
Sem mais nenhuma ilusão ideológica para chamar de minha, ainda tento manter sentimentos otimistas com relação à sociedade brasileira. Mas ver avançar a agressão de homens às mulheres, em todos níveis sociais, me entristece profundamente. Eu sempre fui feminista. Ou por amar as mulheres e tentar entendê-las, me considero feminista. Defendo suas causas, quero ouvir suas vozes, me solidarizo com o sofrimento que via e vejo de perto na Periferia – mães que trabalham e cuidam da casa sem companheiros, seus filhos sem pais – fui um deles.
Ao longo do tempo, apesar da autoavaliação favorável, percebi que dentro de mim ainda encontro resquícios do Machismo sob o qual foi formada a sociedade brasileira patriarcal. É difícil escapar a paradigmas que impregnam cada trama do tecido com o qual vestimos nossos corpos mentais. Volta e meia, me pego vagando entre conceitos e preconceitos, não apenas com relação às mulheres assim como a outras “minorias” – designação estranha para definir grupos numerosos, porém distantes do poder de expressão.
Tenho tentado reavaliar a concepção do Machismo sob uma nova ótica, que valorize o homem como coparticipante da cidadania, diferente daquela que preconiza sua propalada supremacia sobre a mulher. Porém, para a maioria dos machos, o Feminismo é considerado um ataque frontal à sua posição de governante supremo. Uma tentativa de inverter a dinâmica natural das relações humanas.
De outra parte, o Feminismo é visto com desconfiança por muitas mulheres, sendo comum observá-las tecendo críticas àquelas que protagonizam movimentos-ações que buscam elevá-las no concerto social. De muitas formas, se apropriam de perfis machistas para isso – sugerem que sejam ações não femininas, como se fosse um critério que desvalidasse a luta pela igualdade. Percebo a alegria de muitos homens ao testemunharem mulheres a competirem entre si. Alguns, se não apostam, contribuem ativamente para que isso ocorra. Em suas bocas, caberia perfeitamente a máxima de César: “Dividir para conquistar”. Ainda ouço reverberar em meus ouvidos a voz de meu pai: “O pior inimigo de uma mulher é outra mulher…”.
O que muitos homens e mulheres não entendem é que o Machismo bebe da mesma fonte que gera a dominação de umas pessoas sobre as outras, ao considerarem como inferiores os diferentes – fora do padrão – por religião, ideologia, moda ou construção social. Muitos, se comprazem em compensar a humilhação que sofrem por parte dos “superiores” ao agredirem outros em situação de fraqueza em relação a si. De fato, alguns “peões” se sentem soberanos ao prejudicarem um igual, muitas vezes agindo de forma mais “realista” e cruel que o próprio “Rei”.
A percepção do quanto nos sentimos desgovernados, fica evidente ao vermos uma tempestade se aproximar no horizonte, montada por um Cavaleiro do Apocalipse, recebido com amplo apoio de setores que ele já demonstrou menosprezar, somada a mal-informação-bem-formada. Esse representante do vazio democrático, arroga que governará nosso País à base da bala e da violência. Faz declarações porco-chauvinistas – o termo é antigo, mas as ideias relativas a ele parecem se renovar – olha, com desdém às mulheres, extra gêneros, negros e despossuídos como passíveis de se sentirem acuados por suas condições pessoais especiais.
Parece que o mundo está a dar voltas para trás, como quando o Super-Homem voou à velocidade da luz em sentido contrário à rotação da Terra para fazer voltar o tempo… Licença poética que se justifica apenas na ficção. Caso realmente acontecesse, tal movimento causaria a destruição da vida no planeta. Internamente, alguma força, talvez nascida no âmago dos seres ordinários que somos, está a causar o fenômeno de reversão – uma pobre contrarrevolução – associada a uma translação em torno de um sol sem brilho. Vivemos tempos sombrios…
Ser empático às classes, generos, e às universais ‘culturalidades’, é ser humano. Ótimo texto👏👏
Obrigado, Raul! Humano é errar. Aí, eu sou demais! Rs…
Boa! Errar é um mano rs
Depois de ler todo o texto parei no filme da década de oitenta e na figura do homem de outro planeta que interfere nos ciclos da terra porque sua dama, figura muito maior que ele, se foi. Não gostei dessa cena e passei a detestar a figura do super man por achar um absurdo a audácia dele em alterar ciclos por ele.
Só voltei a assistir o superman na década de noventa… quando me falaram do seriado e mencionaram Teri Hatcher. Adorei. Era uma versão mais humanizada do criptoniano. Também gostei da da Mulher Gato de Michele Pfifer a encarar-enfrentar o Batman e seus brinquedos no filme. Adoro personagens femininas nas telas, nas páginas. Elas me lembram do quanto é possível se impor num mundo de homens sem precisar usar do mais conhecido argumento-linguagem dos homens.
Mas reconheço que é preciso-necessário existir feministas, para fazer barulho-algazarra porque o homem não e acostumado ao diálogo, ao debate, é acostumado ao grito, a guerra, ao confronto. Então, às vezes, é preciso demonstrar que podemos nivelar, ainda que seja por baixo. rá
Eu prefiro um mundo de iguais feminino e masculino) respeitando obviamente as diferentes que nos aproximam e distanciam. Mas é utópico e acho que a maioria prefere a contramão disso.
bacio
A guerra entre os sexos parece satisfazer boa parte de figurantes de um lado e de outro dos dois grupos – machistas e feministas. No entanto, não vejo como, em muitas situações, não haver confronto nos casos de injustiça social causada pela sustentação do patriarcado, Lunna.