
Os amantes brigaram. Por ciúme. Apesar de se saberem casados há muito tempo com outras pessoas, normalmente não é por causa delas que brigam, porém por causa de outras personagens que se aproximam dos três casais originais. Quando ama intensamente, o amante desenvolve superpoderes sensitivos em relação ao outro de sua vida. Nas mulheres, a intuição já pronunciada adquire, então, a promoção de supra superpoder.
– Quem é aquela que escreveu “lindo!” na foto que tirou de seu cachorro?
– Qual aquela?…
Diante da óbvia inocência estampada no rosto do desavisado, ela recua e responde:
– Deixa prá lá!”… – Afinal, não quer aguçar a sua curiosidade. Contudo, o outro sabe de quem se trata.
– Quem é aquele que aparece com o outro e você na foto de aniversário dele?
– A quem você se refere dentre as mais de quinze fotos que foram postadas?
– Deixa prá lá!… – No entanto, ela sabe de quem se trata. Afinal, já teve “algo” com o cara há alguns anos…
Para os dois, nada disso importa, realmente. Eles estão apaixonados e só tem olhos um para o outro. Os dois sabem que esse amor desdenha qualquer história pregressa. A paixão mútua os faz eternos. Não há passado e nem futuro, apenas aquele instante.
Quando voltam para casa, tornam-se racionais, refletem sobre as questões cotidianas e se confrontam com a rotina diária. Até que haja o próximo encontro, a vida fica suspensa, como se estivessem no Limbo, quase Inferno – crise de abstinência.
Ao se reencontrarem, a saudade é tamanha que não há diálogo, a não ser o dos corpos que se unem e se entregam. Naquele momento, conhecem o céu, vivem em idílio, até o momento que tenham que descer à poeira do chão batido, onde habitam os outros.
Eles nomeiam os outros de “outros”, mas sabem e já confessaram de si para si:
– Os outros somos nós…