Parti de lá, pensando em não voltar…
Sofrimento, perdas, encontros desencontrados,
beijos não dados,
desejos calados.
Foi minha casa, meu lar, meu particípio passado,
presente aberto,
futuro ameaçado.
Janelas, todas, abertas para o horizonte.
Portas, duas, sempre exploradas como entradas e saídas,
sem superstições.
Na rua pouco iluminada, gostávamos de ver estrelas
em céu de campo plano e arborizado.
Cerca branca de madeira
— cenário de filme romântico —
idealizado.
Mas as brigas ganharam peso, som e fúria.
Éramos dois sem medo de magoar,
sem desejo de cura.
Queríamos matar o amor tanto,
que nos matava.
O quarto sempre iluminado como um quadrilátero de luta.
A Lua perdendo foco, ainda que cheia, a empalidecer —
luz cada vez menor, mesmo quando crescente.
Saí, saindo, findando em mim, em si, lá…
Sem retornar fisicamente, continuo a recordá-la
de tal maneira que a carrego comigo
— uma casa inteira —
onde não mais moro,
sendo por ela habitado…
Foto por Tom Tookl