15 / 10 / 2025 / Professar

Eu professo. Não como profissão, ainda que seja uma profissão de fé no espargir do conhecimento. Sempre que posso, tento transmitir o que sei, o que aprendi, mas não deixo de conjecturar que seja uma imposição de “saberes” aos quais a quem atinjo com a minha suposta sabedoria não requerida. Fico pensando que o meu entendimento possa ser mal compreendido como algo supérfluo. Ou que eu mesmo o transmita de modo a parecer uma imposição. No entanto, há professores que agem com arrogância por atingir um patamar de conhecimento certificado. Antes, eram tratados como semideuses em uma sociedade que respeitava o estudo. Ao mesmo tempo, com o passar dos tempos e as mudanças sociais e tecnológicas, há quem olhe para o estudo como algo anacrônico numa época em que o acesso à Internet transformou as relações de acesso ao “saber” imediato.

Algo que é mais recente, a IA, em menos de dois anos revolucionou a identificação da realidade com a possibilidade de certo grau de ficcional. Se tudo é possível, quase nada possa ser afiançado como verdadeiro. Distinguir entre o que é relevante e o que não é num cenário que passa a ser suspeito de manipulação, ultrapassa os limites aceitáveis de estabilidade social em que as disputas políticas atingem níveis extremos de radicalização. Ou seja, as versões ganham patamar de suspeição de lado a lado. O conhecimento perde valor dessa maneira, porque é manipulável como, aliás, sempre foi. Apenas que a manipulação atingiu um nível de ciência nunca antes alcançado. Ou seja, chegamos ao paradoxo de que desenvolvemos tanto conhecimento tecnológico que, num apertar de botões, podemos torná-lo obsoleto como meio de vivenciarmos a realidade.

Como me chamam de um sujeito professoral e que, em última instância seria a profissão pela qual gostaria de ser reconhecido — Professor — homenageio àqueles que têm a dura tarefa de transmitir a seus alunos as condições necessárias para que possam escolher o caminho que queiram tomar entre tantas variantes atraentes, mas suspeitas de serem insatisfatórias para as suas vidas.

Foto por Pixabay em Pexels.com

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