O meu trabalho envolve certas circunstâncias especiais e uma delas é tentar ser o mais profissional possível em uma atividade que dá embasamento para a celebração da alegria e para a descontração… dos outros. Como sempre digo, meu irmão e eu trabalhamos onde os outros se divertem, o que comparo com certa especialidade médica. Desde a política do “Panis et circenses” ao tempo do Império Romano (que buscava distrair o povo para os problemas sociais de então), percebe-se que celebrar é uma poderosa maneira de dar vazão à alegria por estar vivo, comemorar um diploma, uma conquista profissional ou social, casamento, etc.
Expressar contentamento em público faz parte do modo ser da humanidade, em todos rincões do planeta. Nós, da montagem da estrutura, no nosso caso — sonorização e iluminação — chegamos antes e saímos depois. Enfrentamos condições difíceis que vão desde restrições à livre circulação por motivos de segurança ou materiais, corredores estreitos e escadarias íngremes.
Humberto e eu, somos como os feirantes, os trabalhadores de circo (outras tradições de origem antiga) ou os povos nômades, em que os acampamentos são armados por algum tempo em determinado lugar para, logo após, irmos embora. Afora registros como filmagem e fotos, quase não deixamos prova que construímos alguma coisa. Nessa conjuntura, lembranças são substâncias de apelo tão fluido quanto pessoal.
No final, quando desmontamos o acampamento e carregamos os equipamentos de nosso métier, resta-nos relaxar pelo trabalho bem cumprido e poder apreciar paisagens como a que mostro aqui, junto à Represa de Guarapiranga, onde havíamos acabado de realizar uma festa de formatura. Era um sábado, entrava o horário de verão e senti, naquele momento, que presenciava uma imagem como se fora o alvorecer do mundo. A ilusão seria mais completa se torres feitas pelas mãos dos homens não interferissem na paisagem.
*Texto de outubro de 2012
Amei essa reflexão em paralelo com o trabalho que remete desde o Império Romano. E que bela paisagem mesmo é a da foto! Mas concordo com você que seria ainda mais bela sem aqueles prédios. Muitas paisagens tem sofrido essas interferências nos últimos anos, cada vez com mais frequência, infelizmente…