FANTASMAS

não lembro não era não entendo quem fui
não tenho permissão para ver
descaminho por aí passado a limpo
descompassado nas trilhas do limbo
são íngremes ladeiras deserdadas beiras
quanto mais subo mais desço
para o vale dos paralelepípedos das lamentações
de tristezas e de desalentos
as ruas desatentas de seus transeuntes
enquanto anjos vingadores de cinza armados
observam pares trios quartetos de deserdados
deitados em papelões em posição fetal
quando abrirem olhos voltarão ao deserto de seus corpos
desabastecidos de vibração dementados
somos um grupo unidos na perdição
nem sei quando foi a última vez que chorei
porque me vou sem querer desperdiçar
qualquer coisa do meu poder de não sentir
moo minhas emoções chove chovo lavo
meu odor de urina fezes rotas roupas
sou um ninguém entre tantos todos
nulidades ausências pouco peso ignorados
vivemos para abastecer a morte em vida
somos como recados dados aos passantes
apesar de seus calçados é um povo a tudo alheio
à nossa presença dedicada em demonstrar
que tudo é passageiro não temos
ponto final apenas esvaímos
tênues seres feitos fantasmas…



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