BEDA / Profissão: Brasileiro

Imagem de nossa identidade pública, por autor anônimo. Cá, para mim, a chamo de “Brasileiro, uma profissão”.

À respeito do grafite que encontrei em minhas caminhadas pela região da Vila Nova Cachoerinha e que acabei por usar como foto de perfil por um tempo, escrevi: “Usamos fantasias, jogamos jogos de azar; acendemos velas para deuses cujos fiéis se digladiam; supersticiosos, rimos sarcasticamente da nossa ‘má sorte’ e empunhamos a bandeira nacional como a um estandarte de guerra!”… Ocorreu em 2011. Já identificava um comportamento dissociativo da nossa população, dividida em estamentos sociais díspares. E em que a estrutura social apresentava uma certa identificação da injustiça como linguagem comum e a normalização monolítica do ódio.

À época, eu acreditava que o investimento em Educação ajudaria a equilibrar a balança em que muitos sem nada eram governados por poucos com muito – o poder financeiro a dirigir o caminho das regalias e das faltas de grupos setorizados. Apesar de perceber a vertente que falava em tons de voz mais baixo para não ser ouvida fora de seus circuitos relacionais, aqueles que estavam transitando pelo esgoto do pensamento subjacente brasileiro não haviam ainda encontrado um canal para trazerem as suas ideias, palavras, preconceitos e vilipêndios a público.

Num movimento de fluxo e refluxo, o projeto de inclusão social acabou por sofrer um revés, muito devido aos erros de quem os dirigia. Esses desvios, deram oportunidade para que os setores descontentes com os pequenos avanços revidassem. Situações que iam de pessoas de baixa renda a terem acesso a universidades até revolta dos que se consideravam especiais em dividir aeroportos e assentos de aviões com empregadas domésticas em viagens para a Disney.

Estudante de História nos Anos 80, dei de frente com o arcabouço construído ao longo dos séculos pelo sistema de produção em que a escravização de naturais da terra, no início e, depois, de africanos, foi transformado em um negócio rentável e movimentou grandemente a riqueza do Brasil – a busca, transporte e venda de seres humanos. Das muitas justificativas dadas para tal, uma delas era de origem “piedosa”: como foram marcados com a cor escura por Deus, o sofrimento que sofriam ajudaria às suas almas alcançarem o Reino dos Céus.

Sem tanta sofisticação, o sujeito de passado conturbado nas hostes militares, se lançou candidato à vereador no Rio de Janeiro e, graças à votação obtida em redutos milicianos, percebeu que poderia levar a sua voz monocórdica que extravasa ódio e repulsa aos diferentes, à mulher, aos pretos, aos desejosos de uma mudança na estrutura social que penaliza a maior parte da população a viver em condições precárias.

O Ignominioso Miliciano, fascinado desde os tempos de militar por minérios como ouro e diamantes, usando seu tempo de férias em garimpos atrás de metais preciosos. É até singular que após cumprir um percurso em que poderia ser acusado de crimes maiores como Genocídio por sua política intencionalmente desastrosa que vitimou percentualmente um dos maiores números de vítimas de Covid-19 na Pandemia e incentivar a invasão das reservas indígenas para arrancar ouro, agora possa cair em desgraça no caso das joias do Oriente Médio e ser finalmente preso. Principalmente quando se houver, como parece, vinculação à venda da Refinaria Landulpho Alves, na Bahia. para a Mubadala Capital, um fundo de investimentos de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. (Fonte: Agência Senado). As joias, nesse caso, seriam uma espécie de propina pela venda a um pouco mais da metade do valor do que valia para os árabes.

Simbólico, não?

Texto participante de BEDA: Blog Every Day August

Denise Gals Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Lunna Guedes / Bob F / Suzana Martins Cláudia Leonardi

5 thoughts on “BEDA / Profissão: Brasileiro

  1. É um país jovem que estranhamente insiste em se apoiar nos erros cometidos por outros. Mário tinha razão, o passado é para espiar, não para repetir. Enfim…

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