
Em ciclos que se repetem, nós vivemos nossas precariedades íntimas ou públicas. Muitas vezes, coletivamente como ocorre no caso de doenças endêmicas. O relato a seguir completou, em março, cinco anos de seu início. E, até hoje, me afeta com repercussões maiores e menores no corpo. Assim como repercute as nossas decisões pessoais e coletivas em nosso cotidiano anos a fio.
“Hoje, estou em um quase inusitado dia de folga neste mês de março. É certo que tive uma vacância um pouco maior na semana retrasada, mas quase não conta, já que passei pelo pior período da dengue que me assolou. Vivemos uma situação de epidemia dessa doença em minha região, que fica na Zona Norte de São Paulo. De manhã, fui à UBS do meu bairro levando os exames de sorologia que comprovavam o contato com a dengue. O que fiz é o procedimento necessário para a notificação da mesma e soube, pela enfermeira que me atendeu, que já temos 180 casos relatados oficialmente por aqui.
Nunca pensei que, mesmo morando na periferia, vivesse uma situação tão precária na área da Saúde. Afinal, estamos na maior e mais rica cidade da América Latina, a de maior desenvolvimento econômico do Hemisfério Sul. Não estou aqui a acusar especificamente nenhum governo em particular. Somos todos responsáveis pela situação que ora se apresenta. Mesmo porque somos nós que elegemos os nossos representantes legislativos e executivos. E uma condição como a que passamos não se estabelece de um dia para o outro. É um longo processo que devemos saber resolver, mais cedo ou mais tarde, através da conscientização coletiva.
Neste meu dia de folga, limpei o meu quintal, verifiquei possíveis focos de reprodução de mosquitos e resolvi problemas burocráticos da minha pequena empresa. Em determinado momento, deixei de varrer para atender telefonemas, responder e-mails e comer alguma coisa. E adivinhem? Quando voltei, fiquei surpreso com o fato de que a sujeira que eu estava a varrer… continuava no mesmo lugar.
Sim! Nada acontece magicamente! Se não terminarmos nossas tarefas, elas não se resolverão por si só. Continuei a varrer-conjecturar e não deixei de lembrar que a símbolo da vassoura é muito forte para designar um movimento. Estudioso de História e Filosofia, sei que a vassoura já foi muito utilizada para se chegar ao Poder e de que qualquer boa intenção é normalmente manipulada pelos espertos de plantão.
Percebo que o efeito da simbologia sobre a consciência dos Homens é tão poderoso que os manipuladores (nem sempre os mais sábios, mas sim os mais práticos) conseguem tornar até mesmo as pessoas mais bem-pensantes em títeres na busca pelo Poder. Limpar nossas ideias de falsos pressupostos e deixar de nos envolver por sofistas é um trabalho constante.
Bem, vou continuar a varrer…”.
Sofistas são bem competentes
Sofista virou profissão. Alguns os chamam de líderes… outros, marqueteiros.
Advogados. Assessores de imprensa. publicitários. Alguns filósofos
Maridos, esposas, amigos… Rs…
Tirando os sofistas de lado, amigo, a dengue é algo que já deveria de ter sido varrido de nossas vidas e no entanto, continua aí firme e forte assolando a saúde do povo. Mas temos nossa cota de responsabilidade. Não dá para jogar a culpa apenas no governo e seus representantes. Somos cúmplices ao se calar diante do que vemos ser errado e nada fazer a não ser, lamentar.Ótimo texto para servir de reflexão. Abraço
¡Gracias, Roseli! Todos nós, como sociedade, ser no fazer nossa parte. Bacio!
Eu me lembro que, no colégio, houve um surto de alguma doença e a escola precisou passar por um processo rude de higienização. Ficamos a casa. Fui uma das poucas crianças que não adoeceu. 15 dias a casa. Eu era a única criança na calçada nesse período. Sentava-me ao lado de C., para esperar pelo mio babo. Não se ouvia a gritaria dos meninos a correr atrás da bola. Estavam todos doentes e, o mais engraçado, não me lembro do mal que os acometeu. Só me lembro da estranheza dos outros pais, inconformados por eu não ter contraído o tal vírus. E cá estamos eu, de novo, diante de nova epidemia… mais uma. A anterior, do H1N1 nem me alcançou. Não houve necessidade de me isolar na caverna…
Acho que deveríamos aprender alguma coisa. Mas, teimosos que somos, seguimos em frente, apenas.