A Árvore*

Árvore que caiu durante a madrugada, em Junho de 2015, na Praça da República

Eu era uma árvore antiga
Já vira milhares de cenas
Já vivera milhares de vidas
Por cada cabeça que passou por mim
Eu me compadeci da maioria
E me perguntava: de onde vinham?
Para onde vão?
Como conseguem viver sem raízes?
Sem um lugar para chamar de chão?
Cresci forte e via propósito
Nas aves que abrigava
Na sombra que projetava
Comecei a adoecer
Quando percebi os atos desrespeitosos
O descaso com a minha saúde
As pessoas alimentando o meu solo
Com o lixo humano
Senti que não servia mais para limpar o ar
Aplacar os ruídos fortes
Filtrar o ódio que os bípedes produziam
Morri aos poucos
Galho por galho
Folha por folha
Tronco e raiz
Decidi, então, me deitar
Sem ferir ninguém
Na calada da noite
Testemunhada apenas por meus pares
Vertendo terra cor de sangue
Para ser esquartejada
E levada aos pedaços
Para jazer em partes
Longe das gentes
E seus pecados…

*Poema de 2015

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