida sobre aquele objeto móvel, que um dia já feriu…    

ORQUÍDEAS OUTONAIS
Orquídeas florescem displicentemente no outono paulistano. Logo, dormirão. Enquanto isso domina a nossa atenção. Ou: por ser ideias de orcas fluorescentes, decididamente lhe outorgam ser um bom plano viver belamente. Logo dominarão a nossa imaginação.  

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