Em julho de 2011, em férias da Faculdade de Educação Física, treinava quase todos os dias, mesmo que fosse em pleno inverno. Como a pia estava cheia de louça por lavar, o meu TOC fez com que me eu atrasasse para minha ida à academia.
Mãos à obra, enquanto isso assisti a um sensacional episódio de Bob Esponja, no qual ele se apaixonava pelo famoso hambúrguer de Siri que fez, a ponto de querer namorá-lo como a um ser vivo. Ao idealizar a relação, ele não percebeu que o outro nesse relacionamento era perecível, carne com prazo de validade muito curto. O objeto de sua atenção acabou por se deteriorar rapidamente, começando a exalar um mal odor ao qual todos percebiam, menos ele.
Quando se deu conta do insofismável sinal de que havia se estragado, acabou por devorá-lo. No final, é dito: “hambúrguer é para ser amado e devorado”. Tentando extrair algum tipo de mensagem, dessa forma um tanto egoísta de amar, poderíamos dizer que acabamos por consumir o nosso amor, como um palito de fósforo que, ao queimar, perderia a utilidade? Ou que ainda que não percebamos que a relação tenha acabado, queiramos continuá-la, apesar do fedor que desprende?
Filosofando, enquanto lustrava objetos exteriores, tentava fazer luzir espaços interiores, mas apenas afundava em ceticismo. Naquela época, eu me via melhor do que era ou parecia ser. Buscava alcançar a atenção de quem considerasse interessante e fazia comentários ácidos-inteligentes. Porém, suburbano até a última raiz do cabelo que se esgarçava, não era tão niilista quanto hoje sou.
Ainda assim, não acredito que devamos levar a um termo definitivo um relacionamento curto ou que perdure por “anos e nãos” de uma maneira tão brusca. Superar a aparente mesmice e a dor hedonista é uma prova de força de vontade acima do que se possa chamar de caráter resistente. É possível até que seja detectada uma espécie de dependência advinda da culpa por se viver razoavelmente bem, apesar da nulidade como homem voluntarioso. De forma contrária, terminar talvez seja prova de coragem por buscar sair da imobilidade mortífera que um amor malcheiroso exale pela perda de validade.
Eu, por mim, não desvalido quaisquer experiências de vida. Acredito que sejam como etapas que devamos transpor para continuar na viagem. Aonde se chegará? Em nenhum “lugar”, especificamente. O aprendizado é infinito. Creio em Pessoa quando diz (continua dizendo dentro de mim): “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”. Superar a si mesmo, a grande batalha.
Ameiii
Viver requer coragem.
Abraços apertados,