Em princípio, o egoísmo é a base sobre a qual se sustenta o que poderíamos chamar de mal, porque não contempla o outro, causa sofrimento e provoca o isolamento…
No entanto, se um ser vivesse sozinho no planeta, sendo o seu único habitante, até poderia se sentir pleno, total. Ao não conhecer um outro igual, não teria conflitos nascidos da convivência com alguém que lutasse pelos mesmos recursos para satisfazer as suas necessidades. Por isso, Sartre chegou a dizer que o inferno são os outros… Justamente porque os culpamos por nossas deficiências.
O diabo é que a partir do momento que houvesse pelo menos dois indivíduos ocupando o mesmo espaço, cria-se uma dependência. Caso essas duas pessoas se apartassem, veríamos surgir a solidão… e a solidão dói como se tivéssemos a nossa carne rasgada com uma faca cega… Os antigos devem percebido essa dimensão ao assegurarem que um ser teria surgido do corte de parte de um outro.
Proponho, porém, que a história seja contada de outra forma — o homem teria surgido de parte da mulher — não ao contrário, porque o completo não nasce do incompleto…
*Texto constante de REALIdade, lançado em 2017 pela Scenarium.
