Desde o ano passado, tinha um sapo enterrado no meu jardim. Havia sido um trabalho tão bem feito que não conseguia encontrá-lo. Um ebó involuntário à Oxumaré*. Ele deveria estar junto à jabuticabeira, mas nem sinal do batráquio quando o busquei. O autor do trabalho fora eu mesmo. Sem querer. Coloquei terra no quadrilátero e esqueci da pequena escultura de barro. Ao tentar desenterrá-lo, a enxada usada com cuidado sequer tocou em algo parecido. Enfim, o sapo ficaria como objeto de boa sorte do jardim quando vicejasse plantas tão verdes quanto ele.
Porém, a Tânia voltou a encontrá-lo ao começar a fazer uma horta. Logo que pode, reassumiu o lugar ao lado de seu amigo que estava, desde o seu sumiço, triste e só. Não mais estarão juntos a hortaliças, pimenteiras, alho, hortelã, cebolinha… Deslocados para o jardim da frente — Yellow Brick Road Garden — ficarão estacionados no gramado no qual poderão “viver” camuflados e seguros…
*Orixá mediador entre o céu e a terra, do qual o arco-íris é uma das epifanias; dado em alguns relatos mitológicos como escravo de Xangô, que o usa para transportar água ao seu palácio celeste. Corresponde de certa forma ao vodum Dã, a força que põe a vida em movimento, cuja representação é uma serpente que morde a própria cauda.
Delícia de texto. Gosto demais de sapos e foi bom saber o significado. Ficaram lindos juntos. Bjusss procês,